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08/10/2002 - 03h06

Costa-Gavras fala sobre "Amen", que está no Festival do Rio BR

IVAN FINOTTI
enviado especial da Folha, no Rio

Desde 1964, quando assistiu à peça "Amen", o cineasta grego Constantin Costa-Gavras, 69, queria filmar a história real do químico alemão que, apesar de fornecer o gás Zyklon B para matar judeus nos campos de concentração, tentou alertar o Vaticano sobre o Holocausto. "A guerra vista do lado dos assassinos", diz Costa-Gavras.

O oficial da SS Kurt Gerstein alertou, mas não foi ouvido. O caso permanece até hoje como um dos segredos mais bem guardados pelo Vaticano. Por que o papa Pio 12, munido das informações, não denunciou as atrocidades para o mundo?

"Uma semana depois que "Amen" estreou, o Vaticano disse que abriria os arquivos em 2005. Veremos", afirmou Costa-Gavras, diretor de filmes como "Z" e "Missing, o Desaparecido", que conversou com a Folha durante a sua passagem pelo Festival do Rio BR. Leia abaixo a entrevista.

Folha - O senhor parece dizer, com "Amen", que a Igreja poderia ter salvado muitas vidas na Segunda Guerra Mundial, mas não o fez. É isso mesmo?
Constantin Costa-Gavras -
Sim, mas apenas em relação ao Vaticano. Porque a Igreja é maior. Não falo da Igreja no Brasil ou na América Latina. Mas o Vaticano, naquela época, deveria ter falado. Porque eles sabiam o que estava acontecendo. Não sei se poderiam ter salvado judeus ou ciganos. Mas eles poderiam ter resistido.

Folha - O senhor vem de uma família cristã ortodoxa. Ainda é religioso?
Costa-Gavras -
Bem, eu fui batizado, mas... Estou muito longe disso. Eu tento ser o mais honesto possível, o mais livre possível, respeitar os outros como diz a religião, mas quanto ao paraíso depois da vida é um outro problema (risos).

Folha - O senhor reconhece em sua vida o momento de decepção com a Igreja?
Costa-Gavras -
Sim. Todo o tempo. Veja só: houve muitos padres na América Latina que fizeram um ótimo trabalho. Mas muitos líderes religiosos no Chile, na Grécia, na Argentina colaboraram ou calaram a boca em relação aos ditadores. Pelo que eu saiba, no Brasil também.

Folha - Uma crítica recorrente a "Amen" é que o senhor não foi severo o suficiente ao retratar o papa Pio 12. O senhor concorda?
Costa-Gavras -
Bem, há tantos livros contra esse papa... Um deles diz que Pio 12 é o papa de Hitler. Não, eu não acredito nisso. O papa era muito pró-Alemanha, mas não pró-nazismo. O que é certo é que ele não falou. Ele nunca pronunciou as palavras "judeu", "cigano" ou "campo de concentração". E nunca condenou os nazistas. É isso o que diz o filme. Quando pergunto por que o papa fez isso, as pessoas dão as mais diferentes razões, como por ser anticomunista. Mas não sabemos, porque não temos os documentos para dizê-lo. Acho importante não exagerar sobre coisas que não tenho certeza.

Folha - O Vaticano diz que abrirá seus arquivos relativos à Segunda Guerra em 2005, certo?
Costa-Gavras -
É o que eles dizem. Mas o papa atual criou uma comissão com historiadores judeus e católicos para tentar descobrir por que Pio 12 teve essa atitude. Mas no ano passado, depois de dois anos de trabalho, eles desistiram, porque não lhes deram acesso a todo o arquivo. Então, uma semana depois que "Amen" estreou, o Vaticano disse que abriria os arquivos em 2005. Veremos.

Folha - O senhor já filmou dramas políticos na América Latina. E o Brasil?
Costa-Gavras -
Ainda não. Talvez se tivesse uma história. Mas acho que o Brasil tem ótimos diretores. E agora vocês têm a liberdade de fazer os filmes que quiserem. Vocês são livres.

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