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27/08/2002
-
13h08
da Folha de S.Paulo
A despeito do conformismo reinante nas telas do mundo, o cinema de invenção está vivo. A prova dessa sobrevivência prodigiosa é "Samba Canção", o primeiro longa-metragem do mineiro Rafael Conde, 40.
O filme, que será exibido na mostra "Midnight Movies" do Festival do Rio (entre 26 de setembro e 10 de outubro) e ainda não tem data de lançamento nos cinemas, narra de maneira inventiva e fragmentada a saga de um cineasta independente para realizar seu primeiro longa.
Mas esqueça a choradeira autocomplacente a que costumam se entregar nossos diretores. "Samba Canção" é uma celebração do prazer de fazer cinema, na qual a diversão e a subversão comparecem em proporções iguais.
A grande sacada do filme é incorporar em sua própria textura o tema que aborda: a dificuldade de fazer cinema no Brasil.
As cores e o formato do que vemos na tela (35 milímetros, 16 mm, super-8, vídeo) vão mudando à medida que aumenta ou diminui o orçamento de que dispõe o personagem cineasta Zé Rocha (Nivaldo Pedrosa).
'Essa anarquia audiovisual corresponde à minha formação fragmentada', diz Conde. "Fiz super-8 , acompanhei o início do vídeo independente, fiz cinema, videoclipe e publicidade, e além disso vi muita televisão."
À heterogeneidade formal corresponde no filme uma mistura análoga de gêneros: documentário, aventura, chanchada, terror "trash" etc. Mas o fio da meada nunca se perde. Nem o humor.
Conde não esconde sua predileção pelo chamado cinema "marginal" que floresceu no Brasil nos anos 60 e 70 e que já foi homenageado em um de seus curtas, " Hora Vagabunda" (98).
Em "Samba Canção" as homenagens são explícitas: quando Zé Rocha vai a São Paulo, hospeda-se na Boca do Lixo e encontra casualmente o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que lhe confia os "cinco mandamentos do diretor de cinema".
Outra presença do cinema 'udigrudi' é a de Guará Rodrigues, ator-fetiche de Julio Bressane e Rogério Sganzerla.
Guará representa a si próprio. É contratado por Zé Rocha para atuar no seu filme. Junta-se ao diretor, à produtora Edna Marla (Yara de Novaes), à jovem atriz Lila Lessa (Carolina Duarte) e à mãe de Zé Rocha, dona Martírio (Teuda Bara), formando um exército Brancaleone disposto a tudo -até ao crime- para realizar o longa-metragem.
"Samba Canção" foi realizado com apenas R$ 450 mil (um vigésimo do orçamento de "Cidade de Deus"). À exceção de Guará, o excelente elenco principal é formado por atores vindos do teatro mineiro, com destaque para a veterana Teuda Bara, do Teatro Galpão, em seu primeiro longa.
"Samba Canção" renova produção marginal do cinema brasileiro
JOSÉ GERALDO COUTOda Folha de S.Paulo
A despeito do conformismo reinante nas telas do mundo, o cinema de invenção está vivo. A prova dessa sobrevivência prodigiosa é "Samba Canção", o primeiro longa-metragem do mineiro Rafael Conde, 40.
O filme, que será exibido na mostra "Midnight Movies" do Festival do Rio (entre 26 de setembro e 10 de outubro) e ainda não tem data de lançamento nos cinemas, narra de maneira inventiva e fragmentada a saga de um cineasta independente para realizar seu primeiro longa.
Mas esqueça a choradeira autocomplacente a que costumam se entregar nossos diretores. "Samba Canção" é uma celebração do prazer de fazer cinema, na qual a diversão e a subversão comparecem em proporções iguais.
A grande sacada do filme é incorporar em sua própria textura o tema que aborda: a dificuldade de fazer cinema no Brasil.
As cores e o formato do que vemos na tela (35 milímetros, 16 mm, super-8, vídeo) vão mudando à medida que aumenta ou diminui o orçamento de que dispõe o personagem cineasta Zé Rocha (Nivaldo Pedrosa).
'Essa anarquia audiovisual corresponde à minha formação fragmentada', diz Conde. "Fiz super-8 , acompanhei o início do vídeo independente, fiz cinema, videoclipe e publicidade, e além disso vi muita televisão."
À heterogeneidade formal corresponde no filme uma mistura análoga de gêneros: documentário, aventura, chanchada, terror "trash" etc. Mas o fio da meada nunca se perde. Nem o humor.
Conde não esconde sua predileção pelo chamado cinema "marginal" que floresceu no Brasil nos anos 60 e 70 e que já foi homenageado em um de seus curtas, " Hora Vagabunda" (98).
Em "Samba Canção" as homenagens são explícitas: quando Zé Rocha vai a São Paulo, hospeda-se na Boca do Lixo e encontra casualmente o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que lhe confia os "cinco mandamentos do diretor de cinema".
Outra presença do cinema 'udigrudi' é a de Guará Rodrigues, ator-fetiche de Julio Bressane e Rogério Sganzerla.
Guará representa a si próprio. É contratado por Zé Rocha para atuar no seu filme. Junta-se ao diretor, à produtora Edna Marla (Yara de Novaes), à jovem atriz Lila Lessa (Carolina Duarte) e à mãe de Zé Rocha, dona Martírio (Teuda Bara), formando um exército Brancaleone disposto a tudo -até ao crime- para realizar o longa-metragem.
"Samba Canção" foi realizado com apenas R$ 450 mil (um vigésimo do orçamento de "Cidade de Deus"). À exceção de Guará, o excelente elenco principal é formado por atores vindos do teatro mineiro, com destaque para a veterana Teuda Bara, do Teatro Galpão, em seu primeiro longa.
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