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08/01/2003
-
09h00
Especial para a Folha
A programação da TV em 2002 ficou muito aquém do desejo de mudança que empolga o país. Um olhar retrospectivo sugere que fórmulas que vigoraram nas últimas décadas se esgotaram. É o caso da novela.
O folhetim eletrônico dominou enquanto era possível mobilizar a imaginação nacional em torno de dramas com referência histórica e âncora na conjuntura. "O Clone" (Globo) se destacou como "novela de intervenção" no drama das drogas. "Betty, a Feia" (Rede TV!), versão "trash", marca, com precisão quase cômica, o anacronismo do legado.
2002 foi dos "realities shows", formato que pode ser considerado como parente da novela, versão diluída do gênero -novela de atores que representam a si próprios, novela sem autor.
O ano se iniciou sob o signo da disputa entre "Big Brother Brasil" e "Casa dos Artistas" e teve direito a variantes como "Fama" e "Popstars". Houve momentos de repercussão para além do público de milhares de cidadãos participantes em potencial. Nada que justifique o investimento nessas gincanas fúteis regadas a romance forçado e fofoca eliminatória.
Tampouco se justifica a opção da TV Cultura por gêneros nos quais suas concorrentes são mestres. Vale lembrar que os melhores índices de audiência da emissora foram alcançados com programas que se distinguiram pela originalidade.
Seriados enlatados exibidos por canais de TV a cabo ganham alguma preferência, insuficiente para viabilizar o setor endividado.
Há alguns indícios de novidade. Experiências como a de "Os Normais" sugerem que seriados nacionais podem se tornar uma alternativa ao desgaste da novela. O programa de poucos personagens, gravações quase que só em estúdio, feito com tecnologia digital, está calcado, como o seu antecessor, em textos autorais.
O formato, flexível, pode vir a ser uma porta de entrada para a produção independente. Se as emissoras decidirem investir. "Cidade dos Homens" e "A Turma do Gueto" são exemplos sintonizados com a atual diversificação de representações do Brasil.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
Na TV, 2002 foi o ano do "reality show"
ESTHER HAMBURGEREspecial para a Folha
A programação da TV em 2002 ficou muito aquém do desejo de mudança que empolga o país. Um olhar retrospectivo sugere que fórmulas que vigoraram nas últimas décadas se esgotaram. É o caso da novela.
O folhetim eletrônico dominou enquanto era possível mobilizar a imaginação nacional em torno de dramas com referência histórica e âncora na conjuntura. "O Clone" (Globo) se destacou como "novela de intervenção" no drama das drogas. "Betty, a Feia" (Rede TV!), versão "trash", marca, com precisão quase cômica, o anacronismo do legado.
2002 foi dos "realities shows", formato que pode ser considerado como parente da novela, versão diluída do gênero -novela de atores que representam a si próprios, novela sem autor.
O ano se iniciou sob o signo da disputa entre "Big Brother Brasil" e "Casa dos Artistas" e teve direito a variantes como "Fama" e "Popstars". Houve momentos de repercussão para além do público de milhares de cidadãos participantes em potencial. Nada que justifique o investimento nessas gincanas fúteis regadas a romance forçado e fofoca eliminatória.
Tampouco se justifica a opção da TV Cultura por gêneros nos quais suas concorrentes são mestres. Vale lembrar que os melhores índices de audiência da emissora foram alcançados com programas que se distinguiram pela originalidade.
Seriados enlatados exibidos por canais de TV a cabo ganham alguma preferência, insuficiente para viabilizar o setor endividado.
Há alguns indícios de novidade. Experiências como a de "Os Normais" sugerem que seriados nacionais podem se tornar uma alternativa ao desgaste da novela. O programa de poucos personagens, gravações quase que só em estúdio, feito com tecnologia digital, está calcado, como o seu antecessor, em textos autorais.
O formato, flexível, pode vir a ser uma porta de entrada para a produção independente. Se as emissoras decidirem investir. "Cidade dos Homens" e "A Turma do Gueto" são exemplos sintonizados com a atual diversificação de representações do Brasil.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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