Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/07/2002 - 13h41

Festival de teatro de Rio Preto revitaliza sonho de Antonin Artaud

Publicidade

SÉRGIO SALVIA COELHO
da Folha de S. Paulo, em São José do Rio Preto

"Parto em busca do impossível." Com lemas assim, Antonin Artaud (1896-1948) levou à utopia a experiência de ser ator. Vertiginoso, portanto, é o patrono do Festival de Teatro de Rio Preto, que começou no último dia 17 e segue até 28 de julho.

Na segunda edição internacional, o festival prossegue com tripla ambição: à noite, faz dos teatros da cidade encruzilhada cultural do mundo; forma atores locais no projeto Preto Artaud, work- shops coordenados por Márcia Abujamra, cujos resultados são apresentados de madrugada no lugarUMBIGO, ao lado de performances mais elaboradas, propostas por artistas convidados.

De manhã e à tarde, o Preto Artaud vai aonde o povo está: praças, feiras e padarias, para ajudar a formar uma platéia que poderá se estimular a ver à noite tanto espetáculos consagrados como mostras de processos de um teatro que reinventa o possível.

Todos os lados ganham. Angélica Zignani, afiando a verve artaudiana na realidade social brasileira, distribuiu lúdicos e repugnantes sanduíches em sua performance "Le Cou de la Balerine" criando, após uma estréia tímida no lugarUMBIGO, às 23h da última quarta, um divertido pânico na feira da manhã seguinte.

Naquela madrugada, havia no entanto exposições mais radicais, como a de Tatiana Tomé que, trapezista de si, lançava-se na "Dança Antiaérea" proposta pelo diretor Vadim Niktin; e a lucidez do ator Paschoal da Conceição, que resgatou toda a humanidade de Artaud diante de Van Gogh, "O Suicidado da Sociedade".

Sedução da utopia

Celebra a humanidade também o lírico balé aéreo do grupo australiano Strange Fruit: Peta O'Doherty, bela e inacessível do alto do mastro flexível de 4,5 metros, arrisca-se a entregar uma flor nas mãos de um ardoroso espectador tornado colibri, e pronto assim para ir depois prestigiar o ACT, Ateliê de Criação Teatral de Luis Melo, que deu mostras da importância de seu processo de formação de atores, dia 18, no intrigante "O Homem e o Cão", dirigido por Aderbal Freire-Filho.

Em outras praças, Maria Paula Rego dança a elegante e alva Praga do "Auto do Estudante", de Suassuna, outro homenageado do festival, e a "Navelouca", da Cia. de Mystérios e Novidades, hasteia sua bandeira de utopias.

Porém, o mais pleno duplo de Artaud atende pelo nome de José Celso Martinez Corrêa. Para um novo balanço do processo de montagem de "Os Sertões", que agora só precisa de um espaço vazio, já que o universo de Euclydes da Cunha já está todo na fala de cada ator, a platéia foi seduzida a promover ela mesma a transgressão e removeu para o saguão suas poltronas pagas.

Em mais uma noite mítica do festival de Rio Preto, Zé Celso não só revitalizou o sonho de Artaud, mas coroou-o com a alegria.

O crítico Sérgio Salvia Coelho viajou a convite da produção do festival

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página