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28/12/2002 - 05h05

Para Zurlini, o sofrimento é nossa essência

INÁCIO ARAUJO
da Folha de S.Paulo

Valerio Zurlini é possivelmente o diretor de cinema mais triste do mundo. Que isso não desanime, pois, como nos lembra Noel Rosa, saber sofrer é uma arte.

Embora italianos, os protagonistas de "A Moça com a Valise" (Eurochannel, hoje, 22h30, e amanhã, 14h) parecem mergulhados na frase de Noel.

Ou pelo menos isso é o que acontece com Aida (Claudia Cardinale), bela garota seduzida por Marcello. Marcello é aquele que sabe viver: ganha a garota, marca um encontro e desaparece.

Manda em seu lugar o sensível Lorenzo (Jacques Perrin), irmão menor, que imediatamente se apaixona por ela. Não há razão nesse amor: Lorenzo é quase um menino. Mas quem disse que no amor a razão dá as cartas? É como se Lorenzo visse em Aida o seu duplo feminino, alguém destinado à infelicidade e a transformar a própria infelicidade em beleza.

Porque se há uma coisa que não falta a Zurlini é o sentido da beleza. É, nesse sentido, um clássico. Isso vale para cada plano que compõe. Mas vale, sobretudo, para os personagens que coloca em cena. Claudia compõe uma figura patética com sua valise à mão, indefesa, bela como nunca, à espera de um sacripanta.

A felicidade bate à sua porta. Mas quem disse que os infelizes são capazes de percebê-la? Qualquer um na platéia nota que Lorenzo é mais belo, mais interessante, mais profundo que seu irmão. Bastaria Aida ser capaz de olhá-lo para que a melancolia se dissipasse do rosto do rapaz.

Mas será isso possível? Não, a lógica do melodrama não é essa: a felicidade está ali, ao nosso alcance, e não conseguimos percebê-la. E se conseguimos haverá um fator exterior a impedi-la. Em Zurlini, como em Douglas Sirk, o sofrimento é nossa essência. Ele aponta nossos limites, nossas fraquezas, ao mesmo tempo que nos redime pela beleza que os rostos de Claudia e, sobretudo, Jacques, exprimem tão enfaticamente.
 

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