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28/12/2002 - 04h57

Livro biografa nossa primeira grande estrela

JOSÉ GERALDO COUTO
da Folha de S.Paulo

Atriz, produtora, empresária e celebridade, Carmen Santos (1904-52) foi a grande figura feminina do cinema brasileiro em sua fase heróica de implantação e consolidação (de 1920 a 1940).

O livro "Carmen Santos - O Cinema dos Anos 20", da pesquisadora Ana Pessoa, não deixa dúvidas quanto ao papel central que essa mulher tão singular exerceu não só no cinema, mas em todo o processo de transformação da cultura e do comportamento vivido pelo Brasil no período.

A trajetória de Carmen é curiosa. Nascida numa província atrasada de Portugal, chegou ao Rio com os pais aos oito anos e acabou se tornando um dos maiores signos de modernidade do país, numa época em que a mulher conquistava espaço no mercado de trabalho, no consumo e na nascente cultura de massas.

Mais estrela do que propriamente atriz, ela se tornou famosa antes de chegar a ser vista nas telas pelo público. Explica-se: os primeiros filmes que protagonizou não chegaram ao circuito comercial (caso de sua estréia aos 15 anos, "Urutau", de William Jansen) ou nem sequer foram completados (casos de "A Carne" e "Mlle. Cinema", de Leo Marten).

Em consequência disso, quando finalmente o público pôde vê-la, em 1930, no papel principal de "Sangue Mineiro", Carmen já era, havia mais de uma década, uma festejada celebridade. Existe algo mais característico da modernidade do que isso?

O sucesso virtual de Carmen Santos deveu-se, como mostra Ana Pessoa, a vários fatores: o casamento com um playboy da alta sociedade carioca, uma atuação sistemática de autopromoção junto aos órgãos da imprensa cinematográfica e mundana da época e, principalmente, a carência popular de estrelas que fizessem as vezes de um "star system".

Mas esse é apenas um dos aspectos do fascínio de Carmen Santos. Havia também o seu lado empreendedor, que a levou a associar-se aos principais cineastas da época (Humberto Mauro e Mario Peixoto), a produzir seus próprios filmes e a montar seu próprio estúdio, a Brasil Vita Films, no espinhoso período de introdução do cinema sonoro.

Seu projeto mais ambicioso, o drama histórico "Inconfidência Mineira", consumiu 12 anos de trabalho (de 1936 a 48). Num caso raro de autoria plena, Carmen escreveu, dirigiu, produziu e estrelou o filme, no papel de Barbara Heliodora. Pena que essa última experiência seja tratada apenas de passagem no livro de Ana Pessoa, que se concentra no período que vai até o início dos anos 30.

Baseada numa rigorosa pesquisa —que incluiu também depoimentos de personagens importantes como Mario Peixoto, Nita Ney e Rui Santos—, a autora soube captar o que a vida de Carmen Santos revela sobre os fundamentos do cinema brasileiro e sobre um período crucial de transformações da nossa sociedade.

Carmen Santos - O Cinema dos Anos 20
Autora: Ana Pessoa
Editora: Aeroplano
Quanto: R$ 20 (191 págs.)
 

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