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19/08/2002
-
09h19
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial da Folha a Gramado
O júri do 30º Festival de Gramado, independentemente de erros e acertos pontuais, mostrou uma coerência e uma ousadia raras nas competições de cinema do país.
A vitória categórica de "Durval Discos" causou surpresa, não porque o filme não tivesse qualidades para isso, mas justamente pelo contrário. O que surpreendeu foi o fato de os jurados não terem levado em conta os fatores extracinematográficos que costumam ser decisivos em festivais.
O filme de Anna Muylaert tinha contra si vários desses fatores. Era a única obra de estreante entre trabalhos de veteranos e não abordava nenhum "problema social urgente", o que o colocava em aparente desvantagem diante de "Uma Onda no Ar", de Helvécio Ratton, e "Dois Perdidos numa Noite Suja", de José Joffily.
Outro ponto contra "Durval Discos" seria sua localização geográfica muito marcada. Mais do que paulistano, ele é ostensivamente pinheirense. Conta a história de um vendedor de discos quarentão que vive sozinho com a mãe meio esclerosada e que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando uma criança é abandonada em sua casa.
Por fim, festivais de cinema têm dificuldade em assimilar obras de gênero cambiante e indefinível, como "Durval Discos" -uma mistura de comédia urbana, drama surrealista e suspense policial.
No trânsito entre esses registros, o filme por vezes perde força, parece que vai desabar, mas sempre consegue se reerguer, seja por algum achado de roteiro, seja pela brilhante atuação dos protagonistas Ary França e Etty Fraser.
Uma das decisões mais corajosas da diretora foi a de manter o tempo todo sua premissa de longos planos de conjunto, com câmera fixa e virtual ausência de closes, em vez de aumentar o número de cortes e acelerar o ritmo à medida que os acontecimentos se tornam mais dramáticos.
Essa relativa fixidez causa no espectador um certo desconforto, amenizado pelo humor insólito das situações e pela excelente trilha sonora de MPB dos anos 70.
O júri de Gramado premiou essa originalidade, reservando a diplomacia apenas para os Kikitos de atriz e ator, por meio dos quais contemplou as duas obras que eram consideradas favoritas.
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Gramado
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Júri de Gramado ignora temas sociais e celebra ousadia
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enviado especial da Folha a Gramado
O júri do 30º Festival de Gramado, independentemente de erros e acertos pontuais, mostrou uma coerência e uma ousadia raras nas competições de cinema do país.
A vitória categórica de "Durval Discos" causou surpresa, não porque o filme não tivesse qualidades para isso, mas justamente pelo contrário. O que surpreendeu foi o fato de os jurados não terem levado em conta os fatores extracinematográficos que costumam ser decisivos em festivais.
O filme de Anna Muylaert tinha contra si vários desses fatores. Era a única obra de estreante entre trabalhos de veteranos e não abordava nenhum "problema social urgente", o que o colocava em aparente desvantagem diante de "Uma Onda no Ar", de Helvécio Ratton, e "Dois Perdidos numa Noite Suja", de José Joffily.
Outro ponto contra "Durval Discos" seria sua localização geográfica muito marcada. Mais do que paulistano, ele é ostensivamente pinheirense. Conta a história de um vendedor de discos quarentão que vive sozinho com a mãe meio esclerosada e que tem sua vida virada de cabeça para baixo quando uma criança é abandonada em sua casa.
Por fim, festivais de cinema têm dificuldade em assimilar obras de gênero cambiante e indefinível, como "Durval Discos" -uma mistura de comédia urbana, drama surrealista e suspense policial.
No trânsito entre esses registros, o filme por vezes perde força, parece que vai desabar, mas sempre consegue se reerguer, seja por algum achado de roteiro, seja pela brilhante atuação dos protagonistas Ary França e Etty Fraser.
Uma das decisões mais corajosas da diretora foi a de manter o tempo todo sua premissa de longos planos de conjunto, com câmera fixa e virtual ausência de closes, em vez de aumentar o número de cortes e acelerar o ritmo à medida que os acontecimentos se tornam mais dramáticos.
Essa relativa fixidez causa no espectador um certo desconforto, amenizado pelo humor insólito das situações e pela excelente trilha sonora de MPB dos anos 70.
O júri de Gramado premiou essa originalidade, reservando a diplomacia apenas para os Kikitos de atriz e ator, por meio dos quais contemplou as duas obras que eram consideradas favoritas.
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