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09/07/2002
-
02h51
FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo
Dificuldades para o financiamento de exposições e de manutenção não são problemas apenas dos museus brasileiros. No último mês, a greve de funcionários, que por um dia parou o British Museum (BM) de Londres, foi a ponta mais visível de uma crise financeira que prevê um déficit de 6,5 milhões de libras (cerca de R$ 28 milhões) em 18 meses para a instituição.
Foi por causa dessa previsão que a direção do museu propôs o corte de 15% de funcionários, medida suspensa após a greve. Tal situação dificulta a organização das festividades programadas para o próximo ano, quando o British celebra 250 anos. Com um público anual de 4,6 milhões de visitantes, superior ao da Tate Gallery, o museu busca escapar da crise.
No próximo ano, o Brasil deve receber parte do acervo da instituição. "Nossa intenção é formalizar uma parceria de longo prazo, que permita organizar várias exposições com o British", diz Edemar Cid Ferreira, presidente da BrasilConnects.
No ano passado, a associação levou ao British a mostra "Amazônia Desconhecida". "Foi uma experiência exultante para nós", diz Robert Anderson, novo diretor do museu, por e-mail, à Folha, em entrevista. Leia a seguir os melhores trechos.
Folha - As consequências de 11 de setembro explicam os problemas financeiros do BM?
Robert Anderson - A redução do turismo, causada pela tragédia de 11 de setembro, é um dos fatores motivadores dos problemas financeiros atuais. Mas há também outras questões. A Biblioteca Britânica, que já foi parte do BM, deixou a nossa sede em 1998. Com isso, ganhamos mais 40% de espaço, mas nenhum apoio financeiro do governo para administrá-lo. A Great Court foi financiada pela loteria e empresas privadas, mas tampouco ganhamos verba adicional para o local. No entanto, a razão fundamental é o corte de cerca de 30% no orçamento do museu, em comparação a 1992.
Folha - No próximo ano, o British Museum celebra 250 anos. O que está programado?
Anderson - Aniversários dão a oportunidade de rever o passado e olhar para o futuro. Grandes novas galerias serão abertas em 2003. Uma delas é a Biblioteca Rei George 3º, um edifício de 1827, feito para receber os 65 mil livros do rei. Os livros foram transferidos para a nova biblioteca, mas nossa exposição irá mostrar como coleções auxiliavam o conhecimento no século 18 e como a classificação da natureza e da produção humana pôde então ser feita. A sala será inaugurada em novembro.
Também abriremos o Museu das Boas Vindas, ocupando a ala norte do BM. Ele irá ocupar-se do bem estar social de um ponto de vista etnográfico. Teremos ainda exposições temporárias de Dürer, já a partir do fim deste ano, o que inclui "London 1753" e "Arte e Memória". Há várias datas importantes, mas a principal será o dia 7 de junho, pois foi quando o museu conquistou o termo real.
Folha - Como o BM tem buscado recursos fora do governo?
Anderson - Criamos um setor no museu para arrecadar fundos, em 1994, com 12 funcionários, que têm por objetivo angariar recursos para o museu. Eles tiveram grande sucesso para o desenvolvimento do prédio do Great Court no coração do museu: 45 milhões de libras [R$ 200 milhões" vieram da loteria nacional e 65 milhões de libras [R$ 288 milhões" de fontes privadas. Em outros projetos também obtivemos sucesso, como a Biblioteca do Rei, com um orçamento total de 7 milhões de libras [R$ 31 milhões". O BM acredita que a melhor forma de arrecadar fundos é ter uma assessoria profissional e dedicada, que conduza uma pesquisa antes de aproximar-se de patrocinadores.
Folha - O setor de arte e educação dos museus tem ocupado cada vez mais espaço. É uma preocupação do BM?
Anderson - O Departamento de Educação tem crescido significativamente na última década no BM, mas ele ainda não é amplo o suficiente. Nós acreditamos que a educação em museu deveria ser possível a todos, não apenas a crianças em idade escolar. É necessário implementar educação permanente para adultos. Desde 2000, temos uma ótima instalação de salas para educação, a Clore Centre, com dois anfiteatros e cinco salas para seminários, além de um centro para crianças.
Folha - A associação BrasilConnects propôs a criação de uma sala permanente sobre arte brasileira. Ela será viabilizada?
Anderson - Estamos contando com a possibilidade de apresentar nossa coleção sul-americana de forma permanente e nosso curador da área, Colin McEwan, já tem planos para tanto. Não temos ainda suporte financeiro ou um programa sobre quando ele se concretizará. Assim, agora, posso dizer que é apenas uma aspiração.
British Museum vive inferno astral
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da Folha de S.Paulo
Dificuldades para o financiamento de exposições e de manutenção não são problemas apenas dos museus brasileiros. No último mês, a greve de funcionários, que por um dia parou o British Museum (BM) de Londres, foi a ponta mais visível de uma crise financeira que prevê um déficit de 6,5 milhões de libras (cerca de R$ 28 milhões) em 18 meses para a instituição.
Foi por causa dessa previsão que a direção do museu propôs o corte de 15% de funcionários, medida suspensa após a greve. Tal situação dificulta a organização das festividades programadas para o próximo ano, quando o British celebra 250 anos. Com um público anual de 4,6 milhões de visitantes, superior ao da Tate Gallery, o museu busca escapar da crise.
No próximo ano, o Brasil deve receber parte do acervo da instituição. "Nossa intenção é formalizar uma parceria de longo prazo, que permita organizar várias exposições com o British", diz Edemar Cid Ferreira, presidente da BrasilConnects.
No ano passado, a associação levou ao British a mostra "Amazônia Desconhecida". "Foi uma experiência exultante para nós", diz Robert Anderson, novo diretor do museu, por e-mail, à Folha, em entrevista. Leia a seguir os melhores trechos.
Folha - As consequências de 11 de setembro explicam os problemas financeiros do BM?
Robert Anderson - A redução do turismo, causada pela tragédia de 11 de setembro, é um dos fatores motivadores dos problemas financeiros atuais. Mas há também outras questões. A Biblioteca Britânica, que já foi parte do BM, deixou a nossa sede em 1998. Com isso, ganhamos mais 40% de espaço, mas nenhum apoio financeiro do governo para administrá-lo. A Great Court foi financiada pela loteria e empresas privadas, mas tampouco ganhamos verba adicional para o local. No entanto, a razão fundamental é o corte de cerca de 30% no orçamento do museu, em comparação a 1992.
Folha - No próximo ano, o British Museum celebra 250 anos. O que está programado?
Anderson - Aniversários dão a oportunidade de rever o passado e olhar para o futuro. Grandes novas galerias serão abertas em 2003. Uma delas é a Biblioteca Rei George 3º, um edifício de 1827, feito para receber os 65 mil livros do rei. Os livros foram transferidos para a nova biblioteca, mas nossa exposição irá mostrar como coleções auxiliavam o conhecimento no século 18 e como a classificação da natureza e da produção humana pôde então ser feita. A sala será inaugurada em novembro.
Também abriremos o Museu das Boas Vindas, ocupando a ala norte do BM. Ele irá ocupar-se do bem estar social de um ponto de vista etnográfico. Teremos ainda exposições temporárias de Dürer, já a partir do fim deste ano, o que inclui "London 1753" e "Arte e Memória". Há várias datas importantes, mas a principal será o dia 7 de junho, pois foi quando o museu conquistou o termo real.
Folha - Como o BM tem buscado recursos fora do governo?
Anderson - Criamos um setor no museu para arrecadar fundos, em 1994, com 12 funcionários, que têm por objetivo angariar recursos para o museu. Eles tiveram grande sucesso para o desenvolvimento do prédio do Great Court no coração do museu: 45 milhões de libras [R$ 200 milhões" vieram da loteria nacional e 65 milhões de libras [R$ 288 milhões" de fontes privadas. Em outros projetos também obtivemos sucesso, como a Biblioteca do Rei, com um orçamento total de 7 milhões de libras [R$ 31 milhões". O BM acredita que a melhor forma de arrecadar fundos é ter uma assessoria profissional e dedicada, que conduza uma pesquisa antes de aproximar-se de patrocinadores.
Folha - O setor de arte e educação dos museus tem ocupado cada vez mais espaço. É uma preocupação do BM?
Anderson - O Departamento de Educação tem crescido significativamente na última década no BM, mas ele ainda não é amplo o suficiente. Nós acreditamos que a educação em museu deveria ser possível a todos, não apenas a crianças em idade escolar. É necessário implementar educação permanente para adultos. Desde 2000, temos uma ótima instalação de salas para educação, a Clore Centre, com dois anfiteatros e cinco salas para seminários, além de um centro para crianças.
Folha - A associação BrasilConnects propôs a criação de uma sala permanente sobre arte brasileira. Ela será viabilizada?
Anderson - Estamos contando com a possibilidade de apresentar nossa coleção sul-americana de forma permanente e nosso curador da área, Colin McEwan, já tem planos para tanto. Não temos ainda suporte financeiro ou um programa sobre quando ele se concretizará. Assim, agora, posso dizer que é apenas uma aspiração.
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