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06/01/2003 - 04h15

"A política é a mãe de todas as artes" , diz Celso Frateschi

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Comparando-se com seu antecessor na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo -o professor de história Marco Aurélio Garcia, que deixou o cargo na última sexta, para ser assessor do presidente Lula da Silva-, o ator Celso Frateschi, 50, se diz "mais burro e mais prático".

"O Marco tem uma característica maravilhosa, que é uma inteligência, um raciocínio muito bom. Não tenho tanta capacidade de abstração, apesar de ser o artista. Gosto de ver a coisa um pouco mais concretizada", afirma.

Frateschi manteve a equipe formada por Garcia. Falta definir quem o substituirá na direção do Departamento de Teatro da Secretaria, que ocupava desde 2001.

Com os mesmos colaboradores, pretende concretizar uma política "que estabeleça relações de permeabilidade, de diálogo entre o Estado e a produção cultural".

O novo secretário assumiu num endereço também novo e ainda muito improvisado -o prédio do antigo Cine Olido, na avenida São João, centro de São Paulo.

Num gabinete sem telefone ou computador, Frateschi recebeu a Folha para a entrevista a seguir.

Folha - Haverá colaboração entre a Secretaria Municipal, a estadual e o governo federal?
Celso Frateschi
- Vamos buscar uma relação de troca, de reforço mútuo em todas as áreas -patrimônio, teatro, música. [No Departamento de Teatro] Tentei várias vezes o contato com a Secretaria Estadual e com o governo federal, e foi muito difícil essa relação. Tínhamos projetos com a Funarte e com a Secretaria de Estado, que não foram muito adiante. Tirava-se o time de campo.
Aceitei o cargo de secretário porque estou muito entusiasmado com o que o Brasil está vivendo. Estou num momento profissional rico e o estou deixando de lado, porque essa aposta me fascina. Com o governo federal, tenho quase a certeza de que a relação muda radicalmente.
Não conheço a nova secretária de Estado da Cultura [Cláudia Costin]. As referências que tenho são de que é uma bela gerente, uma pessoa extremamente capacitada. Vou tentar uma conversa, para potencializar nossas ações.

Folha - Que ações as duas secretarias poderiam executar juntas?
Frateschi
- Temos projetos comuns, em que "batemos cabeça", como na área central. A revitalização do centro, culturalmente, seria muito marcante para todos.
Essa situação de cada um tentar demarcar o seu espaço é negativa. É uma disputa boba. Se aqui vai ser a Broadway ou não, é bobo frente à necessidade que a cidade tem de ver o centro recuperado.

Folha - O sr. disse que a secretária estadual é uma bela gerente. E o sr. é um artista à frente da Secretaria Municipal. Os dois perfis são condizentes com o cargo?
Frateschi
- Essa visão de que o artista não pode administrar é do século 19. O artista que se enche de ópio, que morre de pneumonia não existe mais, é um artista romântico. Pós-Brecht, que transformou a tradução da sociedade capitalista em arte, existe o artista contemporâneo, que tem consciência do que está fazendo. Os melhores artistas de hoje, os que conseguem me sensibilizar, são aqueles que compreendem que a política é, talvez, a forma mais complexa de arte e a mãe de todas as artes. Porque todas devem convergir para a polis, que é a vida em comum.

Folha - Como o sr. avalia a indicação de Gilberto Gil para o Ministério da Cultura?
Frateschi
- Não cabe a mim avaliar. O governo Lula é uma revolução cultural em si. Gil é um grande artista, com propostas de um governo no qual boto a maior fé. Qualquer coisa seria um pré-julgamento. Lula deixou clara a separação entre a atividade profissional de Gil e sua atividade ministerial. Há aí um quadro que só temos que apoiar e trabalhar junto para que a coisa dê certo.
 

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