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27/01/2003 - 10h06

Rapper Sabotage propôs integração do samba ao rap

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S. Paulo

Chico Science, Cássia Eller, Sabotage. É preciso que alguém diga aos mais talentosos artistas da nova música brasileira que tomem cuidado, que parem de morrer assim tão cedo.

Postado na trincheira funda do rap, Sabotage era um desses mais talentosos artistas brasileiros jovens. Músico de rua, cumpriu carreira curtíssima, de um disco cheio (o vigoroso "Rap É Compromisso", de 2001) e surpreendentes intervenções na trilha sonora do filme "O Invasor" e no coletivo "Coleção Nacional", do entusiasmado núcleo paulistano de produção Instituto. Os dois últimos saíram em 2002; Sabotage já preparava seu segundo CD.

A trajetória foi crivada de balas no meio da viagem de transição entre o lugar comum dos jovens artistas de periferia (o submundo) e uma possível, futura e utópica invasão criativa na moderna MPB. A utopia não se cumpriu.

Talvez não se cumprisse, mesmo que ele permanecesse vivo. O Brasil ainda não aprendeu a incorporar o rap em sua extensa linguagem musical, em parte pelo próprio hermetismo do quase sempre americanizado gênero.

Os fãs de Sabotage se localizavam principalmente na comunidade adolescente (de várias classes sociais), o que era um dado promissor.

Mais promissor ainda era o papel único que começava a desempenhar dentro do rap aquele rapaz pobre preto de pitós armados no cabelo que era capaz de dançar entre playboys numa festa MTV, radiante de alegria, ao som da loira Debbie Harry.

Na faixa "Dama Tereza", de "Coleção Nacional", Sabotage inventou o que se pode classificar como o primeiro samba-rap brasileiro. Reinventava a roda, uma vez que samba e rap, aqui, são irmãos desde a nascença do segundo. "Dama Teresa" era quebrada como só o rap e suingada como só o samba. E era poesia bruta, de crônica cotidiana terna e violenta entrecortada por inesperadas rimas em "i".

Sabotage e "Dama Tereza" eram, só isso, promissores. Nesse sentido, podiam ser um dos rumos de futuro para o rap e para a MPB. A promessa se descumpriu. Fica a tarefa para artistas que já trabalham em direção parecida, como Rappin" Hood e MV Bill. Fica o germe de reflexão para os homens que deram guarida em sua gravadora para que Sabotage se projetasse, também conhecidos como Racionais MC's.

De volta ao início, é preciso reconhecer que um pedido de cuidado a artistas carentes como Sabotage e seus chapas do "país de Deus" é mera figura de retórica. Seu destino estava menos em suas mãos que nas do Brasil que lhe concedeu samba e hip hop no pé e em seguida o largou no relento.
 

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