Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/05/2002 - 03h44

Mostra em São Paulo reúne 15 peças curtas inéditas

Publicidade

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Gavetas e computadores perderam o monopólio das peças teatrais. A atual produção dramatúrgica do país chega com mais frequência aos palcos e auditórios, em leituras ou montagens.

A Mostra de Dramaturgia Contemporânea, que começa no dia 30 no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, é representativa do espaço que autores, hoje na casa dos 30 ou 40 anos, conquistaram a partir de meados dos anos 90.

Liderado por Renato Borghi, o Núcleo Teatro Promíscuo levará ao palco 15 peças curtas inéditas, uma delas escrita em dupla, que serão encenadas por 13 diretores.

Os dramaturgos são: Aimar Labaki, Alberto Guzik, Bosco Brasil, Dionisio Neto, Fernando Bonassi, Hugo Possolo, Leonardo Alckmin, Marcelo Rubens Paiva, Marici Salomão, Mário Bortolotto, Newton Moreno, Otavio Frias Filho, Pedro Vicente, Samir Yazbek, Sergio Salvia Coelho e Victor Navas.

A crise da dramaturgia brasileira, repisada sobretudo no hiato das mortes de Nelson Rodrigues (1912-80) e Plínio Marcos (1935-99), não reverbera nos dias que correm. Pelo menos é o que se apreende do pensamento de Borghi, 65, um dos criadores do grupo Oficina em 58. "Existe produção de qualidade na nova dramaturgia contemporânea. Ela se manifesta de forma variada, não obedece a padrões tradicionais e tem liberdade para fruir a inteligência e a sensibilidade do autor."

Apesar do império da diversidade, ele identifica uma perspectiva urbana nos textos. Não por acaso, a maioria dos autores mora em São Paulo, cidade que atravessa uma efervescência da escrita teatral, nas palavras de Yazbek.

Há projetos em andamento no Ágora, no Centro de Pesquisa Teatral do Sesc, no teatro X, na sede paulistana do Centro Cultural Banco do Brasil e na Sociedade Lítero-Dramática Gastão Tojeiro. Na Folha, o projeto Leituras de Teatro acontece no auditório desde 1996. Na região do ABC, a Escola Livre de Teatro de Santo André é outra referência.

Para Yazbek, 34, de "O Fingidor" (99), seria prematuro colocar o projeto do Promíscuo no escaninho de movimentos equivalentes, por exemplo, ao Seminário de Dramaturgia do Arena, do final dos anos 50, determinante na trajetória de Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri, Jorge Andrade e Augusto Boal.

"Acho mais prudente aguardar para conferir a representatividade dos projetos que acontecem em São Paulo ou em outros Estados, o grau de importância que irão adquirir", afirma Yazbek. De antemão, porém, não esconde seu entusiasmo com o momento.

Rio e Salvador também se voltam para a dramaturgia. Recentemente, Roberto Alvim, Luciana Borghi, Domingos Oliveira e Casa da Gávea catalisaram iniciativas na cena carioca. Além de São Paulo, a capital baiana, por meio do teatro Vila Velha, foi escolhida para intercâmbio que o Royal Court Theatre, centro inglês dedicado à dramaturgia contemporânea, tem com o Brasil desde 2000.

Borghi diz que deixou os dramaturgos livres para o tema. "Ao escrever sobre o que quisessem, o que sentissem, eles intuíram e captaram o que interessa aos artistas e à platéia: um certo sentimento de mundo um tanto nebuloso, impossível de precisar claramente, mas reflexo dos valores e conceitos que mudaram dos anos 90 para cá", afirma.

Pedro Vicente, de "Promisquidade" (97), se autodefine como "um pedreiro do inconsciente coletivo" diante da realidade "pungente" com a qual dialoga. "Eu, Bortolotto e Dionisio, por exemplo, surgimos sem aquele perfil careta lítero-dramático. Botamos para quebrar e agradamos até ao público que não gosta de teatro. Temos uma formação fora da cultura teatral e grande influência do cinema", situa Vicente, 35.

Bortolotto, 39, partilha a idéia de que a "ditadura dos diretores" acabou nos anos 80, daí a abertura de canais para novos dramaturgos, ainda que ele assine a maioria das montagens de seus textos.

Silvia Fernandes, 49, professora de história do teatro na Universidade de São Paulo e uma das participantes dos debates que acontecerão paralelamente às peças da mostra no Sesi, concorda com "a formalização estética, o teatro da cena" que teria vigorado nos 80.

"No momento, e não só no Brasil, há uma certa militância dramatúrgica voltada para as questões sociais, para a mobilização política em todos os níveis."

A conjugação com a retomada do teatro de grupo, para além do bem-sucedido movimento paulistano Arte contra a Barbárie (por uma política pública para o teatro), lançado em 99, reforça a construção de uma dramaturgia em processo colaborativo.

O texto nasce da interação de dramaturgo, diretor e atores, sem que haja perda de autonomia. Citam-se os espetáculos "Apocalipse 1,11" (do Teatro da Vertigem, criado em 99) e "Hysteria", do Grupo XIX de Teatro.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página