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24/08/2002
-
03h23
da Folha de S.Paulo
Banda amiga da direção da MTV desde sempre, o sexteto Titãs, 20, sagrou-se campeão do 8º Video Music Brasil, numa das mais comportadas e tediosas cerimônias da história da premiação anual do videoclipe nacional. Levaram os prêmios "nobres" do VMB: escolha da audiência, clipe do ano e clipe de rock.
A tendência retrô se reproduziu em outra categoria de frente, a de pop, que tinha Lulu Santos e Nando Reis concorrendo e foi vencida pelo também veterano Frejat.
Na categoria democlipe, ilha supostamente dedicada a quem está começando e ainda não teve acesso ao mundinho pop, venceram os Ratos de Porão. Além de terem cerca de 20 anos de atividade, são liderados por João Gordo, funcionário emérito da emissora.
Público votante e jurados especializados caíram na cilada de um nascente e precoce conservadorismo da "TV jovem". Em enquete promovida pela Folha Online, até as 13h de ontem 85% dos opinantes respondiam "sim" à pergunta "você acha que o VMB tem alguma importância no cenário atual da música brasileira?".
Amontoados, esses dados confirmam de viés o laço entre o estado de calamidade da indústria musical brasileira e a postura "a crise não nos pegou" que a MTV resolveu adotar neste ano. Crescem o faturamento e a audiência, mas com ela crescem, de dentro para fora, acomodação, condescendência e autocomplacência.
É aí que Supla, outro macaco velho, assume ares de rebelde com causa, fantasiado de pirata. Criticou a si (o disco de platina que recebeu em 2001 era ilegítimo) e à indústria a que pertence (aludindo à pirataria, o principal problema atual das gravadoras, em parte agravado por elas próprias).
Ou seja, Supla fez a crítica e a autocrítica que a MTV se "esqueceu" de fazer -talvez porque ela própria hoje pirateie artistas que pagam mico no VMB, suprimindo pagamentos de seus direitos autorais por litígios judiciais.
A MTV caiu em mais ciladas armadas por ela própria. Protagonizado por Fernanda Lima, tão exuberante quanto nervosa, o roteiro da premiação foi um espetáculo de constrangimento, que fez o público presente ir afundando na cadeira a cada nova intervenção.
Apesar de não possuir tino humorístico, Fernanda suportou um texto de apoio primário, que se esparramava aos apresentadores de ocasião em piadas tolas, grosserias sem graça de Hermes & Renato, reflexões sobre o nada.
Discursos-paisagem toscos sobre internet ou direção de arte (pobre Skank, que vexame colossal...) pareciam apenas destinados a preencher um vácuo temático aterrorizante. E a feliz intervenção de Cazé, fundindo standards da pop-MPB, estilo e campanha pelo voto consciente terminou inconvincente, tipo "vamos nos livrar logo desse assunto incômodo".
Pronto? Não, para quem seguia rumo à próxima parada, pós-cerimônia, havia ainda o indizível show do Reggae B (em mais um último desfile de astros dos anos 80), para arruinar a festa.
MTV isola revelações e consagra geração quarentona no VMB
PEDRO ALEXANDRE SANCHESda Folha de S.Paulo
Banda amiga da direção da MTV desde sempre, o sexteto Titãs, 20, sagrou-se campeão do 8º Video Music Brasil, numa das mais comportadas e tediosas cerimônias da história da premiação anual do videoclipe nacional. Levaram os prêmios "nobres" do VMB: escolha da audiência, clipe do ano e clipe de rock.
A tendência retrô se reproduziu em outra categoria de frente, a de pop, que tinha Lulu Santos e Nando Reis concorrendo e foi vencida pelo também veterano Frejat.
Na categoria democlipe, ilha supostamente dedicada a quem está começando e ainda não teve acesso ao mundinho pop, venceram os Ratos de Porão. Além de terem cerca de 20 anos de atividade, são liderados por João Gordo, funcionário emérito da emissora.
Público votante e jurados especializados caíram na cilada de um nascente e precoce conservadorismo da "TV jovem". Em enquete promovida pela Folha Online, até as 13h de ontem 85% dos opinantes respondiam "sim" à pergunta "você acha que o VMB tem alguma importância no cenário atual da música brasileira?".
Amontoados, esses dados confirmam de viés o laço entre o estado de calamidade da indústria musical brasileira e a postura "a crise não nos pegou" que a MTV resolveu adotar neste ano. Crescem o faturamento e a audiência, mas com ela crescem, de dentro para fora, acomodação, condescendência e autocomplacência.
É aí que Supla, outro macaco velho, assume ares de rebelde com causa, fantasiado de pirata. Criticou a si (o disco de platina que recebeu em 2001 era ilegítimo) e à indústria a que pertence (aludindo à pirataria, o principal problema atual das gravadoras, em parte agravado por elas próprias).
Ou seja, Supla fez a crítica e a autocrítica que a MTV se "esqueceu" de fazer -talvez porque ela própria hoje pirateie artistas que pagam mico no VMB, suprimindo pagamentos de seus direitos autorais por litígios judiciais.
A MTV caiu em mais ciladas armadas por ela própria. Protagonizado por Fernanda Lima, tão exuberante quanto nervosa, o roteiro da premiação foi um espetáculo de constrangimento, que fez o público presente ir afundando na cadeira a cada nova intervenção.
Apesar de não possuir tino humorístico, Fernanda suportou um texto de apoio primário, que se esparramava aos apresentadores de ocasião em piadas tolas, grosserias sem graça de Hermes & Renato, reflexões sobre o nada.
Discursos-paisagem toscos sobre internet ou direção de arte (pobre Skank, que vexame colossal...) pareciam apenas destinados a preencher um vácuo temático aterrorizante. E a feliz intervenção de Cazé, fundindo standards da pop-MPB, estilo e campanha pelo voto consciente terminou inconvincente, tipo "vamos nos livrar logo desse assunto incômodo".
Pronto? Não, para quem seguia rumo à próxima parada, pós-cerimônia, havia ainda o indizível show do Reggae B (em mais um último desfile de astros dos anos 80), para arruinar a festa.
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