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17/08/2002
-
02h53
WALNICE NOGUEIRA GALVÃO
especial para a Folha de S.Paulo
Quando Roberto Ventura entrou em minha vida, não o conhecia, e nunca imaginei o lugar que nela viria a ocupar.
Silviano Santiago me enviou um trabalho feito por seus alunos Flora Süssekind e Roberto Ventura. Tratava-se de um brilhante resgate da obra de Manuel Bonfim, logo publicado em "Almanaque Cadernos de Literatura e Ensaio", que eu então dirigia juntamente com Bento Prado Jr.. Seria depois o livro "História e Dependência", de 1984.
Em seguida, Roberto se tornaria orientando de João Alexandre Barbosa, no departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, onde desenvolveria sua carreira universitária.
Antes disso passaria pela pós-graduação na Alemanha, em Bochum, onde fez seu doutorado. No período, fui sua orientadora oficial, isto é, assinava os papéis, enquanto João Alexandre, que era o orientador de fato, aguardava uma vaga.
Aqui, tornou a defender a tese, que tive o prazer de arguir. Saiu-se muito bem; a tese, que estudava a crítica literária e as implicações para o pensamento sobre o Brasil dos intelectuais da virada de século, tornou-se o livro "Estilo Tropical", de 1991.
No começo dos anos 80, caberia a mim a tarefa de fazer a "biografia intelectual" para uma antologia de Euclydes da Cunha, coordenada por Alfredo Bosi, José Carlos Garbuglio e Valentim Faciolli (Ática).
Quando desisti, Roberto Ventura foi convidado, e, embora o livro não se concretizasse, este passaria a ser o projeto central de sua vida, que o ocuparia nos últimos 15 anos a ponto de se tornar uma obsessão, uma boa obsessão, levando-o longe na pesquisa dos documentos e nos estudos.
Tornou-se ativo membro da Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo, transformando-se em peça-chave e figura querida.
Sua diplomacia e talento para a conciliação foram aí de muita valia e se manifestariam também em outras instâncias. E passaríamos a constituir uma dupla em incontáveis congressos, ciclos e jornadas.
De seus trabalhos, após a publicação no ano de 2000 de "Folha Explica Casa Grande & Senzala", restam inéditos, entre outros: "Folha Explica Os Sertões"; três ensaios euclidianos, um que escreveu a meu pedido para "D.O.Leitura" (setembro), um segundo para a "Revista USP" e um terceiro para a revista "Canudos", da Bahia; e a "Cronologia" para o número especial dos "Cadernos de Literatura" do Instituto Moreira Salles.
Nem é preciso dizer que deixa uma lacuna certamente insanável, além da falta que faz a seus familiares, a quem era dedicadíssimo, bem como a seus numerosos amigos, cativados por suas excelentes maneiras e generosidade.
Walnice Nogueira Galvão é professora titular de literatura na USP e autora de, entre outros, "Guimarães Rosa" (Publifolha) e "No Calor da Hora" (ed. Ática).
Roberto Ventura deixa lacuna insanável
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especial para a Folha de S.Paulo
Quando Roberto Ventura entrou em minha vida, não o conhecia, e nunca imaginei o lugar que nela viria a ocupar.
Silviano Santiago me enviou um trabalho feito por seus alunos Flora Süssekind e Roberto Ventura. Tratava-se de um brilhante resgate da obra de Manuel Bonfim, logo publicado em "Almanaque Cadernos de Literatura e Ensaio", que eu então dirigia juntamente com Bento Prado Jr.. Seria depois o livro "História e Dependência", de 1984.
Em seguida, Roberto se tornaria orientando de João Alexandre Barbosa, no departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, onde desenvolveria sua carreira universitária.
Antes disso passaria pela pós-graduação na Alemanha, em Bochum, onde fez seu doutorado. No período, fui sua orientadora oficial, isto é, assinava os papéis, enquanto João Alexandre, que era o orientador de fato, aguardava uma vaga.
Aqui, tornou a defender a tese, que tive o prazer de arguir. Saiu-se muito bem; a tese, que estudava a crítica literária e as implicações para o pensamento sobre o Brasil dos intelectuais da virada de século, tornou-se o livro "Estilo Tropical", de 1991.
No começo dos anos 80, caberia a mim a tarefa de fazer a "biografia intelectual" para uma antologia de Euclydes da Cunha, coordenada por Alfredo Bosi, José Carlos Garbuglio e Valentim Faciolli (Ática).
Quando desisti, Roberto Ventura foi convidado, e, embora o livro não se concretizasse, este passaria a ser o projeto central de sua vida, que o ocuparia nos últimos 15 anos a ponto de se tornar uma obsessão, uma boa obsessão, levando-o longe na pesquisa dos documentos e nos estudos.
Tornou-se ativo membro da Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo, transformando-se em peça-chave e figura querida.
Sua diplomacia e talento para a conciliação foram aí de muita valia e se manifestariam também em outras instâncias. E passaríamos a constituir uma dupla em incontáveis congressos, ciclos e jornadas.
De seus trabalhos, após a publicação no ano de 2000 de "Folha Explica Casa Grande & Senzala", restam inéditos, entre outros: "Folha Explica Os Sertões"; três ensaios euclidianos, um que escreveu a meu pedido para "D.O.Leitura" (setembro), um segundo para a "Revista USP" e um terceiro para a revista "Canudos", da Bahia; e a "Cronologia" para o número especial dos "Cadernos de Literatura" do Instituto Moreira Salles.
Nem é preciso dizer que deixa uma lacuna certamente insanável, além da falta que faz a seus familiares, a quem era dedicadíssimo, bem como a seus numerosos amigos, cativados por suas excelentes maneiras e generosidade.
Walnice Nogueira Galvão é professora titular de literatura na USP e autora de, entre outros, "Guimarães Rosa" (Publifolha) e "No Calor da Hora" (ed. Ática).
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