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24/09/2002 - 04h36

Washington Olivetto lança livro que romanceia a história do Corinthians

MARCELO RUBENS PAIVA
da Folha de S.Paulo

Washington Olivetto, 50, lança enfim o livro "Corinthians É Preto no Branco", cujo esboço ele desenvolveu no cativeiro em que ficou sequestrado no final de 2001, anotando-o em dois cadernos.

Constata-se que o Corinthians é também uma porteira para entender a história e a cultura do país, como no caso da Democracia Corintiana _entre 1982 e 83, os jogadores tomavam decisões pelo voto e promoviam em slogans na camisa a democracia.

É lembrado que o pintor pioneiro da "arte povera", Francisco Rebolo, foi ponta do time. Escrito em parceria com o jornalista Nirlando Beirão, 52, o livro vai mais longe:

"Em 1922, o título corintiano inspirou a onda de fertilidade eufórica que foi dar na Semana de Arte Moderna. Em 1954, mais um título corintiano deu um necessário vapor aos festejos e culminou na realização de outra monumental empreitada artística, a Bienal".

Ele é narrado como uma carta para um norte-americano, Ed McCabe, com estrondosas mentiras (depois negadas), porque, para os autores, o torcedor é um apaixonado incapaz de distinguir a verdade da mentira. O livro faz parte da coleção "Camisa 13", da DBA, em que 13 times são retratados por 13 escritores-torcedores, como os de Eduardo Bueno (Grêmio) e Luis Fernando Veríssimo (Internacional).

Para Olivetto, o livro precisava de um jornalista, pois ele, publicitário, exagerava, enquanto Beirão contextualizava.

Folha - Por que narrar o livro para um norte-americano?
Washington Olivetto
- Para ensinar e poder mentir. Futebol é um aborrecimento para os americanos. Contar mentira para o americano é muito adequado.

Nirlando Beirão - É um brasileiro que conta para um sujeito que não sabe a diferença entre escanteio e lateral. Não é um livro sobre futebol, mas sobre paixão.

Folha - Como publicitário, você se sentiu confortável numa coleção com escritores?
Olivetto
- São escritores que, como eu, são muito vaidosos. Mas não é a literatura que está em jogo. Cada um vai querer provar que o seu time é melhor do que o do outro. Virou uma disputa divertida.

Beirão - Relacionamos o Corinthians com a Semana de 22, quando ele foi campeão, com o primeiro ano da Bienal. O time é cultura, um olhar do mundo. Lembramos de Rebolo, do grupo Santa Helena, os operários da pintura.

Olivetto - Sou muito dedicado ao mercado publicitário, meu timing é o do mercado, preciso de prazos e, por falta de tempo, sempre pensei no Nirlando como meu sócio, para fazer a carpintaria, quando eu tinha a idéia mais ou menos formatada.

Beirão - E a editora facilitou nosso trabalho dando uma pesquisa esplendorosa.

Olivetto - Fazer um livro sobre a história do Corinthians era um déjà vu, porque saiu já de tudo sobre o time na imprensa.

Folha - Você pediu para que não lhe perguntassem mais sobre o sequestro, mas, neste caso, preciso saber até que ponto o que você viveu interferiu no formato do livro.
Olivetto
- O livro já estava na cabeça desde setembro: um brasileiro contando uma história para um americano. Quando aconteceu o mico [o sequestro", tive de criar mecanismos para passar o tempo, como escrever na parede. Depois de eu pedir, me deram papel e lápis, e passei a trabalhar como se estivesse na agência.

Folha - Partes do livro foram escritas nesses papéis?
Olivetto
- Não. Os papéis eram pensamentos, cartas à minha mulher e ao filho, que foi o que me salvou, pois eles me tiraram os papéis e levaram a Serra Negra, onde a polícia prendeu parte do grupo, leu os papéis e os associou ao meu sequestro. Comecei a escrever o livro em dois pequenos cadernos, mapeando o que eu já havia combinado com o Nirlando, com medo de esquecer algumas coisas.

Folha - Os sequestradores leram?
Olivetto
- Sim. Eles tiravam os cadernos de mim e depois devolviam. Até desenvolvi uma técnica de mandar recados para eles nas entrelinhas desses escritos. Quando a polícia estourou o cativeiro, vi, entre as coisas largadas pelos sequestradores, os meus cadernos, que estão comigo.

Beirão - E que os li detalhadamente várias vezes.

Folha - Você disse que um dia pretende contar a história do sequestro. Será um outro livro?
Olivetto
- O Fernando Moraes, que escreve um livro sobre a W/ Brasil, queria escrever sobre o mico. Mas concluímos que seria um oportunismo. Acho que ele nunca será escrito. Meu know-how é de publicitário, trabalho com isso há décadas. Como sequestrado só tenho dois meses de experiência.

Folha - Mas o livro sobre o Corinthians mudou após o sequestro?
Olivetto
- Depois que o Nirlando leu as anotações, decidiu botar o livro na primeira pessoa, diferentemente do que a gente tinha combinado, o que, no começo, discordei.

Beirão - Acho que um livro sobre futebol deve ser sobretudo sobre uma paixão, com emoção, tem que ser o livro de um torcedor, que é um delirante. O Olivetto tem momentos da vida dele em que fez parte do Corinthians, coisas pessoais de um torcedor, essa coisa mágica que mistura tudo: o sujeito se casa e lembra da data como o ano em que o time ganhou tal título.
 

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