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05/08/2000 - 04h28

Livros: Antologia de estreantes tira contos gays do armário

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CYNARA MENEZES, da Folha de S.Paulo

Ela saiu do armário e foi para as prateleiras. Com uma coletânea de contos inéditos e outros lançamentos previstos para este mês, a literatura homossexual começa a conquistar espaço nas vitrines das livrarias.

A antologia "Triunfo dos Pêlos e Outros Contos GLS" nasceu de um concurso promovido pela editora GLS, que, como o próprio nome diz, é especializada em temas ligados a gays, lésbicas e simpatizantes, com mais de 20 títulos no mercado.

Como prêmio, os 15 classificados, entre vencedores e menções honrosas, todos estreantes, ganharam a publicação dos contos em livro. Há ainda dois autores convidados (leia texto ao lado).

Ao mesmo tempo, mais lançamentos do gênero chegam às livrarias e mais editoras investem na ocupação do "nicho": a Unesp (Universidade Estadual Paulista) lança "Além do Carnaval -A Homossexualidade Masculina no Brasil do século 20", do americano James Green, e a Brasiliense, "A Vila das Meninas", de Stella C. Ferraz, e "O Que É Lesbianismo", de Tania Navarro Swain.

A Record e a Geração Editorial também já têm títulos de temática homossexual no catálogo.

Segundo a GLS, a antologia que sai agora é a segunda com autores brasileiros totalmente dedicada ao assunto. A primeira teria sido "O Amor com Olhos de Adeus" (1995), da editora Transviatta, ainda à venda.

O escritor João Silvério Trevisan, que, ao lado de nomes como Caio Fernando Abreu (1948-1996), figurou na primeira coletânea, diz que a principal diferença entre as duas antologias é que a anterior era "lamentável".

"Era uma coisa muito improvisada. Ler os outros contos me deixou muito
aborrecido", diz Trevisan. "Fiquei surpreso com a qualidade que vi agora, com a maturidade de alguns autores e, principalmente, com as histórias escritas pelas mulheres. Os melhores contos são os femininos", opina o escritor, que assina o prefácio do livro e foi responsável pela escolha dos finalistas.

Trevisan aponta uma certa "demanda reprimida" de livros dedicados ao tema e aposta em um "boom" do gênero, ainda que muitos "ainda torçam o nariz". "Fui acusado de mau gosto muitas vezes", diz.

Ele reconhece que a antologia e os demais livros gays têm pouca chance de chegar às listas de best sellers. Fato comprovado pela vendagem das obras da GLS, cujo campeão em número de leitores, "O Que a Bíblia Realmente Diz sobre a Homossexualidade", de Daniel A. Helminiak, não ultrapassou a tiragem de 3.000 cópias.

Livrarias

A editora Laura Bacellar acha que um duplo preconceito atrapalha a venda: o livreiro teria receio de expor as obras com destaque e o próprio homossexual se sentiria embaraçado de adquirir um produto que leva o carimbo de "gay" na capa.

"Não sei se o livreiro tem medo de ver sua loja ser invadida por senhoras de Santana ou por drag queens, mas o livro acaba ficando escondido. Quanto ao problema dos homossexuais, eu não posso resolver, a não ser que alguém me diga como editar uma obra destas sem chamar a atenção na capa", diz Laura.

A vergonha de estar associado ao mundo gay se deixa ver na própria antologia: muitos autores, inclusive a vencedora, assinam os contos com pseudônimo. Ela, por outro lado, define-se como "simpatizante", o que diminui o distanciamento e dá um ar "democrático" ao concurso.

De qualquer maneira, o codinome que escolheu, "Aretusa Von", não deixa de ter tudo a ver: quem lembrar que o nome da primeira mulher de Ronnie Von era Aretusa já vai dar boas risadas. Quer coisa mais gay que um pseudônimo assim?

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