Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/07/2002 - 02h45

Jorge Mautner reprisa e expande teoria do "kaos"

Publicidade

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

O tempo é de revisão e de expansão para Jorge Mautner, 61. Enquanto aguarda o lançamento (previsto para agosto) de "Não Peço Desculpas", seu primeiro disco em parceria com Caetano Veloso, assiste à reedição de luxo de sua obra literária completa, sob o título "Mitologia do Kaos".

Foram reunidos numa caixa de dois volumes 11 livros lançados desde "Deus da Chuva e da Morte" (62), mais o inédito "Floresta Verde Esmeralda". Um terceiro volume, "Trajetória do Kaos", agrupa letras de músicas, reportagens e entrevistas com parceiros e amigos como Caetano e Gil. Agrega o pacote ainda um CD com seis músicas regravadas e a inédita "Floresta Verde Esmeralda", de sabor experimental e tropicalista.

O Mautner músico não nega a inclusão de releituras de "Maracatu Atômico" e "Lágrimas Negras" no disco com Caetano, mas explica seu silêncio: "Se eu contar algo sobre o disco, me matam. É pura e simples ação e bondade de Caetano. Sempre fui o primo pobre, mas desta vez com um primo rico tão bom como ele fui puxado ao apartamento de cima".

Como escritor, comemora a retomada: "Vai ser ótimo, porque pouca gente me conhece como escritor. No Brasil se conhece mais a música que a literatura".

Embora bancada por uma editora independente _a Azougue, que deixou escapar dezenas de erros de revisão e montagem no produto final_, a caixa foi viabilizada graças a uma parceria com o Ministério da Cultura.

"Eles compraram 2.000 exemplares para bibliotecas, e isso possibilitou a edição de mais 1.500 cópias para o mercado. Só assim poderíamos realizar uma edição dessa qualidade, mesmo assim ficando no prejuízo. Mas os malditos são mesmo nosso negócio", diz o editor Sérgio Cohn. "Lamentamos muito os erros que passaram, mas é inevitável num projeto desse tamanho."

Mautner, por sua vez, diverte-se com sua dupla face de músico e escritor: "Meu pai sempre me dizia, como piada, que fiz bem, porque assim estou sempre errado (ri). Se vão num show meu, dizem: "Ah, ele é mau cantor, mas escreve bem". Se lêem meu livro, é "ah, mas ele é bom músico'".

As faces não são só duas: "O "kaos" exige três ou quatro idéias diferentes sobre cada assunto, no mínimo. Quando penso em algo, primeiro sou a favor, depois contra, então muito pelo contrário. Os quatro mautners vivem em assembléia permanente. É um treino para reconciliar extremos, me aliviar dos demônios, me mover entre a extrema esquerda, a extrema direita e o extremo centro".

Às gargalhadas ao falar de "extremo centro", explica-se, com terminologia toda sua: "Durante a Terceira Guerra Fria, a maior parte dos intelectuais era de marxistas, leninistas, stalinistas. A direita tinha Nietzche e Freud. Havia grana para financiar tanto uns quanto outros. Quando terminou a Terceira Guerra Fria, tudo ficou relegado à grana, ao utilitarismo".

Exemplifica com sua saída da gravadora Philips, em 76: "Comunicaram-me que eu não correspondia às metas de venda. A partir dali, só importariam os números, não mais o prestígio".

"Disseram que eu havia acabado como escritor, pois havia apostado tudo na Terceira Guerra Mundial, e ela não veio. De repente acontece o 11 de setembro. Volta não só o caos, mas o terror, a Quarta Guerra Quente."

Tido na sua estréia como representante solitário no Brasil da geração beat e pregador eterno da luta contra o nazismo e da modalidade de anarquismo que ele batizou de "kaos", Mautner fala das impressões de ler hoje, aos 61, textos filosóficos escritos aos 15: "O menino de 15 era muito mais inteligente que o velhinho de 61".

E filosofa uma vez mais, bem-humorado: "Dura é a dor da rejeição amorosa. Duro é o caminho rumo à morte. Hollywood nos enganou no "the end". Na verdade não é nem "happy end", nem é um filme. A vida é um curta. A natureza é esculhambada".

MITOLOGIA DO KAOS - caixa com a obra completa de Jorge Mautner, em dois volumes (1.288 págs.), volume extra com entrevistas e letras de músicas e CD inédito. Editora: Azougue. Quanto: R$ 160 (ou R$ 90, em shows do artista).
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página