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30/05/2002 - 04h16

"Onde a Terra Acaba" aborda o enigma Mário Peixoto

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

A partir do "claro enigma" cinematográfico que é Mário Peixoto (1908-92), cineasta de um filme só ("Limite", 1931), Sérgio Machado, 34, construiu "Onde a Terra Acaba", documentário que estréia hoje no Rio e em São Paulo.

Filme-homenagem, "Onde a Terra Acaba" toma de empréstimo o nome do segundo projeto de longa-metragem que Peixoto começou a realizar e cujas filmagens abandonou antes do fim, na sequência de uma série de desentendimentos com a estrela e produtora do título, Carmen Santos.

Assistir a "Limite" na adolescência, ainda que numa "sessão horrorosa" e com o filme projetado em velocidade inadequada (a 24 quadros por segundo, e não nos 16 quadros por segundo que eram o padrão na época de sua realização), transformou-se numa experiência definitiva para Machado.

O documentarista diz que nunca pretendeu camuflar a admiração por Peixoto, cuja importância "na história do cinema mundial" ele considera "ainda não devidamente reconhecida".

Olhar apaixonado
"Passei umas boas madrugadas pensando em que tipo de aproximação teria desse cara que nem conheci. Resolvi, num determinado momento, que não precisava violentar aquilo que tinha sentido aos 17 anos. Por que devo fazer um documentário objetivo, se a minha relação com o cinema é apaixonada? Não consigo entender por que algumas pessoas acham que esse olhar distante, de quem se esforça para ser isento, é mais revelador do que um olhar apaixonado", diz.

O documentário reconstitui parte da biografia de Peixoto e traz cenas de "Limite" e do inconcluso "Onde a Terra Acaba". A compilação do material foi feita em dois anos de pesquisas no Arquivo Mário Peixoto, depositado na mesma Videofilmes que produziu o longa de Machado. Houve também uma importante doação de gravações sobre e com Peixoto, pelo cineasta Ruy Solberg.

"É um caso raro de documentário de compilação em que quase tudo o que devia ser compilado já estava reunido num arquivo estupidamente bem organizado. O que senti diante de material tão rico e tão bom foi a preocupação de não conseguir fazer um filme à altura de sua beleza", diz Machado.

Hipóteses
À parte a reconstituição factual de vida e obra de Peixoto, "Onde a Terra Acaba" procura lançar ao menos duas questões sobre a essência da criação cinematográfica e a estética do cinema, tomada numa perspectiva histórica.

Entrevistado, o cineasta Cacá Diegues diz que "Limite" permanece como uma possibilidade abortada na história do cinema. O filme apontaria para uma ruptura estética interrompida com o advento do cinema sonoro.

De Nelson Pereira dos Santos parte a outra hipótese: "Limite" é uma obra-prima engendrada por suas peculiares condições de produção -um jovem talentoso pôde trabalhar em obediência exclusiva ao seu impulso criativo. "Limite" foi realizado numa fazenda da família de Peixoto, com apoio financeiro do pai do cineasta.

Há também um paradoxo interno na realização de "Onde a Terra Acaba". Trata-se de homenagem a um expoente do cinema não-linear, feita por um adepto da tradição narrativa do cinema. "Nunca tive desejo de fazer nada muito experimental. Minha paixão pelo cinema está relacionada à possibilidade de contar uma história. Sou apaixonado pela narração. Curiosamente, sou também apaixonado por um filme que não é narrativo", afirma Machado.

"Limite", que nunca foi exibido em circuito comercial, tem lançamento previsto para o final de junho no país. A Videofilmes e a Funarte obtiveram patrocínio da Brasil Telecom para recuperar e duplicar cópias de "Limite", além de adaptá-lo ao formato atual de exibição cinematográfica.


Leia a nossa opinião sobre o filme na Crítica Online
 

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