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28/06/2002 - 03h10

Trio cubano Orishas faz rap globalizado em "Emigrante", segundo CD

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CLAUDIA ASSEF
da Folha de S.Paulo

Até o início de 2000, os cubanos Yotuel, Ruzzo e Roldán eram apenas rostos na multidão de imigrantes que circula por Paris.

Meses depois, eles se tornam a sensação do rap "europeu", com o disco "A lo Cubano", um estouro de vendas e de crítica.

No disco, eles gravaram uma versão do sucesso de "Chan Chan", do velhinho Compay Segundo. A música "537 Cuba" estourou no mundo todo e serviu de passaporte para que os Orishas viajassem o mundo.

Com os olhares do mundo -e principalmente os de sua gravadora- voltados para si, eles entraram em estúdio para gravar o sucessor de "A lo Cubano".

E saíram dele com "Emigrante", disco que chega agora às lojas, embaixo do braço.

Mas, afinal, o disco reza sob a cartilha da gravadora? A pressão foi enorme? Yotuel, o negro bonitão do grupo, reponde:

"A pressão foi mesmo absurda. Foi tanta que entramos no estúdio achatados", diz. Nem por isso o disco saiu ruim, viu, Yotuel.

E a passagem pelo Brasil, aquela comoção toda, com garotas se descabelando na fila do gargarejo mesmo num evento "fino" como o Free Jazz? Yotuel, diga lá: "Nós também não entendemos o porquê de tudo aquilo".

Ele falou à Folha sobre essas e outras coisas, por telefone, de Madri, onde mora. Leia a seguir trechos da entrevista.


Folha - Depois do sucesso de "A lo Cubano" vocês devem ter tido medo de entrar no estúdio, não?
Yotuel - Com certeza. A gente sabia que a coisa não ia ser fácil depois do que aconteceu com o nosso primeiro disco. A pressão foi mesmo absurda. Foi tanta que entramos no estúdio achatados.

É claro que a gente não podia ter na cabeça que iríamos repetir tudo o que fizemos no outro CD.

Pensamos assim: vamos esquecer tudo o que fizemos em "A lo Cubano" e vamos fazer música, só isso. Foi o único jeito de tirar um pouco o peso das nossas costas.

Folha - O resultado é bem mais europeu também. Com um integrante morando em Paris, outro em Milão e você em Madri, não vai ficar difícil manter o espírito cubano do primeiro disco por muito mais tempo?

Yotuel - Não sei. É claro que somos muito influenciados por grupos da França, que tem um hip hop muito desenvolvido. Na verdade, por grupos de toda a Europa. Acho que hoje fazemos um som bem globalizado.

Mas nosso tempero sempre vai ser cubano, porque é nossa raiz. Não há como negar isso. E também não estamos preocupados em seguir uma fórmula mágica para fazer sucesso. Se aquilo deu certo em "A lo Cubano", ótimo. Agora não podemos ficar bitolados na mesma tecla a vida toda. Isso seria muito chato.


Folha - O que você recorda das apresentações no Brasil?
Yotuel - Foi uma loucura. Foram dois shows inesquecíveis para nós. O que mais nos chamou atenção foi que as mulheres ficaram loucas. Eu só via meninas perto do palco, gritando muito, fazendo gestos.

Nós não entendemos o por que de tudo aquilo. Quer dizer, somos tipos latinos, que também são bem comuns aí no Brasil. A verdade é que achamos ótimo tudo o que aconteceu aí. O público em geral foi muito acolhedor.

Nem tenho certeza se as pessoas conheciam bem o disco. Mas isso é o que menos importa. Ah, outra coisa que achamos legal foi ver toda a equipe de apoio da Macy Gray [que também tocava no Free Jazz" no backstage do nosso show.

Não vemos a hora de voltar com tempo para conhecer o país, gostaria de passar um mês inteiro por aí, tocando, visitando lugares.

Folha - E a nova turnê deve chegar até aqui?
Yotuel - Sim, certamente. Não posso dizer quando exatamente. Mas acho que não deverá demorar muito.


Folha - Vocês saíram de Cuba e hoje moram em diferentes cidades da Europa. Viraram um grupo de rap globalizado?
Yotuel - É bom que cada um viva numa cidade diferente, isso acaba nos unindo mais. A cada encontro nosso, temos coisas novas para mostrar. Como tem essa distância, nossos ensaios são sempre feitos com vontade. Ninguém quer perder tempo. E nunca sentimos que a coisa é feita por obrigação. Não temos como cair numa rotina repetitiva desse jeito.


Folha - No novo disco vocês falam bastante sobre temas como luta social, exílio, globalização. Há palavras de ordem e tudo. Parece um disco mais socialmente responsável do que "A lo Cubano", não?

Yotuel - Quando entramos no estúdio para gravar "A lo Cubano" não tínhamos idéia do que ia acontecer. Não sabíamos nas mãos de quem aquilo iria parar. Na verdade, não esperávamos todo esse sucesso.

Depois que passamos a ser conhecidos em vários países do mundo, nos pareceu mais inteligente fazer um disco não apenas divertido, não apenas para uma comunidade.

Para resumir, o primeiro disco foi feito com base na nossa realidade de Cuba. "Emigrante" já tem a nossa vivência de Europa, ampliamos nossos horizontes.


Folha - Parece que bateu uma responsabilidade?
Yotuel - Acho que sim, mas no bom sentido. Temos vontade de seguir em frente, queremos construir uma carreira sólida.


Folha - Isso significa que vocês não pensam em voltar a Cuba?
Yotuel - Seria quase impossível voltar para Cuba agora. Teremos sempre o maior orgulho de voltar para lá e fazer shows. E também acompanhamos as notícias de lá sempre.


 

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