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25/06/2002
-
02h37
VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo
Velório é matéria corrente na dramaturgia tragicômica. Ao redor de um caixão, viúvas ou filhos rendem frases lapidares -que o diga Nelson Rodrigues.
Em "Vestir o Pai", cartaz de hoje no ciclo "Leituras de Teatro", no auditório da Folha, o paulistano Mário Viana não elege o defunto, mas um velho moribundo, personagem oculto da peça sobre a assepsia sentimental de uma família de classe média.
Paulo Autran dirige a leitura do texto que flagra dona Alzira (Karin Rodrigues) às voltas com a roupa que melhor assentará no marido quando este morrer.
Os filhos também opinam com naturalidade sobre a combinação de terno, camisa, gravata e meia no ataúde. O gerente de bar Júnior (Dan Stulbach) e a bancária Regina (Leona Cavalli) não se condoem pela morte iminente.
Diálogos que seguem versam sobre a barganha para a venda da casa, o que propiciaria sonhado pé-de-meia da filha (para viajar para a Europa) e do caçula (tornar-se sócio de um bar).
Em meio ao revezamento para os cuidados do pai, que agoniza no quartinho, preso ao tubo de soro e dependente de limpeza constante, mãe e filho desfiam lembranças que dão a medida da qualidade das relações.
Não bastasse as traições do pai, vem à tona um filho bastardo. Súbito, a mãe ameaça rebelar-se contra os 40 anos da farsa do casamento, ela que fez tudo pelos filhos, pela casa, a ladainha de praxe, e agora está ali, velando o definhamento daquele com quem dividiu a cama -não só ela, descobre depois.
Os filhos igualmente lamentam a vida que levam. Regina é frustrada por amar um homem casado, reprodução do modelo paterno. A baixa estima domina Júnior, que não se dá bem nos negócios e tampouco nos namoros.
"É a história de uma gente que não veio fazer nada na vida, passa em branco por causa dos grandes "desfeitos" e ainda alimenta uma perversa aparência de laços de carinho", afirma Viana.
Escrita há quatro anos, burilada vez ou outra, premiada em concursos de São Paulo e Porto Alegre, "Vestir o Pai" traz certo tom escatológico que Viana aprofundaria em "Pantagruel" (2001).
A leitura acontece às 20h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, SP, entrada franca). Os interessados devem fazer reserva, das 14h às 17h, pelo tel. 0/xx/11/3224-3473.
Peça de Mário Viana desata falsos laços familiares
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da Folha de S.Paulo
Velório é matéria corrente na dramaturgia tragicômica. Ao redor de um caixão, viúvas ou filhos rendem frases lapidares -que o diga Nelson Rodrigues.
Em "Vestir o Pai", cartaz de hoje no ciclo "Leituras de Teatro", no auditório da Folha, o paulistano Mário Viana não elege o defunto, mas um velho moribundo, personagem oculto da peça sobre a assepsia sentimental de uma família de classe média.
Paulo Autran dirige a leitura do texto que flagra dona Alzira (Karin Rodrigues) às voltas com a roupa que melhor assentará no marido quando este morrer.
Os filhos também opinam com naturalidade sobre a combinação de terno, camisa, gravata e meia no ataúde. O gerente de bar Júnior (Dan Stulbach) e a bancária Regina (Leona Cavalli) não se condoem pela morte iminente.
Diálogos que seguem versam sobre a barganha para a venda da casa, o que propiciaria sonhado pé-de-meia da filha (para viajar para a Europa) e do caçula (tornar-se sócio de um bar).
Em meio ao revezamento para os cuidados do pai, que agoniza no quartinho, preso ao tubo de soro e dependente de limpeza constante, mãe e filho desfiam lembranças que dão a medida da qualidade das relações.
Não bastasse as traições do pai, vem à tona um filho bastardo. Súbito, a mãe ameaça rebelar-se contra os 40 anos da farsa do casamento, ela que fez tudo pelos filhos, pela casa, a ladainha de praxe, e agora está ali, velando o definhamento daquele com quem dividiu a cama -não só ela, descobre depois.
Os filhos igualmente lamentam a vida que levam. Regina é frustrada por amar um homem casado, reprodução do modelo paterno. A baixa estima domina Júnior, que não se dá bem nos negócios e tampouco nos namoros.
"É a história de uma gente que não veio fazer nada na vida, passa em branco por causa dos grandes "desfeitos" e ainda alimenta uma perversa aparência de laços de carinho", afirma Viana.
Escrita há quatro anos, burilada vez ou outra, premiada em concursos de São Paulo e Porto Alegre, "Vestir o Pai" traz certo tom escatológico que Viana aprofundaria em "Pantagruel" (2001).
A leitura acontece às 20h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, SP, entrada franca). Os interessados devem fazer reserva, das 14h às 17h, pelo tel. 0/xx/11/3224-3473.
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