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21/11/2002
-
03h19
Articulista da Folha, em Amsterdã
Dois ciclos especiais destacam-se a partir de hoje na edição 2002 do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã: os maiores documentários da história, segundo os irmãos Walter e João Moreira Salles, e os filmes que mantêm acesa a chama da esperança em tempos tão sombrios.
"Os irmãos Salles" escolheram e comentam no catálogo os "dez mais" de todos os tempos, como antes já fizeram Krysztof Kieslowski e Werner Herzog. Em filmagem, Walter não comparece, cabendo a João apresentar uma "Master Class" na próxima segunda e alguns de seus filmes.
Na mostra de destaques holandeses, a brasileira Maria Augusta Ramos, que mora no eixo Rio-Amsterdã, lança seu "Rio um Dia em Agosto". Já o curta "A Via Sacra da Rocinha", de Alexandre Franco Montoro, será exibido no ciclo "Em que Você Acredita?".
A participação brasileira vai além. O cineasta Francisco César Filho ("Rota ABC") participa do júri de documentários curtos.
Uma das atrações da competição é "The Day I Will Never Forget", da premiada documentarista britânica Kim Longinotto, 50. Depois de pesquisar o divórcio no Irã e as lutadoras profissionais no Japão, Longinotto volta sua câmera para o drama milenar da circuncisão feminina na África. De Londres, ela concedeu a seguinte entrevista por e-mail à Folha.
Folha - O que a levou a fazer um documentário sobre a circuncisão feminina na África?
Kim Longinotto - Paul Hamann, da produtora Shine, me procurou com uma proposta de uma espécie de filme militante com estatísticas. Não tinha certeza se gostaria de fazer. Mencionou-se então o caso de duas garotas que levaram os pais ao tribunal visando impedir que as submetessem a circuncisão. Foi o que me interessou. Não queria fazer um filme sobre vítimas, mas sim sobre garotas que lutam, sobre mudanças.
Folha - Você sempre trabalha com uma assessora ou co-diretora local. Quem cumpriu esse papel?
Longinotto - Foi a queniana Eunice Munanie. Mas existem tantas línguas distintas no Quênia que tive que trabalhar com pessoas diferentes, como o doutor Fardhosa Ali Mohamed, um médico da Somália. Parte do tempo eu tive de filmar sem entender nada do que estava ocorrendo.
Folha - Quão longe estamos de erradicar a circuncisão feminina?
Longinotto - Há uma real sensação de mudança. Mulheres de comunidades diferentes começam a questionar a tradição. Não apenas a circuncisão, mas também o casamento infantil. Querem educação e um "futuro mais brilhante".
Folha - Qual foi o dia que você jamais esquecerá?
Longinotto - O encontro com as mulheres fortes que tive a sorte de filmar no Quênia.
Folha - Como você responderia à pergunta da mostra, "em que você acredita"?
Longinotto - É preciso continuar acreditando que há esperança para um futuro melhor.
Festival de cinema de Amsterdã pesquisa crenças e esperança
AMIR LABAKIArticulista da Folha, em Amsterdã
Dois ciclos especiais destacam-se a partir de hoje na edição 2002 do Festival Internacional de Documentários de Amsterdã: os maiores documentários da história, segundo os irmãos Walter e João Moreira Salles, e os filmes que mantêm acesa a chama da esperança em tempos tão sombrios.
"Os irmãos Salles" escolheram e comentam no catálogo os "dez mais" de todos os tempos, como antes já fizeram Krysztof Kieslowski e Werner Herzog. Em filmagem, Walter não comparece, cabendo a João apresentar uma "Master Class" na próxima segunda e alguns de seus filmes.
Na mostra de destaques holandeses, a brasileira Maria Augusta Ramos, que mora no eixo Rio-Amsterdã, lança seu "Rio um Dia em Agosto". Já o curta "A Via Sacra da Rocinha", de Alexandre Franco Montoro, será exibido no ciclo "Em que Você Acredita?".
A participação brasileira vai além. O cineasta Francisco César Filho ("Rota ABC") participa do júri de documentários curtos.
Uma das atrações da competição é "The Day I Will Never Forget", da premiada documentarista britânica Kim Longinotto, 50. Depois de pesquisar o divórcio no Irã e as lutadoras profissionais no Japão, Longinotto volta sua câmera para o drama milenar da circuncisão feminina na África. De Londres, ela concedeu a seguinte entrevista por e-mail à Folha.
Folha - O que a levou a fazer um documentário sobre a circuncisão feminina na África?
Kim Longinotto - Paul Hamann, da produtora Shine, me procurou com uma proposta de uma espécie de filme militante com estatísticas. Não tinha certeza se gostaria de fazer. Mencionou-se então o caso de duas garotas que levaram os pais ao tribunal visando impedir que as submetessem a circuncisão. Foi o que me interessou. Não queria fazer um filme sobre vítimas, mas sim sobre garotas que lutam, sobre mudanças.
Folha - Você sempre trabalha com uma assessora ou co-diretora local. Quem cumpriu esse papel?
Longinotto - Foi a queniana Eunice Munanie. Mas existem tantas línguas distintas no Quênia que tive que trabalhar com pessoas diferentes, como o doutor Fardhosa Ali Mohamed, um médico da Somália. Parte do tempo eu tive de filmar sem entender nada do que estava ocorrendo.
Folha - Quão longe estamos de erradicar a circuncisão feminina?
Longinotto - Há uma real sensação de mudança. Mulheres de comunidades diferentes começam a questionar a tradição. Não apenas a circuncisão, mas também o casamento infantil. Querem educação e um "futuro mais brilhante".
Folha - Qual foi o dia que você jamais esquecerá?
Longinotto - O encontro com as mulheres fortes que tive a sorte de filmar no Quênia.
Folha - Como você responderia à pergunta da mostra, "em que você acredita"?
Longinotto - É preciso continuar acreditando que há esperança para um futuro melhor.
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