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04/08/2000 - 03h51

Crítica: Branco de alma negra, se branqueia na bossa nova

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da Folha de S.Paulo

Mineiríssimo numa clave que raramente passa pelo clube da esquina, João Bosco deve ser o mais negro dos artistas brancos da MPB. Sua obra, em altos e baixos, costuma refletir com precisão os altos e baixos de tal característica.

Rendeu momentos de excelência, como "Gagabirô" (84) e "Cabeça de Nego" (86), em que estudava Clementina de Jesus, Pixinguinha, João da Baiana, Donga e Paulinho da Viola.

Na primeira fase desse perfil, construiu catedrais de samba fortemente africanizado nos impetuosos álbuns dos anos 70, período em que também começou a ser engolido por vozes cheias de personalidade, como as de Elis Regina, Marlene, Ademilde Fonseca, Elizeth Cardoso, Ney Matogrosso, Clara Nunes, Zizi Possi...

Ele costuma apaixonar representantes das alas conservadoras da MPB, assim como músicos e entusiastas da técnica e da perícia, formalistas em geral.

Atento a essa curva, passou do emocionalismo dos temas
macumbeiros/tradicionalistas/ interioranos a um insuspeito "formalismo espontâneo". Talvez descalibrado entre o formalismo e a negritude de alma, embrenhou-se algo excessivamente em maneirismos vocais e instrumentais.

Pois bem, chegue-se a "Na Esquina", talvez a mais madura das confluências de todos aqueles elementos (mais a poética inspirada/imatura do filho Francisco).

Se, há pouco, "As 1001 Aldeias" (97) exagerava nos maneirismos e neutralizava o inspirado "Dá Licença Meu Senhor" (95), aqui Bosco economiza geme-geme.

A tentativa de cutucar os ritmos orientais-afro-caribenhos-brasileiros
se esparrama. Pintam na caldeira reggae ("Mama Palavra"), world music pós-Paul Simon ("Na Esquina"), samba-enredo "cum" interior de Minas "cum" bossa nova ("Doce Sereia"), balada amorosa de falsete ("Dia de Festa"), "Bala com Bala" (73) à caribenha ("Beirando a Rumba"), orquestra meio João Gilberto/Claus Ogerman ("Castigado Coração") e até um desconjuntado rap ("Ditodos")...

Então, duas coisas. Uma: Bosco prepara suas alquimias com grau máximo de bem-estar (sem dar a mínima para as convenções de mercado). Duas: mantém a dureza da forma e a suspeita de que perícia não combina o tempo todo com invenção. Cada vez mais perito, não mais inventor, provavelmente conservador, já bem menos bêbado que equilibrista, esse é João Bosco, 54.
(PAS)

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