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31/05/2002 - 03h59

Pernambuco troca a parabólica pelas fibras óticas

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DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Passada a primeira onda do chamado manguebeat, que deu visibilidade mundial a nomes como Chico Science, da Nação Zumbi, e Fred 04, do Mundo Livre S/A, a imagem-símbolo de uma antena parabólica enfiada na lama está sendo atualizada por um grupo de DJs, músicos, jornalistas, professores e produtores culturais do Recife. No lugar do imenso e desajeitado disco prateado, entram agora fibras óticas, cabos submarinos, microondas e células de telefonia móvel.

O projeto Re:Combo, sediado no pólo de informática da capital pernambucana, o Porto Digital, teve início há menos de dois meses com a transmissão do primeiro "Chamado para Ruídos" pela internet.

"Foi uma brincadeira em cima dos "Call for Papers" do mundo acadêmico, que avisam o público que está aberta a temporada de envio de artigos para congressos", explica H.D. Mabuse, um dos idealizadores.

Todos os ruídos -ou samples- coletados foram então recombinados durante uma série de apresentações ao vivo do grupo, no último Abril Pro Rock, em Recife.

Além dos dados digitais, retrabalhados usando softwares simples de edição disponíveis gratuitamente na internet, as faixas receberam a adição de guitarras e de vocais e se transformaram no primeiro CD-R (com tiragem limitada) do Re:Combo, batizado informalmente de "Dragão Chinês".

Também disponibilizadas no site do projeto, as músicas -construídas em cima de remixes que vão do veterano Jackson do Pandeiro a novos nomes da cena do NE como Chico Corrêa e Mombojó- são produzidas numa espécie de código aberto, em que é possível a qualquer um baixá-las para seu computador e refazê-las.

"Essa colaboração rende frutos bastante interessantes justamente porque não é uma atividade unilateral, mas sim de produção descentralizada e generosa", afirma.

Introduz-se aí o conceito de "memes", emprestado do etólogo Richard Dawkins, autor do livro "O Gene Egoísta". Mistura de ficção científica e teoria da evolução, os "memes" funcionariam como os códigos de DNA, passados de uma célula a outra numa espécie de luta pela sobrevivência.

De volta ao mangue: "O que se conhece hoje como Movimento Mangue foi, no seu nascimento, o conjunto dos "memes" que passavam pelas cabeças de seus hospedeiros (pessoas) no início da década de 1990: manguezais, biodiversidade, teoria do caos, ácido lisérgico, batuques & samplers, quadrinhos & cordéis.

Hoje o sistema formado por esses "memes" (...) parasitou a mente de inúmeros jovens pela cidade, fugindo ao controle do núcleo produtor dessas idéias", defende o coletivo em um de seus manifestos.

E, por fim, do mangue à maior batalha da indústria fonográfica de hoje: "Nós somos simpatizantes do copyleft. Com ferramentas libertadoras como a web e o som digital, a música passa a fluir livremente de um lugar a outro sem estar armazenada num disco de plástico.

Ou, por outro lado, cada vez mais pessoas no mundo podem guardar música num disco de plástico com a mesma qualidade dos discos de plástico lançados pela grande indústria", opina DJ Tarzan, outro integrante do Re:Combo.

"Os artistas, exceto os best-sellers, nunca conseguiram uma geração de renda satisfatória que fosse proveniente de direitos autorais. O mecanismo de copyright acaba fazendo com que eles sejam menos conhecidos do público pela limitação imposta à circulação livre de seus trabalhos."
Mais do projeto em www.manguebit.com.br/recombo.

 

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