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30/06/2002 - 16h20

Mostra de Dramaturgia Contemporânea termina hoje no Teatro do Sesi

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VIA FERNANDES
especial para a Folha

A sintonia do Núcleo Teatro Promíscuo com seu tempo é visível no encerramento da Mostra de Dramaturgia Contemporânea, que sinaliza algumas linhas do teatro brasileiro recente ou de tradição mais longa, como o besteirol, o teatro político e o do comediante nacional.

Em "Cordialmente Teus", Aimar Labaki continua uma dramaturgia atenta às contradições históricas do país, definida, de forma paradigmática, por Oduvaldo Vianna Filho e Gianfrancesco Guarnieri, e preocupada em inserir as personagens em contextos exemplares, para fazê-las representantes de estratos sociais mais amplos. Aqui o contexto é recortado em episódios épicos de cronologia distinta, tendo como fio condutor os flagrantes de resistência do "homem cordial" brasileiro aos 500 anos de opressão. As falas contundentes indicam a qualidade do dramaturgo e ganham impacto maior nas sínteses contemporâneas.

Como todo besteirol, "Os Marcianos", de Marcelo Rubens Paiva, trabalha equívocos sexuais numa situação de nonsense em que astronautas colonizam o palco com gratuidade tão escancarada que talvez esconda a tentativa de crítica pelo avesso. A vantagem é que o gênero se apóia no improviso dos atores e na comunicação direta com o público.

Quanto ao texto de Hugo Possolo, sem dúvida é o mais complexo do ponto de vista das referências que associa. Não é novidade que o dramaturgo trabalhe com seu grupo, os Parlapatões, na trilha do palhaço-ator de rua, de onde veio a comunicação anárquica de "Sardanapalo".

No caso de "A Meia Hora de Abelardo", essa herança é canalizada para um exercício metalinguístico de sobreposição de palhaços de uma linhagem brasileira que inclui Abelardo Pinto, o Piolin, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, Abelardo I, o protagonista de "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, e, finalmente, o próprio Renato Borghi, que criou a personagem na antológica montagem de Zé Celso, em 1967.

Borghi apresenta, em seu próprio nome, a combinatória de Abelardos, resumida num ator de fotonovelas que assassina mulheres mascaradas. A direção de Alvize Camozzi e Mauricio Paroni de Castro formaliza essa reflexão chapliniana sobre a morte e o tempo da fama, 15 minutos, segundo Andy Warhol, que Luah Guimarãez cita em seu desempenho contido, semelhante ao de Débora Duboc. Ambas compatíveis com a encenação, que ralenta a comicidade de Borghi e Elcio Nogueira Seixas.

Talvez o desejo de ver os atores histriônicos como os comediantes de quem são herdeiros desminta a brevidade da fama e confirme um teatro brasileiro de longa memória.

Silvia Fernandes é professora de história do teatro da ECA-USP

"CORDIALMENTE TEUS", "OS MARCIANOS" E "A MEIA HORA DE ABELARDO"
Quando: última apresentação, hoje, às 19h
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 3284-3639)
Quanto: entrada franca (retirar ingr. com 1h de antecedência)

 

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