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20/08/2002
-
02h40
Para quem passou pelo que ele passou, ao longo de mais de dez anos de trabalho médico voluntário no Carandiru, seria de esperar que isso fosse o suficiente. Mas Drauzio Varella tem ânimo para muito mais: "Sempre tive curiosidade de conhecer as favelas cariocas. E fiquei entusiasmado com a possibilidade de chegar perto disso como parte de um trabalho".
Seu roteiro para "Dança das Marés" é uma grande colagem de citações dos meninos que registra histórias corriqueiras da vida de crianças e adolescentes. Mas "fica claro, em determinado momento, que eles não estão morando em qualquer lugar".
No primeiro dia com os meninos, Varella fez um traço dividindo o quadro negro e perguntou: "o que morreu quando vocês deixaram de ser crianças e entraram na adolescência? E o que nasceu?". As respostas formam um painel "que poderia ser incluído num livro de psicologia sobre a adolescência e a infância".
O trabalho de Bertazzo alterou não só a rotina dos meninos. "Este tipo de intervenção tem um impacto enorme. Mexeu com a vida deles, com a dos pais, dos amigos, etc.". Para Varella, o projeto constitui uma opção concreta para os meninos. Do outro lado, fica a sedutora proteção dos traficantes. "O tráfico exerce um fascínio, porque o traficante tem mulher, dinheiro e por isso é respeitado."
A violência à qual esses adolescentes estão submetidos não é igual àquela a que estão submetidos os adolescentes da classe média: "Hoje nenhum adolescente anda na rua sem medo. Eles, na Maré, também não andam, só que lá o medo é diferente. Ali o temor é ser pego no meio de um tiroteio -acontece quase todo dia".
As impressões de Varella, em contraponto às falas recolhidas, estão no livro "Maré Vida na Favela" (Casa da Palavra), que será distribuído no espetáculo. Ilustrado com fotos de Pedro Seiblitz, o livro traz texto da arquiteta Paola Berenstein Jacques e comentário de Ivaldo Bertazzo.
Roteiro de "Dança das Marés" é construído com citações dos meninos
da Folha de S.PauloPara quem passou pelo que ele passou, ao longo de mais de dez anos de trabalho médico voluntário no Carandiru, seria de esperar que isso fosse o suficiente. Mas Drauzio Varella tem ânimo para muito mais: "Sempre tive curiosidade de conhecer as favelas cariocas. E fiquei entusiasmado com a possibilidade de chegar perto disso como parte de um trabalho".
Seu roteiro para "Dança das Marés" é uma grande colagem de citações dos meninos que registra histórias corriqueiras da vida de crianças e adolescentes. Mas "fica claro, em determinado momento, que eles não estão morando em qualquer lugar".
No primeiro dia com os meninos, Varella fez um traço dividindo o quadro negro e perguntou: "o que morreu quando vocês deixaram de ser crianças e entraram na adolescência? E o que nasceu?". As respostas formam um painel "que poderia ser incluído num livro de psicologia sobre a adolescência e a infância".
O trabalho de Bertazzo alterou não só a rotina dos meninos. "Este tipo de intervenção tem um impacto enorme. Mexeu com a vida deles, com a dos pais, dos amigos, etc.". Para Varella, o projeto constitui uma opção concreta para os meninos. Do outro lado, fica a sedutora proteção dos traficantes. "O tráfico exerce um fascínio, porque o traficante tem mulher, dinheiro e por isso é respeitado."
A violência à qual esses adolescentes estão submetidos não é igual àquela a que estão submetidos os adolescentes da classe média: "Hoje nenhum adolescente anda na rua sem medo. Eles, na Maré, também não andam, só que lá o medo é diferente. Ali o temor é ser pego no meio de um tiroteio -acontece quase todo dia".
As impressões de Varella, em contraponto às falas recolhidas, estão no livro "Maré Vida na Favela" (Casa da Palavra), que será distribuído no espetáculo. Ilustrado com fotos de Pedro Seiblitz, o livro traz texto da arquiteta Paola Berenstein Jacques e comentário de Ivaldo Bertazzo.
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