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19/05/2002 - 03h31

Arte de dublar é um ofício pouco valorizado no Brasil

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PALOMA VARÓN
da Folha de S.Paulo

Você já parou para pensar em quem faz a voz do seu personagem favorito de filmes e seriados? "Geralmente as pessoas só prestam atenção na dublagem quando ela é mal feita", afirma Gutemberg Barros, 32, que dubla o comandante Harmon, da série "JAG", e dirige a dublagem de "Jornada nas Estrelas", ambas do canal pago USA. Um exemplo disso é o quadro "Fucker & Sucker", do humorístico "Casseta & Planeta" (Globo), que satiriza a dublagem das séries americanas. Nos esquetes, não há sincronicidade nenhuma entre a voz e o movimento da boca dos atores. "Eu fico triste quando vejo uma dublagem ruim. Como todo mundo, não gosto de assistir a um filme mal dublado; fico chateado quando um colega erra", diz Barros, cujo desafio em casa é se desligar da dublagem e apreciar os filmes.

Na maioria das vezes, o trabalho dos dubladores é pouco reconhecido. Geisa Vidal, 55, que trabalha há dez anos como dubladora, diz que é comum chegar ao estúdio sem saber qual o seu personagem e sobre o que é o filme. "Infelizmente o nosso tempo é curto e a gente não faz uma preparação. É tudo na hora", conta ela, que dubla a capitã Janeway na série "Voyager", do USA, e é a voz habitual da atriz Geraldine Chaplin no Brasil. Além disso, Vidal costuma alugar suas cordas vocais para atrizes como Diane Keaton, Jude Dench e Emma Thompson. Mas há quem reconheça a importância dos profissionais da dublagem.

O canal USA exibe, nos intervalos de sua programação, entrevistas com os dubladores de suas principais séries. Lá, eles contam um pouco do trabalho e falam do personagem que dublam.

Dificuldades O dublador Márcio Seixas tem 56 anos e 28 de profissão. Ele já foi contratado das principais empresas de dublagem, como a Herbert Richers e a VTI, mas hoje trabalha como free-lancer. Com anos de experiência, Seixas também reclama das condições de trabalho. "Dublar não é fácil como parece. A gente precisa ter uma boa leitura e um bom texto, o que raramente acontece, pois as traduções costumam ser muito malfeitas. Com raras exceções, os estúdios não estão preocupados com a qualidade da tradução, o que influi na da dublagem", diz ele, que faz a voz de atores como Clint Eastwood, Morgan Freeman e Dennis Quaid no Brasil. Ricardo Juarez, 32, dublador do personagem Johnny Bravo, do desenho animado homônimo do Cartoon, concorda. "A tradução, na maioria das vezes, é literal demais. A gente recebe frases que não fazem sentido. Eu tenho que refazer muita coisa na hora de dublar", conta. Ele diz que acaba aproveitando as falhas de tradução para criar em cima do texto. "No caso do Johnny Bravo, eu adaptei as gírias e o modo de falar para um jeito brasileiro. Mexo no texto em 85% das vezes", afirma.

O dublador Guilherme Briggs, 31, dará voz ao Super-Homem da animação "Liga da Justiça", que vai estrear no dia 1º de junho no Cartoon. Ele já fez a voz do herói no seriado "Lois & Clark". "Geralmente os estúdios querem uma só voz para o mesmo personagem", conta. A voz do Batman de "Liga da Justiça" será de seu colega Seixas. "Eu adoro dublar desenhos. São os meus preferidos. É legal porque a gente cria em cima", diz Gutemberg, que começou a carreira dando voz a personagens sem expressão. Até pegar um protagonista, os dubladores precisam dublar muitos personagens que não têm nem nome. "Como em toda profissão, o começo é difícil. Você dubla aquele personagem que está de costas, fora de foco, até ir pegando papéis melhores", afirma Juarez. Com o passar dos anos, como no caso de Seixas, a voz passa a ser reconhecida até na rua. "Muita gente me aborda e diz que acha que me conhece de algum lugar, mas, na verdade, reconhece é a minha voz", diz ele, que ficou constrangido quando um homem o abordou e ficou relembrando um time de personagens e atores dublados por ele.

Etapas Na dublagem de um filme ou um episódio de seriado, há várias etapas. Primeiro, o trecho do filme é projetado na tela para que o dublador possa ver a cena que irá dublar. Depois, ele lê o texto a ser dito e vê se será preciso fazer alguma modificação. O filme pára e, quando volta a rodar, o dublador tenta fazer com que a sua fala se encaixe no movimento da boca do personagem, respeitando a respiração e a entonação do ator.

Um dublador profissional ganha cerca de R$ 35 por hora de dublagem. Para se dublar um longa-metragem inteiro, quase sempre são necessários dois dias ou quatro turnos de seis horas. E, para ser dublador, é preciso ter registro de ator.

Segundo Gutemberg Barros, o valor total do custo da dublagem de um longa varia bastante, de acordo com o número de atores e fatores comerciais, mas fica em torno de R$ 4.000, sem contar a mixagem das vozes e a edição de som (ruídos e músicas).
 

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