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26/12/2002 - 04h59

Encenador João das Neves prepara livro sobre grupo Opinião

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Um dos fundadores do histórico grupo Opinião (1964-82), o encenador carioca João das Neves, um teatreiro, como prefere, pede um estudo mais aprofundado sobre a trajetória da companhia marcada pela resistência ao regime militar (1964-85).

"Há uma boa bibliografia sobre Arena [dissidência do Opinião", sobre o Oficina e até sobre o CPC [Centro Popular de Cultura da UNE", embora este com muito material distorcido, mas sobre o Opinião há pouca coisa, é uma história ainda por ser contada com uma análise crítica daquele trabalho", diz Neves, 68.

O próprio quer levar a empreitada a cabo. Já tem esboçado um panorama dos anos 50 aos 80, fruto de palestras que organizou no Rio, anos atrás. Seu livro refutaria a percepção "reduzida" de que uma perspectiva única, politicamente engajada, dominava o repertório do Opinião. Vê polifonia.

"Essa visão preconceituosa do grupo se manifesta mais pelo silêncio, pela ausência de comentário. Fala-se muito do Vianinha [Oduvaldo Vianna Filho", do [Ferreira] Gullar, do Paulo Pontes, mas do Opinião, que teve a importância que teve, há muita omissão", argumenta.

Para Neves, a mensagem política de protesto unia-se ao "vigor artístico", o tratamento estético apurado na interpretação, na encenação e, sobretudo, no texto.

Cita os cineastas Leon Hirszman ("Eles Não Usam Black-Tie"), Arnaldo Jabor ("Toda Nudez Será Castigada"), Eduardo Coutinho ("Cabra Marcado para Morrer") e o dramaturgo Vianinha ("Rasga Coração") como artistas que passaram pelo grupo e se afirmaram depois.

"Gullar já era um poeta de vanguarda antes de entrar no grupo. Então, o Opinião era ruim porque engajado?", questiona.

Um octeto se lançou à frente do grupo quando este foi constituído juridicamente, em 1966, com a estréia de "Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come": Neves, Gullar, Vianinha, Tereza Aragão, Paulo Pontes, Pichin Plá, Armando Costa e Denoy de Oliveira.

Dessa turma, afirma Neves, a maioria tinha uma visão menos utilitária da arte. Não espera o contrário nos dias que correm. "Não há como desligar a arte da vida", afirma o diretor que também enveredou pela dramaturgia.

Seu texto "O Último Carro", metáfora para o país desgovernado daqueles anos 60 e 70, foi gestado no Opinião, mas rejeitado por desviar do realismo esquerdista.

Uma concepção mais popular da arte aproximou o Opinião de artistas de outras áreas, a começar pelo lendário show batizado com o mesmo nome do grupo, em dezembro de 1964. Dele participaram Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão, esta logo depois substituída por Maria Bethânia.

Paralelo ao livro, Neves segue atuando sob poucos holofotes no eixo Rio-São Paulo. Em novembro ele dirigiu uma encenação para conclusão de curso de artes cênicas da Unicamp, com a Cia. das Pessoas, numa extinta pedreira de Campinas.

Trata-se de uma adaptação do romance da escritora alemã Christa Wolf, "Cassandra", revisão do mito grego sob a perspectiva da mulher. A personagem que alertou sobre a Guerra de Tróia, mas não foi ouvida, serve de metáfora para a violência contemporânea. Por sincronicidade, o mesmo texto foi montado em Porto Alegre pela companhia Tribo de Atuadores de Rua Ói Nóis Aqui Traveiz, também defensora dessa arte transformadora.
 

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