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28/06/2002 - 05h00

"Estamos sendo xingados", diz presidente de associação de discos

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

"Nós estamos sendo xingados de ladrões pela lei." Esta é a reação tardia do presidente da gravadora Abril Music e diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) Marcos Maynard à aprovação, no Senado, do projeto de lei da deputada Tânia Soares (PC do B-SE) que propõe a numeração de obras autorais como discos e livros para controlar a relação entre criadores, produtores e fabricantes de cultura.

"O texto, além de analfabeto, diz que as fraudes são rotina. Nos chama de ladrões sem provas. É um decreto mentiroso, que afirma que nos Estados Unidos as obras são numeradas. Não são.

Os senadores e Fernando Henrique Cardoso não conhecem o teor da história, não leram esse projeto", esbraveja, referindo-se à promessa que FHC teria feito a artistas, de sancionar rapidamente a lei.
A ABPD não quis até agora se manifestar oficialmente sobre a aprovação.

Embora exaltado, o diretor Maynard afirma que as gravadoras não estão preocupadas com o tumulto em torno do tema: "Tumultuada é a Copa do Mundo. O resto faz parte da vida".

Maynard explica por que a indústria demorou a perceber que o projeto tramitava rapidamente.

"Nunca pensamos que essa coisa fosse ser levada a sério, mas foi, num momento em que não se sabe nem quem vai ser o presidente, nem quem vai ganhar a Copa. Teremos que avisar a FHC que acabaram de destruir a música brasileira. Seremos como a República Dominicana e a Rússia, onde nem existe mais gravadora, tudo é pirata", diz, misturando na discussão direito autoral e pirataria.

Se é para misturar, e a questão da qualidade da música oferecida pela indústria? "O público decide o que quer consumir, isso é uma democracia. Se as pessoas querem comer merda, podem. Se querem comer caviar, podem."

Queixa-se da relação com os lojistas: "As lojas pequenas desapareceram, as de departamentos só compram o sucesso do momento e não querem saber do resto. Todo mundo fala, nós sempre ficamos quietos. Agora vamos falar".

Vai admitindo um momento de conflito também na relação com artistas. "Lobão pegou consentimentos telefônicos de artistas no banheiro. Esses artistas têm que ter um pouquinho mais de conhecimento de causa e estudo nessa temática para opinar. Artistas que vendem disco não apóiam isso."

Não é bem assim. Dois de seus próprios e bem-sucedidos contratados, por exemplo, afirmaram em depoimentos à Folha que são favoráveis à luta pela numeração.

"Nem bem acabei de comemorar nossa ida para a final da Copa, vou cair novamente no porre existencial para festejar a aprovação da numeração, graças a Beth Carvalho, Lobão e todos os artistas brasileiros que peitaram essa reivindicação", disse Rita Lee.

"Em 61 o Juca Chaves já pedia a numeração. Acho legal para caramba, dou pleno apoio. Estou com todo mundo, mas não sou um cara que sabe direito o que se passa nos escritórios.

Se alguém argumentar outra coisa, vou ter que pensar", relativizou Erasmo Carlos, ressaltando que a posição não se estende ao parceiro Roberto Carlos, de quem a Folha não conseguiu extrair uma opinião.

Marisa Monte, grande vendedora da MPB, reafirma seu apoio. Maynard devolve: "Ela não sabe o que alguns já sabem. Se não foi informada ainda, ela será. Caetano Veloso não é a favor disso.

Ele é uma pessoa lógica". Maynard diz que não, mas Lobão e Beth Carvalho, que lideram o lobby dos artistas, afirmam que Caetano apoiou. Ele não se manifestou até agora.

Embora indignado em relação à atuação de Lobão ("não posso julgar a raiva e os problemas de uma pessoa destrutiva que quer ser o gladiador, o Dom Quixote"), admite a viabilidade de solução conciliatória citada ontem pelo músico, de numerar os CDs por lotes.

"Se o grande Lobão acha isso, que bom. Pode-se fazer numeração por lote, todos vão ficar felizes. Por nós, quem não deve não teme. Só temos que temer pelo futuro da música brasileira."

E os artistas mobilizados devem temer ficar "queimados" nas gravadoras? "Isso não existe. É legal Lobão vender disco na banca, ele faz um marketing bárbaro. Agora é capaz que venda 1 milhão de cópias.

Tudo é legal, desde que ele não agrida quem não tem nada a ver com isso. Esse menino precisa levar um pito, e vai levar."
 

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