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28/11/2002 - 04h59

Crítica: Globo faz baianidade cansada de guerra em microssérie

XICO SÁ
free-lance para a Folha

O Brasil de "Madame Satã", de Karim Aïnouz, cearense envelhecido no caldo das delicadezas do pensador Walter Benjamin, e o país de "Amarelo Manga", filme do caruaruense Claudio Assis, cujo couro foi engrossado léguas e léguas longe de Frankfurt, deixaram na poeira a suposta cordialidade e o populismo que tem nos diretores Guel Arraes (batismo de núcleo da Globo) e Walter Salles seus principais culpados no sentido de acossados por Cristo, claro.

Mas, "ô pissit!" -como na linda evocação de "Os Trapalhões" ao populacho do sofá-, o núcleo Arraes voltou ao oratório de sempre. "Pastores da Noite" retorna à Bahia repisada por tantas Tietas, Gabrielas... O "meu rei" do exotique, o francês Marcel Camus, que fez "Orfeu Negro", também filmou a mesma macumba acidental, em 75, que agora tem despacho televisivo.

O filme de Camus se chamava "Otalia de Bahia", que os bons orixás o tenham. Nada contra reciclagens de "Os Pastores da Noite", um dos raros livros interessantes de Jorge Amado. Mas, uma vez que pretendem chafurdar em uma dita brasilidade, por que não coisas melhores? Todo mundo sabe que Graciliano Ramos é "o cara", como tem dito Romário sobre si mesmo. Pode não ter a malemolência pretendida pela Globo. Mas sexo e angústia -e existem outras matérias na vida?- o alagoano tem de sobra.

É injusto dizer que a série global é ruim de tudo. Matheus Nachtergale faz um pierrô-mascate do cão. A outra cambada de macho, que faz parte da mesma boa fase do cinema nacional acima citado, é uma desgraça na TV, tudo igual, como na "leseira" de boteco.

Tem até Fernanda Montenegro, no papel de dona do puteiro cordial de sempre, ave! A sorte é Camila Pitanga (Marialva), que não tem nada a ver com Amado. É coisa de Gilberto Freyre, vale por toda a mestiçagem de "Casa-Grande & Senzala" e é infinitamente superior a Sonia Braga em todos os tempos.

Enfim, "Pastores..." é tão igual a tudo que já se viu sobre o mesmo tabuleiro que a saída é inverter a dialética de Zeca Pagodinho no seu último disco. Falo da faixa "Tá Ruim, mas Tá Bom". Na série da Globo, tá bom..., mas tá ruim.

Pastores da Noite
Onde: Globo, terça, às 22h35


 

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