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22/05/2002 - 03h26

Coluna de Erika Palomino comemora 10 anos

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MARCELO RUBENS PAIVA
da Folha de S. Paulo

Quando há dez anos a jornalista Erika Palomino, 34 -uma ex-bailarina profissional carioca que frequentava o Papagaio's Disco Club de meias lurex e cabelos frisados e sabia de cor as músicas de Donna Summer-, começou a sua coluna "Noite Ilustrada", alguns se indignaram.

No momento em que o país vivia um rebuliço intenso, o impeachment de Collor, o jornal abria espaço para uma cultura clubber importada de Londres que cabia numa Kombi.

O tal mundinho [e o seu combustível, a música eletrônica] realmente nasceu pequeno, no Madame Satã, casa que viu o fim do movimento punk, pulou para uma casa da rua Augusta, Nation, e se espremeu no Massivo, um sobrado apertado dos Jardins. No entanto, ele brotava escondido nas casas gays de São Paulo e, depois, a ferveção comeu solta no Sra.
Krawitz, Hell's e se profissionalizou, expandindo-se até por boates da Franz Schubert, como Biosfera e Limelight. O mundinho virava mundão.

Erika afirma que foi a partir de 1996 que as expressões da noite [e de sua coluna], como "basfond", pularam as cercas do underground: "A cena clubber já faz parte da vida das pessoas, não é mais assuntinho. Agora, está em todo lugar". Ela foi uma visionária e pagou um preço. Sua coluna é como polaróides. Seu fundamento, o MMC: moda, música e comportamento.
Por dar destaque ao movimento gay e colocar a foto de uma drag, Márcia Pantera, logo na terceira semana, ela recebeu cartas de leitores reclamando da difusão do homossexualismo. "Eu era mais ou menos patrulhada. Mas, para mim, tudo aquilo era tão espontâneo, legítimo e natural, eu nem percebia que escrevia de um jeito diferente."

Ela conta que até entre alguns jornalistas sentia um clima desfavorável, para quem o termo clubber servia para pejorativamente apontar os jovens fúteis e alienados, revivendo antiga mania de tachar aqueles que fugiam de um certo padrão de rebeldia. "Achavam que eu escrevia sobre um modismo internacional, que estava sendo macaqueada. Outros achavam que [a cena" não iria durar. Mas a noite estava forte."

Uma mensagem subliminar se desenhava: são tempos conservadores, culpam-se os excessos, acusam-nos pela criação da Aids, nossa resposta é "não vamos parar". Nas entrelinhas de sua coluna, havia um movimento político que lutava contra a intolerância e propunha uma nova forma de se manifestar dançando extravagantemente em festas.

Erika lembra que começou a coluna diferenciando o roteiro gay do "straight". Com o tempo, derrubou esse muro: "A militância gay era natural, não uma preocupação. Eu acreditava na explosão do movimento, mas não imaginava a dimensão. A coluna servia para frisar uma geração X, que não tem cara e curte música sem letra, sem manifesto".

E por que a onda que nasceu no Reino Unido arrebentou tão forte em praias do Brasil? "Os brasileiros adoram dançar, são supermusicais. Toca uma música, a gente vai atrás. Carnaval não é assim? O brasileiro tem paixão por música, dança e sexo. E a cena aqui é mais legal do que a de Londres, porque as pessoas aqui são mais legais."
Parabéns, Erika, a musa do babado.

 

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