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21/10/2002
-
05h52
da Folha de S. Paulo
"A história é ardente, opressiva e fatigante." As aspas são de Alan Moore, em "A Voz do Fogo", romance tardio que é lançado no Brasil pela Conrad e marca a estréia do quadrinista e roteirista de "Watchmen" e "V de Vingança" no universo da literatura.
Rodando em círculos, mais precisamente em torno da cidade inglesa de Northampton, a prosa de Moore nos transporta ao ano 4000 a.C., para dentro da barriga/ consciência de um desterrado faminto diante das glaciações; a 2500 a.C., para ardermos com um velho bruxo à beira da morte nos campos de cremação; a 290 d.C. e sua visão deturpada do imperialismo romano; às fogueiras e cruzadas religiosas do século 17 e, por fim, a 1995, de volta à casa do escritor, de onde raramente saiu, ao longo de seus 48 anos de vida.
O simbolismo do fogo mostra-se, para Moore, menos o da redenção que o da propagação do sofrimento dos personagens que habitaram a esquecida região no coração da Inglaterra. Misturando história com ficção, encarna 13 diferentes narradores e reproduz, na estrutura da narrativa, as evoluções da própria língua local. Assim, a escassez de signos e de articulação do narrador pré-histórico contrasta com discursos ora ideologizados, da devota medieval, ora erotizados, do "novo homem" renascentista etc.
Quem conhece a densidade de suas graphic novels anteriores -"Do Inferno", por exemplo, mergulhou o autor em dez anos de pesquisa sobre Jack, o Estripador- sabe que Moore não dá ponto sem nó. Edições antigas do jornal local "Mercury & Herald", velhos mapas e um exemplar de "Bruxaria em Northamptonshire - Seis Tratados Curiosos Datados de 1612" ajudaram-no a reconstruir parte da memória da cidade, que, em "A Voz do Fogo", não fala, mas nos espreita continuamente a cada virada de página.
Relíquia
Lançado originalmente em 1997, pela editora inglesa Orion, o romance de 331 páginas teve todas as suas edições esgotadas e tornou-se rapidamente uma jóia rara em qualquer sebo da Inglaterra e nos leilões de livros usados frequentados pelos fãs de Alan Moore -basicamente, leitores de histórias em quadrinhos. Arrancou elogios de escritores como Will Self e Iain Sinclair e teve seus direitos adquiridos também pela Top Shelf, que publica alguns de seus títulos nos EUA.
Recentemente a editora americana anunciou o lançamento de dois novos trabalhos de Moore, para meados de 2003. O primeiro, uma graphic novel por enquanto batizada de "The Mirror of Love" (O Espelho do Amor), inspirada nas controversas disputas legais sobre a união de homossexuais na Grã-Bretanha e estrelada por ninguém menos do que William Shakespeare, Michelangelo, Emily Dickinson e Oscar Wilde.
A segunda peça pregada no formalismo britânico virá com "Lost Girls", versão ilustrada e eroticamente apimentada para personagens dos clássicos "Alice no País das Maravilhas", "O Mágico de Oz" e "Peter Pan - As Aventuras na Terra do Nunca".
A VOZ DO FOGO
Autor: Alan Moore
Editora: Conrad
Tradução: Ludimila Hashimoto
Preço: R$ 34,80 (331 págs.)
Romance épico do quadrinista inglês Alan Moore chega ao Brasil
DIEGO ASSISda Folha de S. Paulo
"A história é ardente, opressiva e fatigante." As aspas são de Alan Moore, em "A Voz do Fogo", romance tardio que é lançado no Brasil pela Conrad e marca a estréia do quadrinista e roteirista de "Watchmen" e "V de Vingança" no universo da literatura.
Rodando em círculos, mais precisamente em torno da cidade inglesa de Northampton, a prosa de Moore nos transporta ao ano 4000 a.C., para dentro da barriga/ consciência de um desterrado faminto diante das glaciações; a 2500 a.C., para ardermos com um velho bruxo à beira da morte nos campos de cremação; a 290 d.C. e sua visão deturpada do imperialismo romano; às fogueiras e cruzadas religiosas do século 17 e, por fim, a 1995, de volta à casa do escritor, de onde raramente saiu, ao longo de seus 48 anos de vida.
O simbolismo do fogo mostra-se, para Moore, menos o da redenção que o da propagação do sofrimento dos personagens que habitaram a esquecida região no coração da Inglaterra. Misturando história com ficção, encarna 13 diferentes narradores e reproduz, na estrutura da narrativa, as evoluções da própria língua local. Assim, a escassez de signos e de articulação do narrador pré-histórico contrasta com discursos ora ideologizados, da devota medieval, ora erotizados, do "novo homem" renascentista etc.
Quem conhece a densidade de suas graphic novels anteriores -"Do Inferno", por exemplo, mergulhou o autor em dez anos de pesquisa sobre Jack, o Estripador- sabe que Moore não dá ponto sem nó. Edições antigas do jornal local "Mercury & Herald", velhos mapas e um exemplar de "Bruxaria em Northamptonshire - Seis Tratados Curiosos Datados de 1612" ajudaram-no a reconstruir parte da memória da cidade, que, em "A Voz do Fogo", não fala, mas nos espreita continuamente a cada virada de página.
Relíquia
Lançado originalmente em 1997, pela editora inglesa Orion, o romance de 331 páginas teve todas as suas edições esgotadas e tornou-se rapidamente uma jóia rara em qualquer sebo da Inglaterra e nos leilões de livros usados frequentados pelos fãs de Alan Moore -basicamente, leitores de histórias em quadrinhos. Arrancou elogios de escritores como Will Self e Iain Sinclair e teve seus direitos adquiridos também pela Top Shelf, que publica alguns de seus títulos nos EUA.
Recentemente a editora americana anunciou o lançamento de dois novos trabalhos de Moore, para meados de 2003. O primeiro, uma graphic novel por enquanto batizada de "The Mirror of Love" (O Espelho do Amor), inspirada nas controversas disputas legais sobre a união de homossexuais na Grã-Bretanha e estrelada por ninguém menos do que William Shakespeare, Michelangelo, Emily Dickinson e Oscar Wilde.
A segunda peça pregada no formalismo britânico virá com "Lost Girls", versão ilustrada e eroticamente apimentada para personagens dos clássicos "Alice no País das Maravilhas", "O Mágico de Oz" e "Peter Pan - As Aventuras na Terra do Nunca".
A VOZ DO FOGO
Autor: Alan Moore
Editora: Conrad
Tradução: Ludimila Hashimoto
Preço: R$ 34,80 (331 págs.)
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