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24/01/2003 - 02h30

Brian de Palma fala sobre seu novo filme, "Femme Fatale"

SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S. Paulo

O diretor Brian De Palma é tão talentoso quanto mal-humorado. A primeira qualidade pode ser comprovada em filmes como "Carrie - A Estranha" (1976), "Vestida para Matar" (1980), "Dublê de Corpo" (1984) ou "Os Intocáveis" (1987), em que o norte-americano de 62 anos mistura com sucesso a influência de Alfred Hitchcock (1899-1980) com lampejos de genialidade própria.

A segunda característica se revela em qualquer conversa com jornalistas, como a que teve em dezembro último com a Folha, por telefone, de sua casa em Paris, onde mora hoje em dia a maior parte do tempo. O diretor justifica seu comportamento dizendo que nem sempre os jornalistas, principalmente os dos EUA, o trataram com o respeito que ele acha que merece e que, além de tudo, já está cansado de falar sobre seus filmes.

Mesmo assim, a entrevista foi interessante e teve como tema principal seu mais recente filme, "Femme Fatale", que estreou no final do ano passado nos EUA, ganhou algumas sessões de pré-estréia no Brasil recentemente e abre hoje em circuito nacional.

No thriller erótico, De Palma dá mais uma contribuição ao panteão cinematográfico de loiras frias, calculistas e extremamente sexies ao colocar a ex-modelo Rebecca Romijn-Stamos como uma golpista que trai seus comparsas em Paris, inventa uma nova vida ao fugir para os EUA e volta como uma grande mulher da sociedade, que pode ver seu disfarce ser revelado por uma foto do paparazzo interpretado por Antonio Banderas.

"Minha primeira idéia para o filme foi a da "femme fatale", que vai destruindo os que passam por seu caminho", disse ele à Folha. Leia o resto da conversa abaixo:

Folha - Há muito de "Vestida para Matar" nesse filme. É proposital?
Brian de Palma
- Você acha? Não sei bem como responder a isso, mas alguns pintores pintam de certa maneira, alguns músicos criam dentro de certo estilo, e esse é o meu estilo. É claro que tem alguma coisa a ver com "Vestida" na medida em que fui eu que fiz os dois, sou o ponto em comum deles. E eu tenho estilo. Se você conhece mesmo a minha obra pode reconhecer um filme meu na primeira cena. Isto dito, acho que "Femme" é muito diferente de "Vestida", pois a personagem principal aqui é uma mulher.


Folha - E como surgiu esta personagem?
De Palma
- Minha primeira idéia para o filme foi a da "femme fatale", que vai destruindo os que passam por seu caminho. Tinha a idéia desta personagem, que estava envolvida em um roubo, trai os parceiros e foge com o dinheiro, então tem de se esconder e acaba indo parar em uma cidadezinha, onde pensa estar a salvo. Até que ela resolve roubar a vida de uma sósia sua.

Folha - Nem tudo é o que parece, porém, e o filme mostra ter algo de jungiano, não?
De Palma
- Não sou um estudioso da psicanálise, então prefiro não comentar sobre isso. Há porém muitos sonhos e muita lógica nos sonhos do filme, e eu queria que fosse assim desde o começo, mas é um roteiro feito intuitivamente. Tenho certeza de que Freud e Jung poderiam ficar analisando os significados até o fim da minha vida e da sua, mas eu não vou fazer isso.

Folha - Alfred Hitchcock foi sua primeira inspiração. Você ainda pensa nele quando filma?
De Palma
- Não, já sou um velho cheio de experiências próprias. Tenho mais de 60 anos, nessa idade Hitchcock estava filmando "Os Pássaros". Acho que já desenvolvi meu próprio jeito de pensar e de contar história a essa altura. O universo ainda é mais ou menos o mesmo, suspense, horror, mistério e grandes sequências visuais, mas já não penso nele. Não quando estou filmando, pelo menos.

Folha - Você também se tornou uma grande inspiração para diretores mais jovens, como Quentin Tarantino. Consegue ver sua influência no trabalho deles?
De Palma
- Sim, acho que consigo localizar os que trabalham no mesmo universo que eu, como por exemplo Chris Nolan em "Memento", David Lynch em "Mulholland Drive". Não sei se eles foram exatamente inspirados pelo meu trabalho, mas vejo que eles estão procurando um jeito de contar histórias que foge do convencional, com três atos.

Folha - Todo rapper rico e famoso é obcecado por seu "Scarface" (1983). Alguns chegam mesmo a ter quartos dedicados ao filme. Qual o apelo específico?
De Palma
- O filme fala do que eles observam em suas vidas, nos bairros em que moram, eles conhecem muito bem essa história do auge e da queda de um traficante de drogas. E "Scarface", sendo tão absurdo quanto é, foi baseado em muitas reportagens e pesquisas feitas pelo roteirista, que é o Oliver Stone. Ele passou meses metido nesse mundo e juntou histórias e criou os personagens. Acho que esse é o grande trunfo e é por isso que ele continua tão vivo entre as pessoas que conhecem o mundo das drogas e do crime, como é o caso da maioria dos rappers.

Folha - Voyeurismo e violência são temas recorrentes na sua obra.
De Palma
- Já respondi a esta pergunta milhões de vezes!

Folha - Aposto como é a primeira vez para um brasileiro.
De Palma
- OK, concedo que seu argumento é bom. Tanto o voyeurismo quanto a violência são ótimos no cinema, extremamente cinematográficos. Eis um dos aspectos em que Hitchcock foi pioneiro. A violência só fica tão bem no cinema, é uma série de imagens fortes que provoca emoções intensas, é quase como a definição do que eu faço no cinema. E não há como retratar a violência melhor do que no cinema. Não adianta pintar um quadro sobre isso, compor uma música, fazer uma peça de teatro.

Folha - Seu próximo filme será mesmo adaptação do romance "Toyer", de Gardner McKay?
De Palma
- Sim. Estou trabalhando nisso neste momento, por sinal você está me interrompendo...
 

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