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12/07/2002 - 23h16

Quatro anos depois, Racionais MCs lançam CD mais importante do ano

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ISRAEL DO VALE
Editor-adjunto da Ilustrada
XICO SÁ
da Folha de S. Paulo

O carro derrapa. Estampidos surdos, uma arrancada. A noite avança cega e muda nos confins da cidade. O galo canta incólume e a periferia desperta _alarme de reloginho paraguaio ao fundo. "Bença mãe" (sic). "Estamos iniciando nossas transmissões (...) Vamo acordá, vamo acordááá", anuncia a alvorada o rapper Mano Brown, em tom de rádio pirata, ambiguidade premente já na introdução da primeira faixa.

Assim nasce o novo disco do maior grupo do rap nacional, um dos mais significativos e influentes nomes da música que se produz no Brasil na atualidade.

É, artisticamente falando, o lançamento mais importante de 2002 (ano de eleição presidencial), no gênero que melhor reflete a complexidade e as contradições do que é hoje o país.

Duplo, 21 faixas, "Nada como um Dia Após o Outro Dia - Chora Agora" chegou nesta sexta-feira às lojas na surdina, após sucessivos adiamentos, sob o temor da artilharia pirata. Nas Grandes Galerias, famoso reduto do rap no centro de São Paulo, foi um alvoroço. "Começou cedo o zunzunzum que ia rolar o novo dos caras. Quando chegou, à tarde, foi um alvoroço. Era camelô correndo, balconista correndo, uma onda", conta Edson Batista da Costa, 20, office-boy da área.

Põe fim a um vácuo de quatro anos desde "Sobrevivendo no Inferno" (Cosa Nostra/Zambia, 1997), divisor de águas, matriz temária e musical de tudo que se seguiu no rap.

No listão de agradecimentos, o indicativo da qualidade de samples e/ou influências: James Brown, Jorge Ben, Marvin Gaye, Tim Maia, George Clinton, Tupac Shakur, Clara Nunes e grande elenco.

Sai com 100 mil cópias de tiragem inicial, timidamente, diga-se, para os autores de um blockbuster como "Sobrevivendo", que estima-se, teria batido a faixa do milhão _metade disso, no "mercado paralelo". Vale lembrar que Mano Brown, Ice Blue Edy Rock e KL Jay, os manos do grupo, sempre martelaram na mesma batida: a pirataria rola solta por causa dos preços salgados da indústria do disco.

Cercados de cuidados com os piratas, os Racionais aliaram-se às majors da indústria fonográfica de modo original. A capa do CD estampa o preço "sugerido" do disco: R$ 23,90. Alto, para manos em geral, mas baixo para a expectativa dos lojistas, que vêem aí o grande lançamento do segundo semestre _até pelo menos o novo disco de Natal de Roberto Carlos. A esperança dos distribuidores é de manter o preço do disco num patamar razoável, que faça o comprador pensar duas vezes antes de optar pelo pirata. Outro dado importante: o CD é duplo, com 21 faixas.

"Não tem como vencer a pirataria", resigna-se Luis Antonio Serafim, diretor de marketing do selo Cosa Nostra/Zambia, desdobramento da gravadora independente Zimbabwe, onde nasceu o grupo, e atual responsável pela distribuição do disco, depois do rompimento do grupo com a multinacional Sony _por onde saíram os dois últimos CDs. Entre "Sobrevivendo" e este "Nada como um Dia Após o Outro Dia" o grupo lançou um registro ao vivo, ano passado, apenas para liberar-se do contrato de distribuição com a Sony, que previa dois CDs.

A contra-ofensiva dos Racionais vem cheia de munição contra o produto de camelô. Vinte mil cartazes começam a ser distribuídos nesta segunda-feira às lojas de discos. "Quem tem que se preocupar com a pirataria é o governo", diz Serafim. "Mas o preço baixo quem garante é a gravadora. E hoje ninguém está vendendo. O único jeito de competir com o pirata é vender a preço baixo."

Ouça:
  • Faixas do novo CD do Racionais MCs na Rádio UOL (somente para assinantes)


  • Leia mais:
  • CD do Racionais chega às lojas com preço contra pirataria na capa

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