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07/12/2002 - 03h54

Ferreira Gullar apresenta leitura de obras de artistas

CASSIANO ELEK MACHADO
da Folha de S.Paulo

Desses poucos que conhece a palavra por dentro e por fora, como poeta e crítico que é, Ferreira Gullar, 72, pinçou o vocábulo justo para batizar seu próximo trabalho. "Relâmpagos", seu primeiro livro de ensaios em dez anos, que a Cosac & Naify lança no início do ano que vem, reúne textos sobre arte rápidos, claros e intensos como raios em noite de tempestade.

Escritos ao longo de quase 50 anos, os quase 50 ensaios propõem um passo novo na trajetória do autor de trabalhos marcantes na crítica de arte, como o "Manifesto Neoconcreto" (1959) e os livros dos anos 60 "Cultura Posta em Questão" e "Vanguarda e Subdesenvolvimento" (recém-reeditados pela José Olympio).

Se relâmpagos nascem no choque de duas nuvens, estes "Relâmpagos" são filhos do embate do ensaio e da poesia. "São ensaios que ficam no meio do caminho entre a crítica e a poesia", diz a voz barítona de Gullar.

Os escritos, quase todos inéditos, não seguem uma ordem rigidamente cronológica. O volume começa com ensaio sobre o pai dos móbiles, Alexander Calder (1898-1976), "um de meus prediletos", e termina com análise da "Casa da Flor", construção em São Pedro da Aldeia (RJ) do arquiteto "naif" Gabriel Joaquim dos Santos (1892-1985).

Nessa trajetória, Gullar vai cruzando com ensaios que expressam "vivências" marcantes, "deslumbramentos poéticos" que teve com obras específicas de boa parte dos nomes do panteão artístico dos últimos 200 anos.

Os brasileiros ganham quase metade dos "clarões". São temas de ensaios desde três expoentes da chamada arte do inconsciente -um deles, Emygdio de Barros, tratado como "um dos raros gênios da pintura brasileira-, até neoconcretistas como Franz Weissmann e Lygia Clark e o amigo Oscar Niemeyer ("ele nos ensina que a beleza é leve"). Para cada texto, o livro traz reprodução da obra sobre a qual ensaia Gullar.

"São observações inteiramente originais as que reúno neste livro. Em alguns momentos você apreende coisas que há de essencial no artista", fala o ensaísta-poeta, afastando a modéstia.

A modéstia também sai da sala quando o assunto é a poesia. Desde a morte de João Cabral de Melo Neto, em 1999, Gullar é classificado como o poeta número 1 do país. "É engraçado a coisa de o maior poeta vivo. Daqui a pouco vou morrer e vai ser outro o primeiro. O que sempre lembro nessa coisa é uma resposta dada pelo Drummond quando vieram lhe perguntar se ele era o maior poeta vivo. "O sr. mediu isso como?'", lembra risonho.

E o criador de "Poema Sujo" e de "Luta Corporal", marcas da poesia nacional, anuncia que está produzindo bastante, de novo. Depois de ter enfrentado seca poética de 12 anos, de 1987 a 1999, ele diz que está de volta ao Reino da Poesia. "Outro dia fiz seis."

Mas primeiro vêm os "Relâmpagos". E para que não se desafie a natureza, e cumpra-se a idéia de que relâmpagos procedem trovões, Gullar também faz barulho.

Em entrevista à Folha, em seu apartamento em Copacabana, acompanhado do siamês Gatinho e das falsificações que pinta de Mondrian e Léger, o ensaísta fala mal das vanguardas, chama "Ulisses" de James Joyce de satânico e diz que "Lygia Clark ao colocar fios na boca e ficar tirando vira só sensorialidade", em "niilismo típico da vanguarda".
 

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