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08/11/2002 - 04h51

Diretora recorre a flashback em cinebiografia "Lara"

TIAGO MATA MACHADO
Crítico da Folha


"Um clarão e uma retrospectiva muito rápida de toda a minha vida": essa sensação, que a diretora Ana Maria Magalhães diz ter sentido logo após um acidente que quase a vitimou, se tornou em "Lara", projeto que concebeu enquanto se recuperava do trauma, um recurso narrativo.

É como um flashback decorrido da inconsciência da protagonista após um acidente de carro que assistimos à retrospectiva da vida da atriz Odete Lara nesse filme-biografia. O artifício talvez consolidasse uma estrutura narrativa se as imagens da vida de Odete que surgem a partir de então fossem tomadas mais descontinuamente.

O que passamos a testemunhar são dois momentos intercalados, mas vistos em continuidade, da vida da atriz: os primeiros tempos (do suicídio da mãe na infância ao suicídio do pai na adolescência) e a "idade da razão", em que a crise pessoal e afetiva da personagem adulta se sobrepõe à crise político-institucional do país, em seus "anos de chumbo".

A história da jovem Lara é a de uma moça marcada pela tragédia (vivida por Maria Manoella) que encontrou na própria beleza a sua única chance de emancipação. A história da Lara adulta, musa da geração dos anos 60, é de uma mulher (interpretada por Christine Fernandes) cuja emancipação não garantiu a paz de espírito.

A continuidade narrativa delineada pelos flashbacks esboça uma progressão psicológica da personagem e empresta aos eventos da vida de Odete Lara um sentido (uma direção, um fim) único: o momento catártico em que os traumas de infância que ainda conturbam a vida adulta são superados, momento de revelação que dá início à fase mística de "Meus Passos na Busca da Paz", único livro da trilogia autobiográfica da atriz não abordado.

A cineasta que, no material de divulgação do filme, critica, com toda a razão, a influência exercida pela escola americana sobre os roteiristas brasileiros, não se distancia muito, na prática, da concepção finalista dessa escola clássica. Muitas cenas, especialmente as da juventude da personagem, acabam reduzidas à sua funcionalidade narrativa, à sua função de passagem. O que não parece resultar tanto do rigor narrativo de Magalhães quanto de sua dificuldade para chegar ao cerne dramático dos eventos representados, de extrair-lhes o potencial conflito. Difícil imaginar como Odete Lara, que se converteu ao budismo e vive hoje um exílio voluntário num sítio do Rio, possa se identificar de fato com alguma dessas imagens.


 Serviço

Lara
Direção: Ana Maria Magalhães
Produção: Brasil, 2001
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Cineclube DirecTV, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito

 

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