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26/08/2002
-
13h36
da Folha de S.Paulo
Depois da bomba sobre o cancelamento do Free Jazz e do sonho de ver Radiohead ao vivo ter ido por água abaixo, os shows no Brasil do duo Damon & Naomi ganham um brilho especial.
Remanescentes de uma das bandas mais influentes do pós-punk -o trio cult norte-americano Galaxie 500-, o baterista Damon Krukowski e a baixista Naomi Yang já pensaram em abandonar a música e investiram em uma editora de livros de literatura experimental.
"Passamos a tocar em casa por prazer. Levou um tempo, mas percebemos que poderia ser legal levar novamente ao público o nosso prazer íntimo de fazer música", explica Damon.
"Não vivemos mais de música, o que por um lado é ótimo: tocamos quando queremos, compomos quando estamos com vontade e não temos o compromisso de gravar um disco por ano", diz Naomi.
Hoje, a dupla coleciona cinco discos carregados da herança melancólica e etérea do antigo grupo: "More Sad Hits" (92) -que nasceu como um "álbum de despedida" e acabou virando o primeiro da série-, "Wondrous World of Damon & Naomi" (95), "Playback Singers" (98), "Damon & Naomi With Ghost" (2000), gravado com parte do grupo japonês de rock psicodélico Ghost, e "Song to the Siren: Live in San Sebastian", lançado neste ano nos EUA.
É o guitarrista do Ghost, Michio Kurihara, quem tocará com a dupla na terça (27/8) e na quarta-feira (28/8) no Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141, tel. 0/xx/ 11/5080-3000), com ingressos a R$ 20.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida ao Folhateen.
Folha - Por que escrever tanto a respeito de tristeza e de melancolia?
Damon - Canções tristes são um paradoxo porque música é algo muito positivo, tanto de ouvir quanto de tocar, e, mesmo sendo melancólica, ela nos traz um sentimento bom. Muita gente nos diz: "A música é ótima, mas é muito, muito triste". Só que há uma dose de esperança na melancolia. Até onde compreendo a língua portuguesa, a palavra "saudade" é assim: algo triste, mas não ruim. Não acho que existe só uma idéia triste em nossa música. Ela agrega sentimentos de contentamento e apreciação da vida. Percebemos isso nos shows. Quando você não é o vocalista, percebe o som de uma forma mais geral. Quando cantamos, descobrimos que as pessoas realmente ouvem as letras. É como uma conversa ou uma confissão. A conexão se revela mais intensa.
Folha - Vocês ainda ouvem punk rock hoje em dia?
Naomi - Não muito. Ficamos melancólicos demais quando ouvimos punk rock (risos).
Damon - Outro dia fomos assistir a um documentário sobre os Sex Pistols e estávamos praticamente chorando (risos). Ficamos tão sensíveis a isso. Na tela passava a imagem de punks quebrando guitarras e nós achando aquilo uma "gracinha". O que ficou foi uma nostalgia. E o pior é que hoje o que mais ouvimos são as músicas que os punks detestavam: folk anos 60 e psicodelia.
Naomi - É, hoje gostamos de todos os hippies que queríamos matar quando éramos punks.
Folha - Como é ouvir Galaxie hoje?
Damon - É engraçado... Aquela música foi totalmente acidental. Era o tipo de som que fazíamos juntos sem nenhum plano ou estudo. Ouvir o Galaxie 500 hoje é como ler uma carta que se escreveu há anos ou olhar para uma foto de quando se era bem mais jovem. É essa a sensação. A música que toca nossas cabeças hoje é diferente. Não queremos mais soar como o Velvet Undergroud.
Naomi - Não éramos capazes de tocar de nenhuma outra maneira (risos). Quando o Galaxie 500 terminou, em 91, a banda não tinha a aura que tem hoje. Nosso último show foi visto por 15 pessoas. Não éramos populares, não havia pressão para que continuássemos.
Folha - O que esperam da passagem pelo Brasil?
Naomi - Nunca estivemos na América do Sul. Não sei o que esperar.
Damon - Por outro lado, somos fãs de música brasileira, e as letras que já traduzimos nos deram uma idéia do país. Sabemos também que há uma grande colônia japonesa aí.
Damon & Naomi, ex-Galaxie 500, se apresentam no Brasil
FERNANDA MENAda Folha de S.Paulo
Depois da bomba sobre o cancelamento do Free Jazz e do sonho de ver Radiohead ao vivo ter ido por água abaixo, os shows no Brasil do duo Damon & Naomi ganham um brilho especial.
Remanescentes de uma das bandas mais influentes do pós-punk -o trio cult norte-americano Galaxie 500-, o baterista Damon Krukowski e a baixista Naomi Yang já pensaram em abandonar a música e investiram em uma editora de livros de literatura experimental.
"Passamos a tocar em casa por prazer. Levou um tempo, mas percebemos que poderia ser legal levar novamente ao público o nosso prazer íntimo de fazer música", explica Damon.
"Não vivemos mais de música, o que por um lado é ótimo: tocamos quando queremos, compomos quando estamos com vontade e não temos o compromisso de gravar um disco por ano", diz Naomi.
Hoje, a dupla coleciona cinco discos carregados da herança melancólica e etérea do antigo grupo: "More Sad Hits" (92) -que nasceu como um "álbum de despedida" e acabou virando o primeiro da série-, "Wondrous World of Damon & Naomi" (95), "Playback Singers" (98), "Damon & Naomi With Ghost" (2000), gravado com parte do grupo japonês de rock psicodélico Ghost, e "Song to the Siren: Live in San Sebastian", lançado neste ano nos EUA.
É o guitarrista do Ghost, Michio Kurihara, quem tocará com a dupla na terça (27/8) e na quarta-feira (28/8) no Sesc Vila Mariana (R. Pelotas, 141, tel. 0/xx/ 11/5080-3000), com ingressos a R$ 20.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida ao Folhateen.
Folha - Por que escrever tanto a respeito de tristeza e de melancolia?
Damon - Canções tristes são um paradoxo porque música é algo muito positivo, tanto de ouvir quanto de tocar, e, mesmo sendo melancólica, ela nos traz um sentimento bom. Muita gente nos diz: "A música é ótima, mas é muito, muito triste". Só que há uma dose de esperança na melancolia. Até onde compreendo a língua portuguesa, a palavra "saudade" é assim: algo triste, mas não ruim. Não acho que existe só uma idéia triste em nossa música. Ela agrega sentimentos de contentamento e apreciação da vida. Percebemos isso nos shows. Quando você não é o vocalista, percebe o som de uma forma mais geral. Quando cantamos, descobrimos que as pessoas realmente ouvem as letras. É como uma conversa ou uma confissão. A conexão se revela mais intensa.
Folha - Vocês ainda ouvem punk rock hoje em dia?
Naomi - Não muito. Ficamos melancólicos demais quando ouvimos punk rock (risos).
Damon - Outro dia fomos assistir a um documentário sobre os Sex Pistols e estávamos praticamente chorando (risos). Ficamos tão sensíveis a isso. Na tela passava a imagem de punks quebrando guitarras e nós achando aquilo uma "gracinha". O que ficou foi uma nostalgia. E o pior é que hoje o que mais ouvimos são as músicas que os punks detestavam: folk anos 60 e psicodelia.
Naomi - É, hoje gostamos de todos os hippies que queríamos matar quando éramos punks.
Folha - Como é ouvir Galaxie hoje?
Damon - É engraçado... Aquela música foi totalmente acidental. Era o tipo de som que fazíamos juntos sem nenhum plano ou estudo. Ouvir o Galaxie 500 hoje é como ler uma carta que se escreveu há anos ou olhar para uma foto de quando se era bem mais jovem. É essa a sensação. A música que toca nossas cabeças hoje é diferente. Não queremos mais soar como o Velvet Undergroud.
Naomi - Não éramos capazes de tocar de nenhuma outra maneira (risos). Quando o Galaxie 500 terminou, em 91, a banda não tinha a aura que tem hoje. Nosso último show foi visto por 15 pessoas. Não éramos populares, não havia pressão para que continuássemos.
Folha - O que esperam da passagem pelo Brasil?
Naomi - Nunca estivemos na América do Sul. Não sei o que esperar.
Damon - Por outro lado, somos fãs de música brasileira, e as letras que já traduzimos nos deram uma idéia do país. Sabemos também que há uma grande colônia japonesa aí.
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