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15/08/2002 - 03h04

Peça "FrankensteinS" estréia hoje em São Paulo

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Rebeldes com causa, o monstro Frankenstein e a heroína gótica Jane Eyre saem da clausura das páginas do século 19 e enfrentam seus escritores no palco, Mary Shelley e Charlotte Brontë. Em "FrankensteinS", peça que estréia hoje em São Paulo e reintroduz Jô Soares no circuito teatral como produtor, tradutor e diretor, os quatro ícones da ficção e da realidade na literatura inglesa, clássica e universal, são embaralhados num mesmo plano.

A peça do dramaturgo cubano naturalizado francês Eduardo Manet, originalmente "A Noite em que Mary Shelley se Encontrou com Charlotte Brontë" (78), começa com Shelley (1797-1851) em sua casa com Frankenstein. Não apenas um monstro, mas também marido, filho, mordomo, sabe-se lá. Em seguida, recebem a visita de Brontë (1816-55), não Emily, a autora de "O Morro dos Ventos Uivantes", mas sua irmã, Charlotte, que busca na casa de Shelley um refúgio.

Não demora, porém, e sua criatura, Jane Eyre, a moça pobre e órfã, bate à porta para lhe cobrar destino mais condizente. Seguem-se diálogos marcados pelo embate criadoras-criaturas, pleno em inconformismos, por um lado, e de justificativas e sem-concessões, por outro.

Frankenstein foi concebido por Shelley quando a escritora tinha 18 anos. Segundo o intérprete do monstro, Paulo Gorgulho, ele pede a reversão do papel de quem se alimenta de ódio e rancor. "Frankenstein se diz um cara bom, bacana, capaz de produzir muito amor, mas as pessoas só o vêem pela aparência", diz Gorgulho, 43. O ator é caracterizado com máscara "de cor de pele pálida como a de um cadáver", além de sapato cuja plataforma, "dentro e fora", o deixa com 15 cm a mais.

Em seu primeiro espetáculo sem a guarida do grupo Tapa, ao qual está ligada desde 86, Clara Carvalho, 42, concebe uma Shelley "cínica, irônica, cruel, uma mãe terrível", distinta, portanto, da impressão inicial que teve do romance, algo lírica, poética até. O jogo de espelho criado por Manet é completado por Brontë e Jane Eyre, interpretadas por Mika Lins e Bete Coelho. Não por acaso, as atrizes usam o mesmo corte de cabelo, curtinho, e o mesmo vestido preto da época vitoriana.

"Charlotte escreveu o romance "Jane Eyre" com pseudônimo masculino, a história de uma mulher que pensa, que trabalha, que viaja", diz Mika, 34. A Brontë da atriz seria dona de uma "visão libertária", mas perseguida justamente pelos seus acertos. É a deixa para a personagem que mais catalisa a revolta.

No princípio, ainda nas leituras de mesa, nas quais Jô esquadrinhou a montagem, Bete inclinou-se para o papel de Shelley. Mas a forte identificação com o ímpeto de Jane Eyre a fez mudar de rumo, como intuía o diretor.

"A Jane tem mais a ver comigo. Na peça, ela é diferente do livro e dos filmes: reivindica tudo que não é, escracha do romantismo, destrói o casamento, quer matar o filho e opta pela liberdade em ser adulta", diz Bete, 36. Dirigida por Antunes Filho, José Celso Martinez Corrêa e Gerald Thomas, a atriz vê em Jô uma pessoa "absurdamente teatral". "Acho que esse intervalo em que ele ficou sem fazer teatro [desde o início dos anos 80, exceção aos solos] deve tê-lo deixado com apetite voraz em relação à montagem", diz Bete.

Sob a batuta de um comediante nato, será que "FrankensteinS" se configura como uma comédia rasgada? Não necessariamente. Jô, 64, destaca o "humor inteligente" de Manet, à inglesa.

FRANKENSTEINS - De: Eduardo Manet. Direção e tradução: Jô Soares. Com: Bete Coelho, Clara Carvalho, Mika Lins e Paulo Gorgulho. Cenografia: Daniela Thomas e Cortez. Onde: teatro Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3258-3616). Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h. Quanto: de R$ 40 a R$ 50.
 

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