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25/07/2002
-
02h48
MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo
O governo paulista decidiu reduzir os ganhos do maestro John Neschling, diretor da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Ele receberá cerca de R$ 800 mil este ano do Estado. O contrato será em reais, e não mais em dólar, como ocorria desde 1997.
A mudança foi negociada depois que a Folha mostrou que Neschling mantinha um contrato sigiloso com a Fundação Padre Anchieta, pelo qual ganhava cerca de US$ 400 mil por ano (o correspondente hoje a R$ 1,16 milhão). A reportagem, de 21 de maio, apontava também que o pagamento em dólar era irregular, já que a empresa criada por Neschling para ser contratado pela fundação, a Colcheia, é brasileira.
Como o contrato era em dólar, a perda de Neschling varia conforme o ano com o qual é comparado o ganho atual. Em 2000, por exemplo, Neschling recebeu US$ 472.286. Naquele ano, o valor correspondia a R$ 864.473,07, quando corrigido pelo valor médio anual do dólar. Nessa comparação, a perda que ele tem com o salário de R$ 800 mil seria pequena _pouco mais de R$ 64 mil.
Mas, quando se corrige o ganho daquele ano pelo dólar atual (cerca de R$ 2,90), como previam os contratos assinados entre 1997 e 2001, as perdas do maestro este ano chegam a R$ 569.629,40.
O secretário estadual de Cultura, Marcos Mendonça, primeiramente negou as mudanças. Na semana passada, ele disse à Folha que não sabia de nada sobre o novo documento que ele próprio negociou: "Não tenho nada a ver com esse contrato, não sou parte nele. Fale com as partes".
Mendonça tentou se esquivar de explicar porque a decisão de rebaixar os ganhos de Neschling não partiu dele -partiu do governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição.
A versão da parte pagadora do contrato, a Fundação Padre Anchieta, contradiz a idéia de que Mendonça não sabia de nada. "O contrato está sendo discutido na Secretaria da Cultura. A única coisa que sei é que está sendo feito em reais. Nós não entramos no mérito do conteúdo [do contrato]. Só formalizamos as tratativas", diz Manoel Luciano Viana, superintendente da Fundação Padre Anchieta. Só assim Mendonça aceitou falar sobre o novo contrato. "Não há redução. Há um ajuste entre as partes", disse.
Diferentemente dos contratos que assinou entre 1997 e 2001, o maestro não receberá mais por concertos. Nos dois primeiros anos, Neschling ganhava US$ 230 mil por ano, divididos em 12 parcelas, US$ 15 mil por concerto e US$ 7,5 mil quando for um programa (com o estouro do dólar nos anos seguintes, o ganho anual baixou para US$ 224 mil e os cachês por concerto para US$ 12 mil e US$ 6.000). Somados, esses valores atingiam cerca de US$ 400 mil por ano. Agora, receberá R$ 800 mil (US$ 276 mil) para reger 21 concertos em São Paulo.
Por esse ajuste, a secretaria não pagará os 15 concertos que Neschling regerá com a Osesp nos EUA, entre 25 de outubro e 21 de novembro, segundo o secretário.
O contrato foi feito em reais, diz o secretário, porque Neschling agora vive no Brasil (até 1997, ele vivia na Suíça).
Não se sabe quanto Neschling receberá nos EUA. Segundo o maestro Júlio Medaglia, não é praxe uma casa pagar o maestro em excursão. "Quando uma orquestra viaja, o maestro e os músicos só recebem uma pequena ajuda de custo. Quem recebe pela excursão é a instituição, a orquestra, ou a Fundação Padre Anchieta, que paga a orquestra", diz.
A Folha procurou Neschling 12 vezes na última semana. Em todas as ocasiões, sua secretária informou que ele ligaria para a Folha, o que não ocorreu.
Governo de São Paulo reduz salário do maestro da OSESP
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da Folha de S.Paulo
O governo paulista decidiu reduzir os ganhos do maestro John Neschling, diretor da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Ele receberá cerca de R$ 800 mil este ano do Estado. O contrato será em reais, e não mais em dólar, como ocorria desde 1997.
A mudança foi negociada depois que a Folha mostrou que Neschling mantinha um contrato sigiloso com a Fundação Padre Anchieta, pelo qual ganhava cerca de US$ 400 mil por ano (o correspondente hoje a R$ 1,16 milhão). A reportagem, de 21 de maio, apontava também que o pagamento em dólar era irregular, já que a empresa criada por Neschling para ser contratado pela fundação, a Colcheia, é brasileira.
Como o contrato era em dólar, a perda de Neschling varia conforme o ano com o qual é comparado o ganho atual. Em 2000, por exemplo, Neschling recebeu US$ 472.286. Naquele ano, o valor correspondia a R$ 864.473,07, quando corrigido pelo valor médio anual do dólar. Nessa comparação, a perda que ele tem com o salário de R$ 800 mil seria pequena _pouco mais de R$ 64 mil.
Mas, quando se corrige o ganho daquele ano pelo dólar atual (cerca de R$ 2,90), como previam os contratos assinados entre 1997 e 2001, as perdas do maestro este ano chegam a R$ 569.629,40.
O secretário estadual de Cultura, Marcos Mendonça, primeiramente negou as mudanças. Na semana passada, ele disse à Folha que não sabia de nada sobre o novo documento que ele próprio negociou: "Não tenho nada a ver com esse contrato, não sou parte nele. Fale com as partes".
Mendonça tentou se esquivar de explicar porque a decisão de rebaixar os ganhos de Neschling não partiu dele -partiu do governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição.
A versão da parte pagadora do contrato, a Fundação Padre Anchieta, contradiz a idéia de que Mendonça não sabia de nada. "O contrato está sendo discutido na Secretaria da Cultura. A única coisa que sei é que está sendo feito em reais. Nós não entramos no mérito do conteúdo [do contrato]. Só formalizamos as tratativas", diz Manoel Luciano Viana, superintendente da Fundação Padre Anchieta. Só assim Mendonça aceitou falar sobre o novo contrato. "Não há redução. Há um ajuste entre as partes", disse.
Diferentemente dos contratos que assinou entre 1997 e 2001, o maestro não receberá mais por concertos. Nos dois primeiros anos, Neschling ganhava US$ 230 mil por ano, divididos em 12 parcelas, US$ 15 mil por concerto e US$ 7,5 mil quando for um programa (com o estouro do dólar nos anos seguintes, o ganho anual baixou para US$ 224 mil e os cachês por concerto para US$ 12 mil e US$ 6.000). Somados, esses valores atingiam cerca de US$ 400 mil por ano. Agora, receberá R$ 800 mil (US$ 276 mil) para reger 21 concertos em São Paulo.
Por esse ajuste, a secretaria não pagará os 15 concertos que Neschling regerá com a Osesp nos EUA, entre 25 de outubro e 21 de novembro, segundo o secretário.
O contrato foi feito em reais, diz o secretário, porque Neschling agora vive no Brasil (até 1997, ele vivia na Suíça).
Não se sabe quanto Neschling receberá nos EUA. Segundo o maestro Júlio Medaglia, não é praxe uma casa pagar o maestro em excursão. "Quando uma orquestra viaja, o maestro e os músicos só recebem uma pequena ajuda de custo. Quem recebe pela excursão é a instituição, a orquestra, ou a Fundação Padre Anchieta, que paga a orquestra", diz.
A Folha procurou Neschling 12 vezes na última semana. Em todas as ocasiões, sua secretária informou que ele ligaria para a Folha, o que não ocorreu.
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