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11/07/2002 - 02h30

Max de Castro quer se filiar à "jovem vanguarda" da MPB

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

É mais lenha na fogueira da MPB. O carioca radicado em São Paulo Max de Castro, 29, assume discurso provocativo e contestatório ao lançar seu segundo álbum, que batiza de "Orchestra Klaxon", em referência à revista literária "Klaxon", que veiculava o discurso modernista em 1922.

Um dos motes que propõe é o fortalecimento do que batiza de "jovem vanguarda" _a referência cruzada, aqui, é tanto à jovem guarda dos 60 quanto ao termo de origem, que o publicitário Carlito Maia roubou do ideário leninista para apelidar a juventude iê-iê-iê liderada por Roberto Carlos.

Além de discutir temas como racismo e liberalismo político, Max procura explicitar no disco um conflito tácito de gerações na música popular brasileira.

Em reação a seu disco "Samba Raro" (2000), Ronaldo Bastos, 54, e Celso Fonseca, 45, músicos ligados a Caetano Veloso, 59, compuseram a bossa "Samba É Tudo", de versos provocativos a Max ("samba raro é samba em paz/e quem faz não diz que tem valor", ou "pra fazer um samba a mais/ é preciso mais que pretensão").

"Orchestra Klaxon" é a réplica de Max àquela crítica, operada em profusão de instrumentos e sonoridades de samba, mas também de sintetizadores e referências simultâneas a bossa nova, samba-jazz, samba-soul, samba-rock, drum'n'bass...

"Não adianta o cara defender Ismael Silva e fazer bossa nova, achar que samba é só no pandeiro e violão", contra-ataca. "Se Noel Rosa tivesse 26 anos hoje, seria muito mais parecido com Marcelo D2 que com Chico Buarque."

Epicentro provocativo do CD é "Mancha Rocha", que fala de política usando para tanto subversões de versos de autores como Caetano, Chico e Jorge Ben. "É uma música de protesto, mas ligando política ao fato de certos artistas quererem sempre estar aliados ao poder. Hoje candidato a presidente faz reunião em casa de artista, e é tudo sempre em benefício de um grupo pequeno de pessoas", alfineta.

No disco, Max filia à sua jovem vanguarda artistas como Seu Jorge, Paula Lima, Marcelo Yuka, Fred Zero Quatro e Patrícia Marx, que compõem, tocam e/ou cantam com ele no disco. Mas a "orchestra" admite participantes da "velha-guarda" também, e ali estão autores como Erasmo Carlos e instrumentistas como J.T. Meirelles (co-inventor do "samba esquema novo" de Jorge Ben), Wilson das Neves e Sérgio Carvalho.

"Fico feliz de conseguir criar um ambiente favorável para que artistas muito diferentes e de gerações diversas consigam se comunicar. A marca da minha geração é que jamais faria passeata contra guitarra elétrica", descreve, remetendo-se ao ambiente vivido nos 60 por seu pai, Wilson Simonal.

"Usei o termo "orchestra" para sublinhar o papel dos músicos e arranjadores. Eles têm sido sempre ofuscados pelos compositores, que são mimados e superestimados no Brasil. Se Caetano e Gil são gênios, Erlon Chaves, Wilson das Neves e Maestro Cipó também são", enumera.

Ambicioso, o projeto deve acirrar a divisão de opiniões em torno de Max. Por parte da crítica, de hordas de músicos, de entusiastas como Nelson Motta e até da revista "Time", ele foi saudado como a grande revelação musical brasileira do início dos anos 2000. Para outros músicos e críticos, é visto como apenas "pretensioso". "Orchestra Klaxon" tem tudo para inflamar ânimos nos dois lados.

Max se defende: "Se eu que sou jovem não for pretensioso quem vai ser? Abdicar de ser normal, entre aspas, para ser artista já é o cúmulo da pretensão. Mesmo que eu esteja errado, isso não importa. Negar o trabalho dos jovens é conservador, e jovem conformado é a pior coisa que pode existir".

Ele jura que, por outro lado, não se empolga com a fartura de elogios. "Não posso me iludir e achar que sou bom se conheço a obra de Moacir Santos, Prince, Erasmo Carlos. O que torna um artista grande é a qualidade da obra. Estou no começo. Quantos artistas fizeram dois discos e depois desapareceram?", pergunta. Na hora de lançar seu segundo disco, Max parece pronto para a nova prova.
 

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