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02/12/2002 - 05h28

Salles defende documentário de autor no festival de Amsterdã

AMIR LABAKI
da Folha de S. Paulo, em Amsterdã

João Moreira Salles começa em janeiro a editar documentário sobre a campanha eleitoral de Lula. "O filme deve estar pronto em outubro/novembro do ano que vem", adiantou à Folha em sua passagem relâmpago de 24 horas por Amsterdã. Veio apresentar a primeira "master class" do ano, que batizou "Documentário e Imaginação".

Um dos ciclos especiais do 15º Festival Internacional de Documentários, encerrado ontem, destacava os "Dez Mais dos Irmãos Salles" Walter e João.

O projeto desenvolvido com Eduardo Coutinho deve resultar em dois filmes distintos, que circularão nos cinemas em programa duplo. Salles retrata a campanha; Coutinho revisita amigos de Lula dos anos de sindicalismo no ABC paulista. Perguntado sobre qual o maior momento de tensão das filmagens, Salles não hesitou: "Sem dúvida o primeiro dia. No primeiro dia de um filme dessa natureza, a equipe põe o pé num terreno que não conhece, no qual supõe haver minas, sem no entanto saber quem as jogou lá, nem onde estão. Não havia minas".

Coutinho é o único documentarista brasileiro presente na lista de preferidos dos Salles. "Acho sinceramente que "Cabra Marcado para Morrer" é o único filme brasileiro que pode ser incluído numa lista de grandes documentários mundiais sem que a gente tenha que cometer patriotadas vexaminosas", argumentou o diretor de "Nelson Freire", que tem estréia prevista para meados do próximo semestre. "Cabra" é um filme político sem ser militante, um filme pessoal sem ser auto-referente, um filme que revela toda a tragédia dos anos de exceção sem recorrer a uma única emboscada."

Sobre a lista de "dez mais", Salles explicou, logo no início de sua palestra: "Não são os melhores de todos os tempos, mas sim filmes que quero convidá-los neste momento a ver". Baseado na revisão crítica da estética documental desenvolvida na última década pelo acadêmico britânico Brian Winston, Salles defendeu a mais ampla liberdade possível para o documentário de autor, tomando como exemplos o francês "Eu, um Negro" (1957), de Jean Rouch, e o americano "The Thin Blue Line" (1988), de Errol Morris

Prêmios

O documentário norte-americano "Stevie", de Steve James, venceu o 15º Festival Internacional de Documentários de Amsterdã.

Outra produção dos EUA, "Bowling for Columbine" ("Jogando Boliche por Columbine"), exibido na sessão de abertura, valeu a Michael Moore o prêmio do público. Foi a primeira vitória americana nas duas categorias.

"Stevie" guarda maiores semelhanças com o documentarismo europeu contemporâneo. Depois da consagração com "Basquete Blues" (1993), James voltou a câmera para sua própria relação com um afilhado problemático.

Os dois outros finalistas para o prêmio de melhor longa foram o citado "Columbine" e o russo "Tishe!" ("Silêncio").

O Prêmio Especial do Júri ficou com "On Hitler's Highway" ("Na Estrada de Hitler"), em que o polonês Lech Kowalski retrata imigrantes, prostitutas e demais "outsiders" que sobrevivem às margens de uma velha rodovia construída para facilitar o avanço das tropas do Terceiro Reich.

A competição de curtas-metragens premiou o chinês "Interesting Times - The Secret of My Sucess" (Tempos Interessantes - O Segredo de Meu Sucesso), de Jinchuan Duan, sobre os métodos heterodoxos de um controlador de natalidade num vilarejo.

A disputa entre os estreantes foi vencida pela finlandesa Mervi Junkkonen por "Barbeiros", rodado em Portugal.

Por fim, o Prêmio Anistia Internacional-Doen foi dividido entre a britânica Kim Longinotto, por "The Day I Will Never Forget" (O Dia que Jamais Esquecerei), sobre a circuncisão feminina no Quênia, e o americano Eugene Jarecki, de "The Trials of Henri Kissinger" (Os Processos de Henri Kissinger), um devastador balanço de sua atuação à frente da política externa americana no início dos anos 70.

O articulista Amir Labaki viajou a convite da organização do evento e foi jurado da Anistia Internacional do festival
 

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