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30/08/2002 - 06h30

Nova versão do livro "Cidade de Deus" rebatiza personagens

FRANCESCA ANGIOLILLO
da Folha de S.Paulo

Ninguém mais se assombra. Sai um filme feito a partir de um texto literário e logo uma legião de pessoas faz coro: "O livro é melhor".

Opiniões à parte, elencar diferenças é inevitável. A maior delas está no foco narrativo. Enquanto no livro o narrador é externo à ação, no filme as histórias que compõem "a" história da favela são contadas por Busca-Pé.

Ganha o filme em homogeneidade -no livro, como o filme dividido em "histórias", é mais complicado seguir as trajetórias dos mais de cem personagens, que ganham maior ou menor peso protagônico, a cada subtrama do mosaico de Lins.

No caso de "Cidade de Deus", porém, as comparações vão além do filme-livro e se estendem ao livro-livro: Paulo Lins reviu as 550 páginas de seu texto original, de 1997, para uma edição que acaba de chegar às livrarias.

Nas cerca de 400 que agora voltam ao público, porém, as mudanças maiores não vêm da influência da tela do cinema. "Na verdade, a questão da mudança partiu dos tradutores estrangeiros", diz Lins, 44.

"Na França, Inglaterra, EUA, Dinamarca, Noruega, Suécia", enumera Lins, "tiveram dificuldade para traduzir o livro". O motivo, diz o escritor, era a especificidade da linguagem. Com as alterações, ele espera ter tornado a "linguagem coloquial um pouco mais acessível".

A nova extensão, admite, também é resultado de uma dificuldade em colocar livro tão longo no mercado internacional.

Além disso, praticamente todos os personagens foram rebatizados na nova versão do romance.

Se a identificação com os personagens do filme já era um pequeno quebra-cabeças -são várias as fusões que resultaram nas figuras da tela-, somando-se os novos nomes, o reconhecimento torna-se mais nebuloso.

Seria uma forma de proteger o livro do ataque comparativo? Lins nega, mas tampouco explica muito. "Como ia sair o filme, e eu ia mexer mesmo para o estrangeiro, mexi para o Brasil também."

O autor acredita que a estrutura do livro, no entanto, não mudou substancialmente: "Ele só ficou mais ágil. Mais direto".

Ainda que ache que certas sutilezas do ritmo narrativo do livro, indicando a passagem do tempo, fiquem limitadas a marcas visuais no filme, Lins se diz contente com o resultado, "por causa da visão interna, que tanto livro como filme compreendem".

Se tal visão interna está no livro (e, por consequência, no filme) é porque Lins viveu três décadas na comunidade. Isso, porém, não impede que a crítica venha da mesma comunidade. Em entrevista à Folha publicada na quarta passada, o rapper MV Bill disse que o filme "não traz nenhum benefício à Cidade de Deus".

Lins rebate a declaração do amigo, lembrando que seu trabalho e o de Bill, são expressões da mesma fonte: "É a mesma linguagem, o mesmo tudo. Se o livro não ajudar em nada, o trabalho dele também vai por água abaixo".

CIDADE DE DEUS - Escrito em 1997. De: Paulo Lins. Editora: Companhia das Letras (tel. 0/xx/11/ 3167-0801; www.companhiadasletras.com.br). Segunda edição, revista pelo autor. 406 págs. R$ 34.

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