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10/08/2000 - 03h42

Literatura: Psicanalistas trocam pai por irmão

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CASSIANO ELEK MACHADO, da Folha de S.Paulo

Em 1913, Sigmund Freud escreveu no célebre ensaio "Totem e Tabu" que por trás da fundação da civilização estaria um mito, o do assassinato do pai. Submetidos pela força a um pai poderoso, os filhos matam o patriarca e, culpados, colocam a lei no lugar.

Agora é a vez de o pai da psicanálise ser golpeado. Um grupo de psicanalistas pede licença a Freud e lança hoje em São Paulo o livro "Função Fraterna", em que tenta mostrar que "o que falta é que os irmãos, os semelhantes, se reconheçam como instância de fundação do poder".

As aspas são da psicanalista e ensaísta Maria Rita Kehl, organizadora do livro, que conta com textos de outros oito pesquisadores que têm, entre si, "uma relação fraterna dentro da psicanálise".

Kehl conta que a idéia do livro começou a germinar em um debate no Rio de Janeiro, em 1997.

Durante sua exposição, chegou à conclusão de que, neste momento de "crise de instituições, de autoridades e de comportamentos", não precisamos "de mais autoritarismo, mais pai, mais lei". "O que falta é que os irmãos se legitimem", diz a psicanalista.

Não se trata propriamente de um novo assassinato do pai, nem mesmo de uma facada letal em Freud, mas do fortalecimento dos irmãos. "Quem faz o laço social é quem está vivo. O pai morto é uma referência, mas não é o limite do que pode", propõe a autora. "A própria teoria psicanalítica pode se esterilizar se ficar muito apegada a essa idéia de uma dívida com o pai."

"Função Fraterna", o livro, aborda a questão de vários pontos de vista. A obra é dividida em duas partes, posteriores ao prefácio do professor Jurandir Freire Costa e à introdução de Kehl.

Na primeira, os psicanalistas Leandro de Lajonquière, Ana Maria Medeiros da Costa e o trio Ana Elizabeth Cavalcanti, Cármen Cardoso e Paulina Schmidtbauer Rocha tratam do papel da fraternidade nas instituições democráticas, na modernidade, na legitimação da autoridade e mesmo na instituição psicanalítica.

Na segunda parte, está a idéia de que é entre semelhantes também que se produzem novos fatos culturais, tema expresso em ensaios de Luís Cláudio Figueiredo, Joel Birman e da organizadora do livro.

Em "Fratria Órfã", Kehl toma como base a produção dos Racionais MCs, grupo de rap da periferia paulistana, para mostrar a busca cultural da identidade fundada na semelhança.

"O grupo nasce de um local de excluídos, e eles não fazem um apelo de inclusão para as autoridades, para a mídia, para a elite. Procuram o semelhante como se fossem construir a civilização a partir de baixo. Chamo isso de um esforço civilizatório", explica.

A psicanalista frisa que o semelhante sobre quem discorrem os ensaios não é o igual. "A fraternidade não é o lugar da igualdade. É justamente o lugar em que você se depara com o diferente. E é nesse surgimento do semelhante que se completa a tarefa de formação do sujeito."

Livro: Função Fraterna
Organizadora: Maria Rita Kehl
Editora: Relume-Dumará
Quanto: R$ 26 (248 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h30
Onde: livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 0/xx/11/285-4033, Cerqueira César, São Paulo)

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