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20/05/2002 - 03h23

"24 Hour Party People" revive cena de Manchester

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ALCINO LEITE NETO
enviado especial a Cannes

A linguagem da televisão é o fundamento cinematográfico de "24 Hour Party People", do diretor inglês Michael Winterbotton. Ela também está presente, como base de expressão, no importante documentário do americano Michael Moore, "Bowling for Columbine", sobre a venda de armas nos EUA. Os dois filmes participam da mostra competitiva do Festival de Cannes.

Com uma excelente fotografia de Robby Mueller, que trabalhou com Wim Wenders e Lars von Trier, "24 Hour" recorre a vários estilos televisivos para contar a explosão da cena musical em Manchester, nos anos 80.

Filma duas décadas da vida do apresentador de TV Tony Wilson, que se tornou o produtor dos grupos de rock Joy Division, New Order e Happy Mondays, além do criador do selo musical Factory Records e do clube Haçienda.

Não apenas o período temporal da narrativa é enorme, mas também a história é real e a maioria dos seus personagens ainda está viva. Recriar os primeiros shows do Joy Division não é coisa fácil. Fora isso, os fatos são muito característicos de uma situação inteira da Inglaterra, quando a música popular do país explode entre os resíduos das mudanças neoliberais da era Thatcher.

Tudo isso o diretor consegue comprimir em "24 Hour", menos sob a influência de "Cidadão Kane" e mais da BBC, a rede de TV inglesa. Realizado com câmera digital, o filme mescla as formas do documentário, dos programas de humor e do jornalismo televisivo numa forma paródica e engenhosa, que resulta num verdadeiro "tour de force".

O próprio Wilson (interpretado por Steve Coogan) é o narrador, o que garante a coesão do conjunto. Sua presença em cena, por vezes excessiva, é amenizada pela auto-ironia. O filme avança bastante do ponto de vista dramático quando deixa os outros personagens expandirem sua presença.

O contraponto de Wilson, uma espécie de libertário da música no mundo do showbusiness, é o compositor e vocalista do Joy Division, Ian Curtis (Sean Harris), um neo-romântico que se suicida aos 24 anos. Os dois são uma espécie de "heróis" que enfrentam com a música a mediocridade do seu mundo.

"Bowling for Columbine", de Michael Moore, é um dos concorrentes de Cannes que mais estão cativando o público e a crítica. É o primeiro documentário que concorre no festival em 46 anos.

Feito originalmente para a TV, sua força jornalística e a veemência dos argumentos deixam a platéia entusiasmada. A maneira lúcida com que contrapõe fatos, idéias e depoimentos é uma fonte contínua de surpresas.

Moore, que é o próprio "repórter" do documentário, investiga não o "como", mas o "por quê" de tragédias ocorridas no país nos últimos anos -como o atentado de Oklahoma, em 1995, e o da escola Columbine (13 estudantes mortos por 2 colegas), em 1999.

E ele tem uma resposta parcial: a venda de armas é livre no país, fundamentada na Constituição. Essa razão norteia o filme, mas, não sendo suficiente, começa a desdobrar outros problemas: a violência da sociedade americana, o racismo, o consumismo, o imperialismo. Numa sequência provocativa ele enumera todos as intervenções americanas em outros países e as suas vítimas civis.


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