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23/07/2002
-
10h20
ERIKA PALOMINO
colunista da Folha
A São Paulo Fashion Week de verão 2003, encerrada no último sábado, teve como tema a identidade da moda brasileira. Moda brasileira feita por brasileiros, rezava o slogan. Atrás das referências brasileiras, muitos estilistas olharam para elementos da cultura nacional, como o Carnaval, a carnaúba, cidades como Recife e Fortaleza... Mas o grande mérito desta temporada foi reforçar a beleza negra nas passarelas.
Em edições anteriores, manifestantes relacionados a agências de modelos negras chegaram a criar protestos contra o que foi chamado (bem brasileiramente) de "apagão fashion". Ou seja: a ausência de negros e mulatos nos seus elencos. Agora, por uma série de motivos, a história mudou. A beleza e a cultura negras influenciaram desfiles em sua totalidade, da música ao casting.
A mais marcante foi a marca de moda praia Poko Pano, estreante no evento, que fez um casting 95% negro, em que meninas de todos os tipos físicos desfilaram cheias de atitude uma coleção que tratava de etnias. E não foi para ser politicamente correto. "Era mais pela beleza delas, e eu achava que era corajoso", conta o stylist David Pollak, responsável pela escolha das meninas. "Faz tempo que eu queria fazer isso. Eu coleciono africaninhas dos anos 50 e neste Carnaval vi as passistas do Rio. Fiquei encantado."
A beleza das passistas também apareceu na Forum, que acionou o Carnaval como inspiração e fez da mulata que não está no mapa Adriana Lima sua principal diva, reinando como uma rainha de bateria fashion. Nascida em Salvador, é hoje uma das grandes estrelas do made in Brazil. É namorada de Lenny Kravitz e assinou milionário contrato com a marca de lingerie Victoria's Secret. Na segunda marca de Tufi Duek, a Triton, a inspiração era a black music do final dos 60 e início dos 70, mas em versão mais pasteurizada.
Na Cavalera, Thais Losso foi mais longe, depois de uma viagem de pesquisa pelo bairro nova-iorquino do Queens. "Depois que voltei de lá, tudo era negão para mim", conta a estilista, cujo apelido é "nega maluca". A coleção deu o estalo final quando ela achou em sua casa uma foto de seu pai com duas mulatas do Sargentelli.
Em relação ao velho folclore das revistas de moda de justificar a ausência de modelos negras nas capas, Thaís diz que faz questão de provar o contrário: "Acho que negro vende", garante a estilista. Taí uma moda que não deveria passar no Brasil.
Leia mais notícias sobre a SP Fashion Week
Beleza negra vira moda na São Paulo Fashion Week
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colunista da Folha
A São Paulo Fashion Week de verão 2003, encerrada no último sábado, teve como tema a identidade da moda brasileira. Moda brasileira feita por brasileiros, rezava o slogan. Atrás das referências brasileiras, muitos estilistas olharam para elementos da cultura nacional, como o Carnaval, a carnaúba, cidades como Recife e Fortaleza... Mas o grande mérito desta temporada foi reforçar a beleza negra nas passarelas.
Em edições anteriores, manifestantes relacionados a agências de modelos negras chegaram a criar protestos contra o que foi chamado (bem brasileiramente) de "apagão fashion". Ou seja: a ausência de negros e mulatos nos seus elencos. Agora, por uma série de motivos, a história mudou. A beleza e a cultura negras influenciaram desfiles em sua totalidade, da música ao casting.
A mais marcante foi a marca de moda praia Poko Pano, estreante no evento, que fez um casting 95% negro, em que meninas de todos os tipos físicos desfilaram cheias de atitude uma coleção que tratava de etnias. E não foi para ser politicamente correto. "Era mais pela beleza delas, e eu achava que era corajoso", conta o stylist David Pollak, responsável pela escolha das meninas. "Faz tempo que eu queria fazer isso. Eu coleciono africaninhas dos anos 50 e neste Carnaval vi as passistas do Rio. Fiquei encantado."
A beleza das passistas também apareceu na Forum, que acionou o Carnaval como inspiração e fez da mulata que não está no mapa Adriana Lima sua principal diva, reinando como uma rainha de bateria fashion. Nascida em Salvador, é hoje uma das grandes estrelas do made in Brazil. É namorada de Lenny Kravitz e assinou milionário contrato com a marca de lingerie Victoria's Secret. Na segunda marca de Tufi Duek, a Triton, a inspiração era a black music do final dos 60 e início dos 70, mas em versão mais pasteurizada.
Na Cavalera, Thais Losso foi mais longe, depois de uma viagem de pesquisa pelo bairro nova-iorquino do Queens. "Depois que voltei de lá, tudo era negão para mim", conta a estilista, cujo apelido é "nega maluca". A coleção deu o estalo final quando ela achou em sua casa uma foto de seu pai com duas mulatas do Sargentelli.
Em relação ao velho folclore das revistas de moda de justificar a ausência de modelos negras nas capas, Thaís diz que faz questão de provar o contrário: "Acho que negro vende", garante a estilista. Taí uma moda que não deveria passar no Brasil.
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