Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/08/2002 - 13h28

Gilberto Gil faz público de jazz encarar Bob Marley na França

Publicidade

PATRÍCIA KALIL
free-lance para a Folha Online

O panorama: sábado, dia 3 de agosto, num palco montado na pequena vila de Marciac, sudoeste francês. A segunda noite do "Jazz Festival in Marciac" tenta traçar um perfil da música brasileira.

O evento, que comemora 25 anos de existência, teve dois shows. Na abertura, Kenny Barron e Trio da Paz --grupo jazzístico brasileiro situado em Nova York-- com um samba ao piano cheio de surpresas. Em seguida, Gilberto Gil, 60, vinha com seu show a la Jamaica, o mesmo de sua turnê européia, que divulga o CD "Kaya N'Gan Daya".

Assim, o público que esperava bossa nova deparou-se com samba e reggae. Houve quem saiu, houve quem dançou. Se cerca de 300 pessoas deixaram o vilarejo antes do fim da apresentação, outras aproximadamente 4.000 gritaram pelo "bis" quando Gil saiu do palco.

Para o evento, um grande circo de 48 toneladas foi instalado no campo de rugby local. À direita, o palco ocupa o lugar de uma das traves. "Foi 1 a 0", exclamou Gil ao fim do concerto, do camarim.

Mas antes de discutir os resultados, vamos às regras do jogo e aos detalhes da partida. Que a pontuação mínima de rugby seja 3, no caso de um show de reggae para um público de jazz, 1 é mais que suficiente. Seria como vencer a equipe Stade Toulousain com táticas de futebol de praia.

Antes de mais nada, já no "melée" inicial (situação na qual jogadores se atravancam no campo), Gil pediu cooperação: 'Agradeço imensamente a organização pelo convite. Vocês estão aqui pelo jazz, uma música considerada superior. Mas com licença, eu sou pop, faço música vulgar'.

Gil, que comentava antes do show que a crítica brasileira é pouco aberta às novas propostas artísticas, em geral, deparou-se com uma penca de "entendidos". A única clássica esperada, para o azar dos mais conservadores, também veio com molho jamaicano. "Eis uma surpresa à nossa Garota de Ipanema", disse.

Fora a canção de Jobim, de material brasileiro Gil cantou somente "Sítio do Picapau Amarelo", "Esperando na Janela", "A Novidade" e "Vamos Fugir".

De resto, uma seleção infinita com "Time Will Tell", "Three Little Bird", "No Woman no Cry" e "Buffalo Soldier", entre outras.

Este show já percorreu mais 20 cidades na Europa. Passou por Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Luxemburgo e França. O grupo de Gil tem 27 pessoas, sendo 12 artistas e o restante parte da equipe técnica, produção e familiares dos músicos.

A única cidade não-européia na qual Gil se apresentou foi Baalbeck, no Líbano. "Esta foi minha maior surpresa. A cidade é linda, com uma arquitetura só comparável ao Coliseu e o público, de uma energia imensa", conta Gil.

Viajando com obras de Jorge Mautner na bagagem, eis que Gil propõe caos ao público mais "eye brown" de jazz. O cantor tentava explicar sua escolha pelo reggae, com seu jeito filosofal de dizer o preto no branco. "O reggae faz parte da cultura brasileira", disse. "Este show é baseado no meu novo álbum 'Kaya N'Gan Daya', um tributo a Bob Marley". Enquanto esculpia suas citações francesas, o público respondia com "ça va, ça va". "Se vocês quiserem eu continuo. "Oiu ou non'?" Foi "oui" e o show alcançou a pontuação final.

A apresentação durou cerca de duas horas, tendo sido apenas a meia-hora final realmente entrosada. Foi quando o jazz foi para a China, o Brasil dominou a Jamaica e Gil arriscou "tutuyer" em francês.

Leia mais:
  • "Jazz in Marciac" é um dos mais reservados encontros de jazz

  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página