Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/08/2000 - 04h52

Billy Blanco, 76, traz sua pré-bossa nova a SP

Publicidade

PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo

Billy Blanco, um dos compositores precursores da bossa nova, está de passagem rápida por São Paulo. De atividade desacelerada aos 76 anos, veio fazer dois shows no Supremo Musical (o último é hoje), na companhia do jovem De Athayde (voz e violão).

Autor de temas espirituosos, "de costumes", foi lançado por Dolores Duran (1930-59) e se tornou um dos primeiros parceiros musicais de Tom Jobim, em fase ainda pré-bossa nova.

Nascido em Belém do Pará, compôs também com Baden Powell ("Samba Triste") e foi gravado, a partir dos anos 50, por cantores como Silvio Caldas, Moreira da Silva, Nelson Gonçalves, Inezita Barroso, Isaura Garcia, Roberto Silva, Jorge Goulart, Nora Ney, Dick Farney, Lúcio Alves, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos, Dóris Monteiro...

Ainda popular nos 60, teve canções utilizadas pela geração que despontava -Elza Soares, Jair Rodrigues, Wilson Simonal e Maria Bethânia o regravaram, e até o maestro Rogério Duprat incluiu "Canto Chorado" no hoje esquecido LP "A Banda Tropicalista do Duprat" (68). Anos 70 afora, conheceu relativo ostracismo, entre poucas regravações de antigas canções por João Gilberto, Tito Madi, Lúcio Alves, Jards Macalé.

Mais recentemente, Billy ganhou volume na coleção "A Música Brasileira Deste Século por Seus Autores e Intérpretes", extraída dos programas televisivos de Fernando Faro. Em entrevista concedida há poucos meses em sua casa, em Copacabana, ele lembrou sua história e carreira.

Billy Blanco - Nasci em Belém do Pará. Era frequentador assíduo da ilha de Marajó, onde se anda a cavalo o tempo todo. Já fazia shows nos clubes, quartéis, hospitais, cantava em programas infantis e juvenis, tinha meus 14, 15 anos.

Queria fazer arquitetura, então vim para São Paulo. Fiquei até o quarto ano e me transferi para o Rio, para a Faculdade Nacional de Arquitetura. A escola foi para a Praia Vermelha onde, num teatro de arena, fazíamos as reuniões musicais nas quais praticamente nasceu a bossa nova.

Depois conheci Tom Jobim, que devia ter se formado comigo, mas no primeiro ano trancou a matrícula e pediu para o padrasto alugar um piano. Conheci ele num dos primeiros inferninhos que apareceram aqui. Me convidou para ir à casa dele, começamos a fazer música. Fizemos "Tereza da Praia", "Esperança Perdida".

Fui namorado de Dolores, foi ela que me botou no mercado musical e me apresentou a todo mundo. Depois passei a fazer minhas músicas sozinho, porque Tom acoplou-se ao Vinicius de Moraes, bela parceria. Aí veio a bossa nova, passamos por ela incólumes, sem problema...

Folha - O que você quer dizer com "incólumes"?
Blanco -
Sem sofrer. Muitos da minha época desistiram, limparam o canto, porque não quiseram enfrentar a bossa nova. Eu, não. Fiz muita bossa nova. E estou aí, sou de antes, durante e depois.
Comecei a trabalhar isoladamente, aí fiz a série de músicas que Sérgio Porto chamava de músicas de costumes e diversões, como "Estatuto de Gafieira", "Estatuto de Boite", "Mocinho Bonito". Morei em São Paulo, devia à cidade escrever alguma coisa. Paulista nunca havia feito nada para São Paulo, parece que tinha vergonha da cidade. Então fiz a sinfonia "Paulistana", que hoje vale como memória musical.
Agora estou com todas as letras prontas de "As Alagoas". Ainda não musiquei, porque estou na esperança de que Djavan queira entrar comigo fazendo a música. Chamei, mas não me deu resposta. Faz uns oito, dez meses.

Folha - Por que suas músicas foram sendo menos gravadas?
Blanco -
Isso tem de perguntar para os intérpretes. Podem achar que sou uma merda, não gostar...

Folha - Isso o entristece?
Blanco -
Mas por que vou me entristecer? Estou pouco ligando. Quero estar bem comigo mesmo e com meu amigo Jesus Cristo.

Folha - Fale sobre Copacabana.
Blanco -
Você não precisaria sair daqui para nada, poderia viver dentro da cidade de Copacabana. Tínhamos uma vida bucólica, quase perfeita, e agora é diferente. Não é que seja decadente, mas está evoluindo o mau-trato. O que vai ficando velho precisa ser substituído. Até as pessoas.

Show: Billy Blanco e De Athayde
Onde: Supremo Musical (r. Oscar Freire, 1.000. tel. 0/xx/11/852-0950)
Quando: hoje, às 22h
Quanto: R$ 20

Clique aqui para ler mais de Ilustrada na Folha Online

Discuta esta notícia nos Grupos de Discussão da Folha Online
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página