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06/02/2003 - 03h30

Grupo Tapa fala da competição entre diretores em "Os Executivos"

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Paris, o museu do Louvre, as salas reservadas dos grandes restaurantes, os melhores vinhos. Esqueça a exceção cultural. Na peça "Os Executivos", homens e mulheres são movidos apenas pela regra número um do capital: a arte de calcular a margem de lucro, como revela um dos personagens logo no primeira cena.

Bastidores da luta pelo poder numa multinacional de armamentos francesa vêm à baila em "Les Directeurs", peça que deu ao autor Daniel Besse, 49, há dois anos, o principal prêmio de dramaturgia em seu país, o Molière.

"Os Executivos", na tradução da atriz Clara Carvalho, ganha primeira montagem brasileira com o Tapa, em temporada que pré-estréia hoje, para convidados, no Espaço Promon, em São Paulo.

"Não é uma peça sobre negócios, mas sobre sentimentos humanos universais", adianta o diretor Eduardo Tolentino, 48.

Cinco diretores, da área de finanças ao marketing, entre eles uma mulher, destilam ódio e ambição sem fim para se sobressair na empresa, a Delta Space, cuja rival norte-americana quer fisgar um contrato de um bilhão de euros com o governo britânico.

Segundo Tolentino, o alto poder de destruição dos equipamentos destinados às guerras é proporcional ao poder de autodestruição dos executivos capitaneados pelo vice-presidente da High-Tech, da qual a Delta Space é filial.

Esse todo-poderoso, tal um deus, atende por Montparnasse (Zécarlos Machado). É ele quem dá as cartas e, por assim dizer, espelha as relações de dominação e alienação social em jogo.

"Por que me impor essa sordidez suplementar?", pergunta-lhe Bercy (Riba Carlovich), seu diretor-geral. "Porque não é suficiente ser sórdido, é preciso que se saiba que é sórdido; por isso é necessário que haja uma testemunha, uma prova. Eu sou sua testemunha", responde Montparnasse.

O chefão é cínico e erudito. Como na cena em que justifica, com ar de filósofo, sua amoralidade ao discorrer sobre enigmas de um quadro intitulado "O Tempo Salvando a Verdade dos Golpes da Inveja e da Discórdia", álibi que fundamenta a impotência do tempo para reabilitar a verdade.

Teatro de idéias

Ao cabo de "Os Executivos", um teatro de idéias, como define a tradutora, a inveja e a discórdia, de fato, destroem a verdade. Não há resquícios para drama de consciência nessa comédia de "humor brutal", como explica Tolentino.

Sob o lema de "seja mau, pense bem", mais um arroto de Montparnasse, entre um vinho e outro, o diretor de contratos Denfert (Hélio Cícero) e a diretora de marketing Grenelle (Chris Couto) seguem a cartilha à risca, ainda que em estilos diferentes.

Denfert é um puxa-tapetes sem escrúpulos, pródigo fofoqueiro, um trator movido a grana e poder, explica Cícero, 48. "Mas não basta cumprir as regras, é preciso ser ainda mais sórdido", diz o ator que, na primeira leitura do texto, achou-o "insuportável", tanta a sujeira que espalha.

Já Grenelle é a antípoda. Segundo a intérprete Chris Couto, 42, num ambiente machista, ela usa a verdade para chegar aonde quer. "Sou muito sensível à perfeição", afirma a personagem que, estratégica, se faz de santa para ascender.

Aliás, todos sonham com espaço na mídia, contraponto que a peça faz por meio da presença de uma jornalista (Waleska Pontes).

O diretor-técnico Châtelet (Norival Rizzo) é o mais calculista, porém dos que mais amargam prejuízo na história. Bradando partidas de golfe, coleção de Cadillacs ou desprezo pelas mulheres, ele atinge o top da arrogância.

"Qual a diferença entre as indústrias de armamento, de cigarro, da comunicação ou dos bancos? Quem mata mais?", questiona Rizzo, 61. "Quem estipula a ética deles é a sociedade, a ética de viver bem e faturar muito."
 

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