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16/07/2002 - 04h10

"Uma Vida em Segredo" estréia nesta sexta nos cinemas

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

"Veio falar com a estrela?", brinca o diretor Antunes Filho, que não costuma gostar que seus atores abandonem as fileiras do Centro de Pesquisa Teatral em nome de uma trajetória individual.

A "estrela" é Sabrina Greve, 24, forjada no CPT desde os 17 anos e agora reconhecida por sua primeira atuação no cinema. Nas palavras da atriz, o diretor ficou "de nariz torcido" quando ela aceitou o convite para interpretar Biela, heroína rural criada na literatura por Autran Dourado e levada às telas por Suzana Amaral no longa-metragem "Uma Vida em Segredo", que estréia nesta sexta-feira. De fato, Sabrina e Antunes quase romperam.

Mas foram para ele as primeiras palavras dela em agradecimento ao troféu Candango de melhor atriz, conquistado no 34º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em que o filme teve sua primeira exibição, em novembro passado.

Engenho
"O Antunes sempre insiste que o ator não faz nada a olho. Tudo é construído, o tempo inteiro. Na nossa cultura, o teatro tem algo de terreno baldio. Qualquer um pode ser ator", diz a atriz.

"Mas o Antunes insiste muito nisso: engenho, engenho, engenho e depois arte. Quem consegue ficar muito tempo no CPT acaba levando, não digo essa responsabilidade, porque termina sendo um prazer, mas essa consciência para outros trabalhos que vá fazer", explica ela.

Dona do papel de Andrômaca em "Fragmentos Troianos" (por obstinada decisão do diretor; ela, aos 19 anos, não se sentia capaz do desafio); senhora absoluta de seus personagens e da forma de encená-los na série de esquetes teatrais "Prêt-à-Porter"; formada, enfim, num método que apregoa a "autonomia do ator", Sabrina Greve viu o chão escapar no set de "Uma Vida em Segredo".

"No teatro, o ator é o senhor do tempo. No cinema, quem constrói o tempo é o diretor, na ilha de edição. No primeiro dia de filmagens, fiquei muito assustada e, diante de tanta maquinaria, perguntei ao Adrian [Cooper, diretor de arte] onde é que entrava o ator naquilo tudo."

Cooper propôs que ela tentasse considerar que todo aquele aparato estava a serviço do ator. Depois de se sentir adaptada e rendida ao cinema, o chão iria faltar de novo para Sabrina com a primeira premiação de seu desempenho nas telas, fato repetido no mês passado, no Cine Ceará.

"É claro que você fica lisonjeada. Mas, quando voltei de Brasília com o prêmio, na verdade o que me deu foi medo. Pensei: e agora, o que vou fazer? Como vou sobressair?", conta.

Sabrina bateu de novo na porta do CPT. Se a encontrasse fechada, não seria a primeira vez. Ela foi reprovada em sucessivos testes do centro, antes de finalmente ser admitida, aos 17 anos, em sua tentativa de número quatro, que havia definido como a última.

"Trabalhar com Antunes foi minha obsessão", afirma. Aos 14, ela assistiu à montagem do diretor para "Macbeth", de William Shakespeare, e decidiu que queria tomar parte naquele universo.

Nessa época, Sabrina estudava balé clássico, mas já havia se dado conta de que lhe faltava talento para a dança e também "phisique du rôle" de bailarina. Com 1,74 metro de altura, ela chegava a quase dois metros na ponta de uma sapatilha.

Retorno
Depois da aventura cinematográfica, Antunes e o Centro de Pesquisa Teatral a receberam de volta. Não sem reservas. "Foi um retorno difícil", resume, econômica de palavras. Sabrina agora está novamente envolvida com todos os projetos em andamento no CPT.

"O Antunes está tentando fazer uma remontagem pós-moderna de "Medéia". Estamos no trabalho de inventário, criando cenas, inventando coisas e desconstruindo a idéia anterior. Mas ainda não sabemos onde vai dar, o que vai ser, se vai estrear. Enfim, estamos pesquisando."

Além desse, há o projeto de continuação de "Prêt-à-Porter", que já realizou quatro versões. "Estamos pesquisando novas cenas. Está sendo muito difícil, porque tem de ter um salto dramatúrgico", afirma.
Por fim, existe a idéia da montagem de "O Jardim das Cerejeiras", "que está no ar".

A atriz paulista _nascida em Limeira e apaixonada por São Paulo, onde sempre viveu- pretende voltar ao cinema. "O bichinho me mordeu." Embora ainda se espante com o fato de que uma obra em que atue possa ser vista sem sua presença. "É tão estranho. O cinema anda sozinho."

Quer saber a opinião de Antunes sobre a interpretação de Sabrina Greve em "Uma Vida em Segredo"? Ainda não se tem. "Ele não viu. Às vezes fico supercuriosa para saber o que vai achar. Às vezes prefiro que ele não veja."

A partir desta sexta-feira, quando o filme chega às telas, quem quiser verá.
 

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