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10/08/2002 - 04h37

Obra vê peregrinação histórica da gripe

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ALESSANDRO GRECO
da Folha de S.Paulo

"Essa é uma história policial. Há cerca de 80 anos houve um assassinato em massa que jamais foi levado à Justiça."

As palavras do patologista norte-americano Jeffery Taubenberger definem o que foi a pandemia de gripe de 1918, que matou cerca de 40 milhões de pessoas em poucos meses. Somente com um artigo publicado na revista "Science", por Taubenberger, sobre as características do vírus dessa gripe, o tema voltou à tona.

A repórter de ciência do "The New York Times" Gina Kolata, 54, escreveu sobre o tema na época do artigo. Ficou fascinada e fez o livro "Gripe: A História da Pandemia de 1918", recém-lançado no Brasil. Em entrevista à Folha, ela fala das dificuldades de se prever quando uma nova gripe mortal vai aparecer.

Folha - A gripe de 1918 não deveria ser lembrada para que pudéssemos nos prevenir contra uma próxima epidemia?
Gina Kolata
- Isso é provavelmente verdade, mas durante muito tempo não houve nada que se pudesse fazer. Somente na década de 70 começaram a aparecer vacinas efetivas contra a gripe. Concordo que devemos estudá-la. Acho que o interesse atual em entender o que era o vírus de 1918 pode ajudar a deter a próxima gripe "matadora", quando chegar.

Folha - Então haverá um novo vírus "matador"?
Kolata
- Já que ocorreu uma vez, ele pode se modificar de novo. Talvez uma nova combinação de mutações possa criar outra gripe terrível. Por exemplo, em 1997, em Hong Kong, houve um vírus mortal. O que salvou as pessoas foi que ele não se transmitia através de pessoas, mas de galinhas e patos para pessoas. Se essa gripe sofresse uma mutação e passsasse a ser transmitida por pessoas, então haveria uma epidemia.

Folha - Há como prever quando um novo vírus vai aparecer?
Kolata
- Não é fácil, mas os cientistas acreditam que uma forma é estudar o que ocorre no sudeste da Ásia, onde começaram todas as epidemias graves. É preciso também olhar a gripe que irá aparecer no final do verão, pois os vírus do próximo ano geralmente começam a surgir nessa época. O problema é que não se sabe o que faz um vírus da gripe ser mortal.

Folha - Por que as gripes mortais começaram no sudeste da Ásia?
Kolata
- Se alguém pega uma gripe que sofreu muitas mutações, o vírus pode ser tão estranho ao sistema imunológico que não há forma dele se defender. No sudeste da Ásia há pessoas e animais vivendo muito próximos. O que se acredita é que a gripe das aves não afeta humanos, mas pode afetar porcos, e então, o vírus dos animais se misturam, gerando um novo tipo que pode contaminar as pessoas. É daí que surge uma gripe humana terrível.

Folha - E como podemos nos prevenir contra uma gripe dessas?
Kolata
- Primeiro, espero que haja uma vacina. Há também novas drogas que provavelmente irão impedir que você fique doente. Hoje também sabemos muito mais do que em 1918 sobre como os vírus se propagam. Eles também não tinham antibióticos, e as pessoas às vezes não morriam de gripe, mas de outra infecção causada por uma bactéria no organismo. Os hospitais têm respiradores artificiais, o que ajuda. Não há solução perfeita.
 

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