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15/10/2002 - 11h43

Feira de Frankfurt: Para canadense, PT é inspiração para o mundo

CASSIANO ELEK MACHADO
enviado especial a Frankfurt

Lá estavam diversos pesos-pesados da intelectualidade mundial: o escritor israelense Amos Oz, o "enfant terrible" do maio de 68 francês Daniel Cohn-Bendit, o influente crítico indiano Homi K. Bhabha e o provocante filósofo esloveno Slavoj Zizek.

Mas não foi nenhum desses consagrados cinquentões e sessentões o grande destaque da primeira edição do Futura Mundi, um novo congresso de debates globais organizado pela Feira do Livro de Frankfurt.

O evento foi de Naomi Klein, jornalista e escritora canadense de 1,65m, 32 anos e feições de personagem de sitcom americana.

Autora do aclamado "No Logo", livro lançado em 2000 e lastreado em uma crítica severa às desigualdades provocadas pela sociedade de consumo, Klein teve as intervenções mais aplaudidas pelas 800 pessoas que passaram por três camadas de detectores de metais e outras camadas de seguranças brutamontes e lotaram a maior sala do gigante complexo da feira frankfurtiana para assistir ao fórum.

Um dos eixos do discurso da canadense foi justamente o nosso Partido dos Trabalhadores e seu "incrivelmente inspirador modelo de orçamentos participativos".

Klein ganhou a platéia logo no início de sua fala. Antes dela, Cohn-Bendit havia feito uma apologia do fortalecimento de uma grande Europa, que deveria se contrapor aos dominantes Estados Unidos da América.
"Todos os sonhos do mundo não podem ser feitos em Hollywood", disse de modo inflamado.

E veio a canadense em seguida dar uma invertida em "Daniel, o Vermelho", como é conhecido o ativista político francês. "Isso que Cohn-Bendit defendeu é uma grande e injusta ilusão que estão tentando empurrar garganta abaixo dos europeus. A Europa não é nem será inimiga dos EUA, ela é sócia do império."

Se o tema do congresso era "Pontes para um Mundo Dividido" -inspirado em frase de Abraham Lincoln-, a autora de "No Logo" propôs que essas ligações fossem feitas "em movimentos sociais de países sem poder".

Palmas

Acabada a conferência, recolhidas as palmas, Klein foi a única conferencista com 360º de jornalistas a seu redor. Um pedia uma entrevista, outro contestava uma de suas idéias e assim por diante. A Folha entrou no bolo e solicitou que ela respondesse apenas uma pergunta, sobre o Brasil.

"Ah, temos aqui um jornalista brasileiro. Colegas, sinto muito, mas tenho só dez minutos antes do meu próximo compromisso e vou dá-los ao Brasil", disse Klein.

A pergunta era: Tariq Ali, escritor paquistanês, defendeu também no congresso a política brasileira de quebra de patentes para fazer remédios baratos contra a Aids (atuação do candidato José Serra) e exaltou ainda a provável vitória de Lula ("parte de um pacote de grandes mudanças democráticas na América Latina, que inclui o Peru, o crescimento dos cocaleiros na Bolívia..."). Você usou as experiências de orçamentos participativos no Rio Grande do Sul como um modelo inspirador. Por que o Brasil está tão presente neste fórum mundial?

A jornalista diz que "o que existe na maior parte do mundo é uma fotocópia de uma fotocópia de uma fotocópia de democracia". "O Partido dos Trabalhadores brasileiro é hoje a principal fonte de inspiração para forças sociais de todo o mundo para a construção de um novo modelo de democracia, baseado na participação constante do povo."

Klein, que esteve no Brasil no início do ano para o Fórum Social Mundial, acha que a única coisa que reforçaria para Lula é que nem ao menos pensasse no modelo de Hugo Chávez. "O PT deve esquecer completamente a Venezuela. Tem de buscar legitimidade é na participação popular."

E o partido terá como fazer isso em escala nacional? "Não será fácil", diz a autora do chamado ""O Capital" da geração Seattle". "O FMI ter oferecido o empréstimo de US$ 30 bilhões quando e como fez, pós-datando a maior parte do cheque e condicionando o empréstimo a uma continuidade econômica, é colocar grades na democracia", afirma a escritora, que deve lançar no final do mês, nos EUA, seu segundo livro, "Grades e Janelas".

"O que é importante que Lula saiba é que uma grande camada da intelectualidade mundial estará acompanhado com carinho o seu trabalho", disse Klein, já cercada por seguranças "4x4" que "escoltaram" a jornalista para fora da sala.

"Se vai dar certo ou não só poderemos saber na altura da Feira de Frankfurt do ano que vem", concluiu Klein.
 

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