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27/09/2002 - 03h03

Murilo Salles faz comédia de erros da crise em "Seja o que Deus Quiser"

JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha de S.Paulo

O novo filme de Murilo Salles, "Seja o que Deus Quiser", que abre hoje a Première Brasil do Festival Rio BR, é uma perturbadora comédia de erros sobre a cisão social brasileira.

Tudo começa quando uma equipe da MTV vai fazer uma matéria sobre um grupo de hip hop numa favela carioca. Um jovem negro, PQD (Rocco Pitanga, filho do ator Antônio Pitanga), músico mais ligado ao pagode, seduz a repórter e VJ Cacá (Ludimila Rosa) e a leva para a cama.

Depois da transa, Cacá é atacada por bandidos. Suspeitando da cumplicidade de PQD, denuncia-o à polícia e volta a São Paulo.

PQD vai atrás para tentar limpar seu nome. Além de ser roubado na rodoviária, acaba refém do irmão de Cacá, Nando (Caio Junqueira), que quer usá-lo para conseguir dinheiro. Por extensão, o músico vira prisioneiro do "mundinho" clubber e seu fascínio tecnológico, seus paraísos artificiais, sua música eletrônica e sua ambiguidade sexual.
Todos esperam que PQD, um rapaz pacato e "gente boa", desempenhe o papel de "negão do Comando Vermelho".

Murilo Salles define "Seja o que Deus Quiser" como "a contramão" de seu longa-metragem anterior, "Como Nascem os Anjos". Em vez de gente da favela invadindo a vida da elite, o que temos agora é o músico favelado "invadido" pela classe média.

"Podemos ir mais longe e dizer que PQD é "sequestrado" pela cultura da pós-modernidade", diz Salles. "Os jovens pós-modernos estão no filme porque são vanguarda de uma atitude, são pessoas que estão produzindo o Brasil plugado no mundo. É o pessoal do universo internet, do "blog" e de uma atitude que acho bem sadia, o "just for fun'".

Essa "samplerbrasilidade", para Salles, "bate de frente com o Brasil "raiz", "Casa Grande & Senzala", primitivo-bacana do morro do Rio de Janeiro", que seria representada pelo sambista PQD.

"É esse choque, como em "Anjos", entre o asfalto e o morro, essa contradição, a razão de existir de "Seja o que Deus Quiser'", resume o cineasta.

Premiado no concurso de projetos de baixo orçamento do Ministério da Cultura, o filme custou R$ 1,7 milhão. Foi rodado em super-16mm, telecinado, finalizado digitalmente e depois transferido para película de 35mm.

As filmagens foram realizadas em cinco semanas, em agosto e setembro de 2001, em São Paulo e no Rio. Salles gosta de dizer que não fez nenhuma cena em estúdio, só em "lugares reais".

Quanto à estrutura narrativa, o cineasta a define como "uma "corrida de revezamento", em que até existe o protagonista, mas ele nunca é o condutor da ação. A ação é estruturada a partir dos confrontos sem determinação, gerando a idéia do "acaso" que domina a narrativa".

Salles refuta a possível acusação de cinismo a que o filme está sujeito. "Seja o que Deus Quiser" é um filme sobre a questão da ética em nossos tempos. Portanto também sobre o cinismo. Foi escrito para discutir um olhar sobre a banalização nestes tempos contemporâneos. Escrito para entender o "fudeu" a que chegamos. Não acredito que exista um olhar cínico de minha parte, pois não é um "fudeu" visto de fora, é um "fudeu" sofrido, de alguém que está dentro dele."

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